Cultura

Música na alma, na vida e também no colégio

por Luís Pimentel

sexta, 07 de julho de 2017

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Quando um dos mais inspirados fazedores de músicas e de versos, Noel Rosa (1910-1927), escreveu e musicou que “Batuque é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio”, nem imaginava o futuro da escola em nosso país; nem o futuro da música.  

Graças a outro gênio, o maestro brasileiro e cidadão do mundo Heitor Villa Lobos (1887-1959), a nossa música já está, desde 2008, nas salas de aula. Naquele ano foi aprovada a Lei Federal nº 11.769, que torna obrigatória a presença dos cantos, dos ritmos, dos sons e do conhecimento sobre cantores, compositores e instrumentos musicais nas escolas, na grade curricular dos ensinos fundamental e médio.

Isso, pelo menos, no papel. Como não tenho acesso irrestrito aos bancos escolares, pergunto aos queridos professores se a lei vem sendo regiamente cumprida. E faço um apelo, em nome da arte e do bom senso, que façam o possível para que se cumpra. Seguramente, os ouvidos, a mente e o futuro de suas crianças vão agradecer.

Considerado um dos maiores nomes da música erudita brasileira, reconhecido tanto aqui quanto no exterior, Villa Lobos desenvolveu, na década de 1930, um projeto de educação musical nas escolas que se pautava pelo ensino da música e do canto nas escolas públicas (modelo depois usado também no currículo das escolas particulares).   Essa foi uma de suas grandes paixões, e ele passou anos insistindo junto aos governos, até conseguir implantar esse projeto.

Defendo a ideia pioneira do maestro, não só como autor de “As muitas notas da música brasileira” (volume da coleção Comunicação e Diálogo, da Editora Moderna), mas também como amigo da música, do teatro, da literatura e do cinema brasileiros. Não por xenofobia gratuita, mas por reconhecer, graças ao exercício constante como consumidor das artes, que aqui se produz com rara beleza esses produtos de primeiríssima necessidade. Defendo que todas as artes brasileiras sejam vistas, estudadas, analisadas e discutidas nas escolas. Mesmo que “não se aprenda”, como batucou Noel, se apreende; seja para ampliação do conhecimento, para posterior transmissão a outros, ou mesmo pelo simples e saudável deleite.

Meu encantamento com a palavra, que me levou depois a virar escritor, começa pelo viés da música, de seus grandes compositores e intérpretes. Antes de conhecer Drummond, Bandeira, Lobato, Graciliano, Jorge Amado e outros amores artísticos, eu conheci Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Assis Valente, Dorival Caymmi... Portanto, sou fruto da palavra-cantada, antes de conhecer a palavra-escrita.

“As muitas notas da música brasileira”, é uma tentativa de conversar sobre a magia do cancioneiro e sua importância. A música é uma “mania” do homem. Por ela nos apaixonamos e nos deixamos encantar. As notas musicais, quando bem harmonizadas, ajudam as pessoas a relaxar, a se agrupar, a educar os ouvidos. Portanto, a viver melhor. Portanto, bom para todos. Especialmente para quem está em fase de aprendizado.

A palavra “música” vem do grego (??????? ????? - musiké téchne, a arte das musas). Trata-se uma sucessão de sons (e também de silêncios), perfilados para se casarem em nome da beleza. No Brasil, há registros que comprovam a identificação do povo brasileiro com a música desde os primeiros anos do descobrimento. Provavelmente porque, desde então, nossos primeiros habitantes já tiravam sons – das pedras, dos troncos das árvores ou até mesmo das correntezas dos rios.

E continuam tirando sons. E compete a nós, que desses sons tanto nos valemos, “tocar” essa ideia para a frente, trocar esses conhecimentos, fazer a roda rodar.

BOX

Temas para atividades escolares o ano inteiro

Brasileiros – músicos ou não, estudiosos do tema ou não – festejam a arte musical e os nossos artistas diversas vezes durante o ano: 2 de dezembro é o Dia Nacional do Samba, em 23 de abril comemora-se o Dia Nacional do Choro, vozes e instrumentos são sempre requisitados no Natal, no Carnaval, nos festejos juninos e em outras festas. Livros, filmes, shows, peças teatrais e vídeos dedicam-se à música brasileira com grande competência (uma busca rápida na internet comprova). Todas essas datas, bem como nomes de artistas ou de canções que estão na mídia podem render ótimos temas para atividades práticas de redação ou de interpretação sobre o assunto.

Mãos à obra, professores.

por Luís Pimentel 

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