Supersônicas

Celso Sim depura o biscoito fino de Batatinha

por Tárik de Souza

quinta, 23 de novembro de 2017

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Uma espécie de Cartola baiano, o gráfico Oscar da Penha, o Batatinha (1924-1997) deixou um legado de sambas refinados e existencialistas. No CD “O amor entrou como um raio” (Circus) o compositor e cantor paulistano Celso Sim repagina 11 pérolas do homenageado, escolhidas a dedo e tratadas com inventivo minimalismo instrumental.


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A gravidade do cello (Filipe Massumi) pontua as faixas, encordoadas por cavaquinho, bandolim, guitarra baiana, viola caipira e violão (Webster Santos), enquanto a percussão (Mauricio Badé) flutua entre zabumba, congas, reco reco, conga, caixa, cuíca, ganzá, efeitos de metal e caixa de fósforos .

“Se eu deixar de sofrer/ como é que vai ser/ pra me acostumar (...)/ sofrer também é merecimento/ cada um tem seu momento”, lanceta “Hora da razão”, (parceria com J. Luna). Quase sempre o carnaval opera como epifania nas letras, de raro rigor, como em “Direito de sambar” (“eu, mascarado, sambando na avenida/ imitando uma vida que só eu posso enfrentar”), “Pra todo efeito” (“se sambar é meu defeito/ queira me perdoar/ é carnaval, não me tire da jogada”) e “Depois eu volto” (“dona tristeza/ dê passagem à alegria/ nem que seja por um dia”). Mas Batatinha também tripula um “Foguete particular” (“nesse trajeto de aventuras/ em desafio à emoção/ eu vi o medo, vi a cor do frio/ e a beleza da escuridão”), divide um “Bolero” com o baiano do Recôncavo, Roque Ferreira (“gastei a ilusão e a pintura/ nessa ribalta de sonhos azuis/ num papel que destrói, mas seduz”) e “Conselheiro”, com o onipresente Paulo Cesar Pinheiro (“abri meu peito por dentro/ o amor entrou como um raio”).  Na bela e recorrente “O circo”, sucesso na voz de Maria Bethânia, uma das maiores propagadoras de Batatinha, o amargor tinge a singeleza: “a minha vida é um circo/ sou acrobata na raça/ só não posso é ser palhaço/ porque eu vivo sem graça”

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