Supersônicas

Bebeto Alves, o gaúcho além das fronteiras

quarta, 28 de fevereiro de 2018

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Um dos pilares da música produzida no Rio Grande do Sul, ao lado de Nelson Coelho de Castro, Raul Ellwanger, Humberto Gessinger, Antonio Villeroy, os irmãos Kleiton, Kledir e Vitor Ramil, o múltiplo Bebeto Alves dispara sua Canção contaminada (Independente). A seu lado, o grupo Blackbagual (“um alter ego coletivo que nos mistura, nos aproxima”), formado por Rodrigo Reinheimer (baixo, vocais), Luke Faro (bateria) e Marcelo Corsetti (guitarras).

“O disco nasce da urgência do momento, da urgência da palavra poética, da violência praticada contra nós todo santo dia – da injeção de uma realidade que nos infecta com uma ideia de impotência, indiferença e de imobilidade”, lanceta o texto de apresentação.

Rodrigo Reinheimer, Marcelo Corsett, Luke Faro e iBebeto Alves apresentam novo discoRodrigo Reinheimer, Marcelo Corsett, Luke Faro e Bebeto Alves apresentam novo disco BEBETO ALVES/DIVULGAÇÃO/JC | Fonte da Imagem: Jornal do Comércio 

E num rock acendrado de guitarras roncantes, rolamentos de percussão e baixo calçudo, Bebeto dispara farpas, como no abre alas “O espírito da coisa”: “Não há mais o que não seja/ a violência e seu motor/ uma bofetada exclama/ cale novamente esse cantor”.  Longe do panfleto, sem abrir mão da veia poética, “Águas barrentas” (parceria com A. Bolívar) não deixa por menos: “Que fome das águas barrentas/ que sede dos temporais/ um barco perdido, sem movimento, no balanço do cais/ atravessando o abdômen as garras do tempo/ um vão pelo ralo do umbigo, os retalhos da solidão”. Já a sacudida “Tira mancha” destila sarcasmo: “Vai, vai limpar o dia/ matar os germes da hipocrisia/ vai, puxa a descarga/ manda tudo de ruim por água abaixo”. Há ainda parcerias com Humberto Gessinger (“Outro nada”) e Walter Bordoni (as castelhanas “Bajo la misma ciudad” e “Quimera”).

Bebeto pode ser visto e ouvido de corpo inteiro no DVD “Mais uma canção” (Estação Filmes), estupendo documentário, roteirizado por Márcio Pinheiro, Daniel Dode e os diretores Rene Goya Filho e Alexandre Derlam. A trajetória nômade do astro principal, nascido na fronteiriça cidade gaúcha de Uruguaiana (ao lado da argentina Paso de Los Libres), que morou também em Porto Alegre, Rio e EUA, é enfatizada no filme que – num raro gesto de grandeza – discute os altos e baixos de sua carreira camaleônica, debatidos pelos produtores André Midani, Carlos Alberto Sion, Sergio Carvalho, os músicos Nelson Coelho de Castro, Vitor Ramil e o crítico Juarez Fonseca, entre outros. Bebeto viaja ao Marrocos, Gibraltar, Espanha e Portugal retraçando as origens mouras da canção brasileira que pratica – outra audácia do documentário imperdível.  


Fonte da Imagem: Napster | Capa do álbum "Canção contaminada"

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