Supersônicas

A debutante Izza Beatriz, de 17 anos, exibe seu “Coração de alface”

quinta, 17 de maio de 2018

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Aos tenros 17 anos, a paulista Izza Beatriz poderia estar se esgoelando na aeróbica vocal dos reality shows, pretensamente interessados em revelar novos artistas na mídia de massa. Mas, atualmente radicada nos EUA, ela estréia num álbum pouco maior que um EP (seis músicas), recheado de temas maduros e instigantes. Coração de alface(Sete Sóis/Tratore), direção artística de Flavio Alves, que divide os arranjos com Rovilson Pascoal (guitarra, baixo, violões, lap steel, órgão, percussão), surpreende a partir do tema título de Carlos Careqa (“essa é uma canção para o meu coração de alface/ folhas de dentro meu amor que eu nunca amasse”).

“O mundo dá tantas voltas. A impermanência de tudo e de todos. Izza Beatriz gravou esta música que fiz há algum tempo. Mostrando que nada é eterno. Nada dura pra sempre. O que fica somente é a Arte, a Música”, louvou Careqa, no texto de apresentação do disco.

Foto de Flávia Alves

De Juliano Gauche, a compassada “Dos dois” dilata a faixa etária da cantora adolescente, no réquiem amoroso da letra: “Ela disse eu não agüento mais/ no meio da porta pronta para sair/ um homem vulgar e 25 anos de solidão”. Logo na faixa de abertura, “Algo que valha a pena” (Daniel Groove), a voz doce, mas firme, de Izza singra mais asperezas, pontuada por um reggae melodioso: “você tem tudo que quero/ mas sei que sou danada/ demais pra você/ e eu quero é naufragar no escuro/ do azul do teu olhar no fundo/ e se eu sofrer vou seguindo meu caminho/ só e a dor da despedida vai se misturar no meu suor”.

Mais chegada à balada folk, “Cantiga de não chegar” (Kleber Albuquerque/ Flavio Alves) tem sabor de exílio: “peregrinos companheiros/ a pátria cega a sangrar/ num ódio de assombrar/ sangue no cravo carmim/ saudade peninsular”. A sagaz e precoce Izza encerra o périplo ao reverso, na “Primeira cantiga”, de Fred Martins e Manoel Gomes: “deixa parar, deixa fluir/ deixa que a história vai prosseguir/ até o que virá ser o que já era”.

No texto de apresentação, Kleber ironiza: “Para mim, este verdor todo não me engana. A moça, dá pra ver no encarte, é mesmo jovem e superbonita. Mas a voz, essa voz, sei não. Deve ter no mínimo uns quatrocentos anos”. 


Fonte da imagens: Divulgação (foto de Flávia Alves)

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