Bebeto Alves, o gaúcho além das fronteiras
Um dos pilares da música produzida no Rio Grande do Sul, ao lado de Nelson Coelho de Castro, Raul Ellwanger, Humberto Gessinger, Antonio Villeroy, os irmãos Kleiton, Kledir e Vitor Ramil, o múltiplo Bebeto Alves dispara sua “Canção contaminada” (Independente). A seu lado, o grupo Blackbagual (“um alter ego coletivo que nos mistura, nos aproxima”), formado por Rodrigo Reinheimer (baixo, vocais), Luke Faro (bateria) e Marcelo Corsetti (guitarras).
“O disco nasce da urgência do momento, da urgência da palavra poética, da violência praticada contra nós todo santo dia – da injeção de uma realidade que nos infecta com uma ideia de impotência, indiferença e de imobilidade”, lanceta o texto de apresentação.
Rodrigo Reinheimer, Marcelo Corsett, Luke Faro e Bebeto Alves apresentam novo disco BEBETO ALVES/DIVULGAÇÃO/JC | Fonte da Imagem: Jornal do Comércio
E num rock acendrado de guitarras roncantes, rolamentos de percussão e baixo calçudo, Bebeto dispara farpas, como no abre alas “O espírito da coisa”: “Não há mais o que não seja/ a violência e seu motor/ uma bofetada exclama/ cale novamente esse cantor”. Longe do panfleto, sem abrir mão da veia poética, “Águas barrentas” (parceria com A. Bolívar) não deixa por menos: “Que fome das águas barrentas/ que sede dos temporais/ um barco perdido, sem movimento, no balanço do cais/ atravessando o abdômen as garras do tempo/ um vão pelo ralo do umbigo, os retalhos da solidão”. Já a sacudida “Tira mancha” destila sarcasmo: “Vai, vai limpar o dia/ matar os germes da hipocrisia/ vai, puxa a descarga/ manda tudo de ruim por água abaixo”. Há ainda parcerias com Humberto Gessinger (“Outro nada”) e Walter Bordoni (as castelhanas “Bajo la misma ciudad” e “Quimera”).
Bebeto pode ser visto e ouvido de corpo inteiro no DVD “Mais uma canção” (Estação Filmes), estupendo documentário, roteirizado por Márcio Pinheiro, Daniel Dode e os diretores Rene Goya Filho e Alexandre Derlam. A trajetória nômade do astro principal, nascido na fronteiriça cidade gaúcha de Uruguaiana (ao lado da argentina Paso de Los Libres), que morou também em Porto Alegre, Rio e EUA, é enfatizada no filme que – num raro gesto de grandeza – discute os altos e baixos de sua carreira camaleônica, debatidos pelos produtores André Midani, Carlos Alberto Sion, Sergio Carvalho, os músicos Nelson Coelho de Castro, Vitor Ramil e o crítico Juarez Fonseca, entre outros. Bebeto viaja ao Marrocos, Gibraltar, Espanha e Portugal retraçando as origens mouras da canção brasileira que pratica – outra audácia do documentário imperdível.
Fonte da Imagem: Napster | Capa do álbum "Canção contaminada"
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