A música popular na república

“Pelo Telefone”

Músicas do Catete 2

sexta, 21 de julho de 2017

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No texto anterior, o Presidente Hermes da Fonseca era caricaturado na música popular como um azarado. Ter pouca sorte não quer dizer que o homem fosse um ingênuo na política. Hermes elegeu seu vice Venceslau Brás, em 1914. Com 500 mil votos a mais que seu adversário, o problema de Venceslau não vinha dos minguados eleitores da Primeira República, mas sim de uma ferida na perna que nenhum médico dava jeito. Reza a lenda que o presidente resolveu buscar a ajuda dos famosos orixás da baiana Ciata. Curado, Vesceslau ajudou a consolidar na literatura da cultura popular carioca, a imagem mitológica da casa da Tia Ciata, como referência da afrodescendecia. 

E foi justamente na casa da baiana, na Cidade Nova, que surgiu o lendário samba “Pelo telefone”. O nome “samba” existe na literatura desde o século XIX como sinônimo de festa, encontro com comilança, dança e música. O gênero foi resultado de muitas misturas musicais referidas aos ritmos da África e da Europa. Mas foi com os signos da cultura afro que ele ganhou legitimidade na area urbana do Rio de Janeiro. 

O samba carnavalesco “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, composto em 1916 e gravado em 1917, pelo cantor Bahiano, é um marco da ascensão do ritmo como popular e vendável: 


O chefe da folia

Pelo telefone 

manda me avisar 

Que com alegria

Não se questione para se brincar… 


No mesmo carnaval de “Pelo telefone”, o compositor Sinhô, o mais importante nome da primeira leva do samba, cutucava o presidente Venceslau Brás em “São Brás”: 


Sobem a carne e o feijão, 

Desce o brio da nação.

E o povo anda casmurro, 

Pagando imposto pra burro… 


“São Brás”, apelido popular do presidente, se manteve neutro até quando pôde na Primeira Guerra Mundial. Mas em 1917 a sopa acabou, e o país teve de abandonar sua neutralidade e entrar na Primeira Guerra Mundial contra a Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália). Lutamos ao lado dos Estados Unidos e da Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia). O compositor Caninha, membro da primeira geração do samba, em 1919, comemorou a vitória da Tríplice Entente em o “Kaiser em fuga”, celebração cívico-momesca da derrota de Guilherme II, então imperador da Alemanha: 


Monsieur, cadê ele?

O Kaiser já fugiu.

Já sumiu-se pra bem longe, 

Que o inimigo não viu… 


De fato, a ascensão do termo samba na indústria fonográfica carioca fica evidente nos anos subseguentes do sucesso de “Pelo Telefone.” A partir do final dos anos 20, o gênero se distanciaria da influência do maxixe com uma nova instrumentação (surdo, cuíca, tamborim) e uma acentuação rítmica mais africana, através da obra dos compositores do morro de São Carlos, no bairro do Estácio de Sá – no trio elétrico Ismael Silva, Bide e Marçal. Seria esse modelo de samba que navegaria pelas ondas do rádio para as principais praças urbanas do Brasil.  



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