Supersônicas

Diogo Nogueira exercita seu poderio autoral em “Munduê”

por Tárik de Souza

terça, 16 de janeiro de 2018

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Dotado do poderoso timbre vocal herdado do pai, João Nogueira (1941-2000), Diogo Nogueira, a princípio, explorou apenas seus dotes de cantor. Aos poucos, foi colocando no repertório uma e outra composição com sua assinatura, até surpreender na ousada parceria autoral com o bandolinista Hamilton de Holanda no disco “Bossa Negra”, em 2014.

Em “Munduê” (Universal) ele avança mais. Sua autoria, em todas as 14 faixas, é compartilhada com parceiros diversos, a começar por Hamilton, que também encordoa o afro samba título, “Munduê” (mais Bruno Barreto): “troveja a tua voz pra acender/ alumia esse pensar/ pra pesar o que se é/ pingo de nós”. Entre líricas (“Em nome do amor”, “A cada dia”, “Dança do tempo”, “Paixão emoldurada”) e maliciosas (“Maior terapia/ Ela quer beijo na boca”),

Diogo investe no romantismo, a bordo de sambas sortidos quase sempre de alto astral. É primorosa a exaltação da dupla de escolas de samba localizadas em Oswaldo Cruz, “Império e Portela”, parceria repartida com a suprema D. Ivone Lara, Bruno Castro e Ciraninho. No vocal, o portelense Diogo dueta com o imperiano Arlindinho (filho de Arlindo Cruz). A instituição roda de samba é exaltada no partido veloz “Me chama” (com Alessandro Cardoso e Rafael dos Anjos), com direito a roteiro dos principais redutos do batuque carioca. E sobra espaço para uma incursão nordestina, que lembra a clássica “A feira de Caruaru”, de Onildo Almeida, sucesso de Luiz Gonzaga de 1957, em “Mercado popular” (parceria com Leandro Fregonesi), aquinhoada pela sanfona e simpatia de Lucy Alves. O otimismo reina no enredo, mesmo quando a letra reconhece “Tempos difíceis” (outra com Fregonesi), “pra quem sonha com justiça/ pra quem quer dignidade em cada palmo desse chão”.

Emoldurado por arranjos dos veteranos Ivan Paulo e Gilson Peranzetta e os da nova geração Alessandro Cardoso e Rafael dos Anjos, Diogo, em mais um samba de melodia fluente, receita “Coragem” (com Fred Camacho e Leandro Fab): “As pedras não vão impedir/ o destino que Deus reservou/ saber resistir/ é o segredo de um bom vencedor”.

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