170 anos de Joaquim Callado, o Pai do Choro
por Mila Ramos
Nascido no Rio de Janeiro, dia 11 de julho de 1848, Joaquim Antônio da Silva Callado Jr. é conhecido como o nome mais importante para a criação do choro por ter formado o primeiro grupo conhecido do gênero, tendo a formação que serviu de base para todos os grupos de choro surgidos através dos séculos, o Choro do Callado, ou Choro Carioca. Apoiado em um quarteto básico (flauta, cavaquinho e dois violões), os chorões foram muito importantes na divulgação e consolidação da música popular. Seu legado continuou nos sopros de Patápio Silva, Pixinguinha, Benedito Lacerda e Altamiro Carrilho.
Visando recuperar o acervo das obras de artistas como, entre outros, Anacleto de Medeiros, João Salgado, Luiz Brandão, Leandro da Sant´anna e claro, Joaquim Callado, a Petrobras Música apresentou, no ano de 2001, a coletânea PRINCÍPIOS DO CHORO em cinco volumes, cada uma delas com três CDs diferentes, reunindo 215 choros e contando um pouco da memória do principal e mais brasileiro dos gêneros musicais. As interpretações ficam a cargo de Luciana Rabello e de músicos convidados. A produção ficou por conta dos nossos amigos da Biscoito Fino e também da Acari Records.
Não há memória brasileira sem a música, não há música brasileira sem o choro, por isso, em homenagem aos 160 anos de Joaquim Callado, extraímos o texto do encarte do primeiro volume, onde o pioneiro aparece no CD 3 ao lado de Guilherme Cantalice e Duque Estrada Meyer.
Boa leitura!
Fonte da imagem: Capa, Contracapa e CD 3 da coleção PRINCÍPIOS DO CHORO VOLUME 1
| JOAQUIM ANTÔNIO DA SILVA CALLADO JR. | 1848 – 1880
|
Flautista prodigioso, Callado foi o músico mais
popular de seu tempo. Criou o conjunto Choro Carioca, o primeiro com a formação
instrumental básica do choro: flauta, dois violões e cavaquinho. Começou a
estudar música com o pai e aos oito anos de idade teve, durante pouco tempo,
aulas de música com Henrique Alves de Mesquita, antes da viagem do maestro à
França.
Tornou-se profissional desde cedo tocando peças
eruditas e músicas dançantes em bailes e festas familiares. Seus companheiros
de choro foram Silveira, Viriato Figueira, Luizinho, Juca Valle e outros. O
primeiro sucesso de Callado foi a polca Querida por Todos, dedicada
a sua amiga Chiquinha Gonzaga.
Em 1873 Callado apresentou pela primeira vez um
lundu como peça de concerto, intitulado Lundu Característico. A
polca "Cruzes, Minha Prima!", publicada em 1875, também foi um de
seus grandes sucessos, chegando a ser citada pelo romancista Lima Barreto
em Clara dos Anjos: “Os velhos do Rio de Janeiro, ainda hoje se
lembram do famoso Callado e das suas polcas, uma das quais, Cruzes,
Minha Prima!, é uma lembrança emocionante para os cariocas que estão a
roçar pelos setenta”.
Foi professor de flauta do Imperial Conservatório de
Música (cujo prédio hoje abriga o Centro Cultural Hélio Oiticica, no Rio de
Janeiro). Em 1879 recebeu de D. Pedro II a mais alta condecoração do Império: a
Ordem da Rosa, como comendador, junto com os demais professores do
Conservatório.
A obra de Callado, com exceção de poucas músicas
como "Flor Amorosa" (publicada onze dias após a sua morte), é praticamente
desconhecida. No ano de 2000 a gravadora Acari Records lançou o primeiro CD
inteiramente dedicado à obra de Joaquim Callado, porém mais de quarenta músicas
permanecem inéditas.
“Callado foi um flauta de primeira grandeza, e ainda
hoje é lembrado e chorado pelos músicos desta época, pois as suas composições
musicais nunca perdem o sei valor, na sua flauta, quando em bailes, serenatas (que
eram feitas em plena rua pois naquele tempo eram permitidas não havendo
intervenção da polícia). Callado, tornou-se um Deus para todos que tinham a
felicidade de ouvi-lo. [...]
Callado, não era só músico para tocar de primeira
vista, como também para compor qualquer choro de improviso, quantas vezes
achava-se tocando em um baile de casamento, batizado, aniversário ou outra
qualquer reunião e se nesta ocasião qualquer dama ou cavalheiro pedisse para
escrever um choro em homenagem ao festejado, Callado, não dizia que não,
passava a mão em qualquer papel quando não trazia o próprio, riscava a lápis e
zaz! Punha-se a escrever, daí a momento entregava a um chorão presente que
executando-a tornava-se um delírio para todos os convivas pela clareza e linda
inspiração da mesma. Callado, foi o rei da música daquele tempo. (“O Animal”)
1. ENCICLOPÉDIA DA MÚSICA BRASILEIRA: POPULAR, ERUDITA E FOLCLÓRICA. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1998.
2. DINIZ, Edinha. Chiquinha Gonzaga — uma história de vida. Rio de Janeiro: Codecri, 1984.
3. DINIZ, André. Joaquim Callado, o pai dos chorões. Rio de Janeiro, 2002.
4. VASCONCELOS, Ary. A nova música da república velha. Rio de Janeiro, 1985
5. VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira na BelleÉpoque. Rio de Janeiro: Livraria Santana Ltda., 1977.
6. VASCONCELOS, Ary. Raízes da música popular brasileira. Rio de Janeiro: Rio Fundo Editora, 1991.
7. SIQUEIRA, Batista. Três vultos históricos da música brasileira. Rio de Janeiro: Editora D. Araújo, 1970. 8. PINTO, Alexandre Gonçalves. O Choro — reminiscências dos chorões antigos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1978. (p. 11)
Mila Ramos é fascinada por música e foi em seu trabalho com bandas cover em 2012 que encontrou uma nova paixão: o Music Business. Especializou-se em Marketing e Design Digital pela ESPM-RJ e somou seus conhecimentos ao mundo musical como Produtora Artística. Em 2017, entrou para o Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB). Lá chegou ao cargo de Coordenadora de Comunicação e, sob sua gestão, conquistaram o Prêmio Profissionais da Música 2019, e o Programa Aprendiz esteve entre os finalistas de 2021.
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