Supersônicas

“Bebedouro”, o novo disco de Zé Renato, é um manancial estético

por Tárik de Souza

terça, 06 de fevereiro de 2018

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Talento musical multitarefas, o violonista, compositor e cantor capixaba radicado no Rio, Zé Renato, destacou-se, inicialmente, no Cantares, um dos grupos vocais que surgiram após o tropicalismo e o Clube da Esquina. Logo, estaria na crista da onda independente, no grupo seguinte, no começo dos 70, o impactante Boca Livre, ao lado dos ex-Momento 4uatro, David Tygel e Mauricio Maestro, e o então novato Claudio Nucci. O grupo fez enorme sucesso, mas Zé nunca deixou de envolver-se com outros projetos, como a instrumental Banda Zil, e recentemente o ZR Trio (com Tutty Moreno e Rômulo Gomes), e mais Dobrando Carioca, ao lado de Moacyr Luz, Jards Macalé e Guinga.

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Tudo, sem prejuízo de sua trajetória individual, que ganha um novo título, “Bebedouro” (Independente), na seqüência do autoral anterior, “Breves minutos”, de 2011. Lançado nas plataformas digitais via Onerpm, antes da edição física, o álbum, gravado no Estúdio Biscoito Fino, em outubro passado, é múltiplo em parceiros e participantes. Atesta o quanto o artista cristalizou alianças em suas andanças estéticas. Como nas parcerias que abrem (“Fonte de rei”) e fecham o disco (“Pedra do mar”) com o ecumênico Paulo Cesar Pinheiro, e o referencial Nei Lopes, no single que prefaciou o lançamento em dezembro, “Náufrago”: Eu que nunca dantes/ fui navegador/ fiz-me naufragante/ pra morrer de amor”.

“O repertório foi sendo definido a partir da sonoridade que fomos escolhendo. Eu e o produtor Zé Nogueira, e o diretor musical Cristovão Bastos, pensando no violão como fio condutor. Tentei relacionar canções que se adequassem a essa sonoridade imaginada, que tem como principais referências discos que julgamos fundamentais na música brasileira como ‘Limite das águas’, de Edu Lobo, comenta ele.

Não por acaso, um crucial parceiro de Edu, o baiano José Carlos Capinan, assina com Zé Renato o áspero samba ”Agora e sempre” (“que pretérito pode ser perfeito/ quando no peito só há o que se foi?”). Exaltação ao tema com trecho discursivo do co-autor, Moraes Moreira, “Vamos curtir o amor”, não deixa de lado as alfinetadas, na voz aguda do solista: “o amor é irresponsável/ é o veneno da serpente/ tira onda de saudável/ e deixa a gente doente”. Em duas parcerias com Zé, Joyce Moreno fornece a delicada ode ao logradouro original da lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio (“Sacopenapã”) e outro tema mais sombrio (“Noite”), enquanto a voz densa de Dori Caymmi entrecorta “Samba e nada mais”, de Zé e João Cavalcanti, ex-Casuarina. Na parceria funkiada com Moacyr Luz (“Agogô”), que exalta “o suingue carioca”, ZR adiciona o lado festeiro do disco, construído entre canções de amor e cenários ainda pujantes da cidade.


(Crédito da imagem: Zé Nogueira, Cristovão Bastos, Dori Caymmi e Zé Renato em foto de Rodrigo Torrero)



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