FREVO, das Origens à Modernidade: A Censura que se Transformou em Arte
Na semana passada vimos como a mistura das influências do dobrado, maxixe, polca e quadrinhas europeias se fez história dando vida a música característica do Frevo, que era constantemente executada por bandas marciais da época. Essas bandas saíam pelas ruas de Recife a soprar em seus instrumentos com toda a força de seus pulmões para serem ouvidos pelos quatro cantos das vielas pernambucanas. Como as questões políticas da época estavam em constante ebulição e rivalidade, as bandas partiam sendo guiadas e protegidas pelos capoeiras, que vinham na linha de frente com seus golpes de luta, disfarçados em passos de danças – pois a capoeira estava proibida de ser manifestada – para intimidar as agremiações rivais ao seu grupo. Estava se formando então o passo característico do Frevo, a sua dança.
A capoeira logo evolui como uma dança característica daquele ritmo que borbulhava no calor do nordeste. Utilizando-se de uma censura para se transformar em arte, a capoeira gingava entre seus passos de guerra até a manifestação artística em si. Um dos símbolos que se caracterizou na criação da dança foi a sombrinha. A sombrinha utilizada para acrobacias – que hoje conhecemos como aquela pequena, de 50 centímetros de diâmetro e colorida pelas cores de seu Estado – na verdade era um instrumento de guerra, no ataque e defesa de seus inimigos. Os primeiros frevistas utilizavam-se de guarda-chuvas que somente possuíam a armação: grande, negro, velho e rasgado. Os anos foram se passando e, não havendo mais a necessidade de ser usado como uma arma, as sombrinhas foram se suavizando e ganhando um tom alegre, acompanhando a evolução da dança.
A vestimenta, de grande importância para conceituar a nova manifestação que se formava, acompanhou as roupas utilizadas pelos escravos libertos, que eram mais desgastadas devido ao uso diário, todas elas feitas de algodão fino. Camisas mais curtas e justas, bem como calças do mesmo material grudadas ao corpo, tudo isso para facilitar o movimento, dando liberdade a expressão corporal. A vestimenta feminina também acompanha o mesmo estilo, podendo ser usada também as minissaias rodadas, que dão maior destaque na hora do movimento. As cores, que se inspiravam nos tons alegres e vivos de PE, tornaram-se típicas da dança folclórica usada pelos dançarinos do gênero, tudo isso através da evolução do Frevo.
A arte da dança frevista ganhou seu tom pela individualidade na exibição dos passos, trazendo a diversidade como foco para se chegar a uma unidade de corpos, que subiam e desciam como um pipocar de pessoas. Assim como os passos da capoeira, o rumo da dança nasceu da improvisação de cada individuo que se expressava. Com o passar dos anos, algumas improvisações foram sendo adotadas como detalhes e movimentos fundamentais para caracterizar o ritmo. Existem, atualmente, um número incontável de passos e evoluções com suas respectivas variantes. Os passos básicos elementares podem ser considerados os seguintes: dobradiça, tesoura, locomotiva, ferrolho, parafuso, pontilhado, ponta de pé e calcanhar, saci-pererê, abanando, caindo-nas-molas e pernada, este último claramente identificável na capoeira. Estava formado o Passo do Frevo!
Na próxima terça-feira, dia 23/10, a série especial do Tema do Mês de Outubro, "Frevo das Origens à Modernidade", estará de volta contando um pouco mais sobre os várias Tipos de Frevos que caracterizam musicalmente a construção sonora dessa manifestação, que é Patrimônio Imaterial da Humanidade.
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