Supersônicas

“Evoé!” saúda a estréia eloqüente de Daniel Medina

quarta, 16 de maio de 2018

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Ator e cantautor cearense, que integrou a banda Manilha Mundial e o coletivo multicultural Cadafalso, Daniel Medina aos dez anos de carreira estréia solo no contundente CD “Evoé!” (YBMusic), produzido por Saulo Duarte (baixo, violão, guitarra, piano) e Igor Caracas (percussão), entre signos bíblicos e diatribes contra estes tempos perversos.

Divulgação Daniel Medina (fotografia de Gabriel Ponciano)

“Santa Ceia” reencena o momento seminal, calçado por teclados leves e percussão sortida (bateria, balde, pau-de-chuva, caxixis, atabaques): “Santa seja a ceia da maçã/ toda a natureza/ se deleita, cama, mesa/ sem receita/ serpenteia e dança”. Com o poema “Surrealeza” declamado pelo autor, o ator/cantor Gero Camilo, a convulsiva “Cobra ao contrário”, assolada por intromissões instrumentais disruptivas, também subverte símbolos milenares: “cobra da discórdia, cópia fiel/ provo do teu fruto/ sem cuspir (...) vem, me erra/ luz que não sossega/ enquanto não me cegar”. O mito do homem pássaro alado é ressignificado com sutileza melódica em “Ícarus”: “Quantos viveram por aqui antes de nós/ nossa vida, nossa voz/ contra o silêncio avançam/ (...) eu vou tocar o sol/ do céu vou desabar/ o sol há de queimar/ minh’asa de papel”. Exterminados pelo invasores/colonizadores brancos, os primeiros moradores da terra deixaram suas marcas alistadas na pungente “Lágrima de índio”. Encordoada por Medina ao violão, ela é pincelada pelo clarinete alto de Luca Raele: “Porongabussu, Itaperis/ Tapebas, Cariris/ todos debaixo d’água/ Tabajaras quanta mágoa/ quanto medo em tua cara/ quanta água em tua taba”.

A deglutição das tradições folk pela urbe salta da cantoria sarcástica de “Boi cidade”, envolta em coral/jogral. “A cidade é um boi de reisado/ fitando as cores de seus bordados/ roubando a cena esquartejado/ sob os aplausos/ astro que se sabe morto ao 3º. Ato/ bicho que se presta ao risco/ visto que se atira ao rico/ o melhor pedaço”. Ainda há espaço no disco para o lirismo de “Cancioneta”, adornado por acordeon, vibrafone e piano elétrico de Marcelo Jeneci. Mas, o galope seco de “Anti-herói” (“Desafiar os batalhões no Coliseu/ corpo em cruz/ peregrinar/ pela cidade abandonada/ catedrais ao chão/ silêncio e pó”) e o compassado “Nós ao vivo” concitam a ação: “apesar dos perigos/ destes mortos vivos/ nós ao vivo/ enfrentando tropas/ não me espere/ nos aguarde”


Fonte das imagens: Divulgação (fotografias de Gabriel Ponciano)

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