Supersônicas

A estréia tardia de Tatau, discípulo e conterrâneo de João Gilberto

por Tárik de Souza

quinta, 28 de dezembro de 2017

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Nascido na mesma Juazeiro, de João Gilberto, na Bahia, Antonio Carlos Tatau estréia, aos 61 anos, numa vibe de voz-e-violão, bem próxima do Papa da Bossa, mas sem imitá-lo. Seu perfeccionismo (ou falta de pressa) também pode ser comparado ao mestre minimalista. O título do álbum, “A lida dos anos” (Jóia Moderna), já dá uma ideia de seu longo tempo de maturação. A escolha de repertório, arranjos e gravações tomaram de 2014 a 2016. Cinco estúdios foram utilizados: Origem e Brocal, em São Paulo, Festim, 12 por 8 e Apipema, em Salvador.

Produzido e arranjado pelo conterrâneo de Juazeiro, Luisão Pereira (baixo, guitarra, teclados, programações eletrônicas), do duo Dois em Um, seu trabalho ganhou o endosso de expoentes da modernidade como Gustavo (irmão de Tulipa) Ruiz (guitarra), Regis Damasceno (baixo), Zé Manoel (piano) e Joatan Nascimento (trompete e flugelhorn). A rica textura instrumental que realça seu timbre aveludado conta ainda com trompa (Josely Saldanha), mais uma guitarra (Morotó Slim), bateria (Mauro Tahin), percussão (Sebastian Notini) e as cordas de Laís Tavares e Fernanda Monteiro (cellos), Jhonatan dos Santos (viola), Guilherme Teixeira (primeiro violino) e Priscila Magalhães (segundo violino). Tatau navega em compasso lento por canções de amor, entre a elegia (“Minha vida”, com Expedito Almeida), a transitoriedade (“Nas águas de outro amor”, com Théa Lúcia) e a desventura, de “Caminhos” e “Tudo” (outras com Expedito), esta com direito a ponto de exclamação: “O amor levou tudo/  num só minuto/ ainda escuto a porta bater!”.

Um delay ruidoso sintetizado alonga “Para os que se amam”. Algo mais sincopada, “Um e outro” (“brinca de encanto/ debocha do amor/ faz o sangue estancar/ escapa por um triz”), com Mateus Borba, externa uma dualidade de extremos. O ídolo foi apresentado ao discípulo por Euvaldo Macedo Filho, que compôs com ele (e Marcos Roriz) a “Canção pra João”, no estilo confidente e caricioso do homenageado: “um sorriso bem de mansinho/ só pra saudar a estrelinha/ que no céu pintou”.    


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