O cabaré estrelado de Edy Star
por Tárik de Souza
Baiano de Juazeiro, como João Gilberto, mas criado em Salvador, Edivaldo Souza, o Edy Star, estreou na música produzido por outro conterrâneo, Raul Seixas, já de sua fase soteropolitana.
No Rio, Raulzito, ex-Os Panteras, tornou-se produtor da antiga CBS e lançou, em 1971, o coletivo “Sociedade da Grã Ordem Kavernista apresenta Sessão das dez”. Além do produtor e Edy, o disco lançava o capixaba Sérgio Sampaio e a paulista Miriam Batucada, numa espécie de cruzamento do “Sgt Pepper’s” dos Beatles com a anarquia de Frank Zappa. O álbum encalhou e o grupo dispersou-se, mas Raul e Sérgio encontraram seus caminhos, e Edy, projetado como figura andrógina em shows de boates e cabarés, foi trabalhar na Espanha, depois de ter gravado um disco na Som Livre, “Sweet Edy”, em 1974, que virou cult.
Ele ressurge agora em “Cabaré Star”, pela Saravá Discos, de Zeca Baleiro, fornecedor do tango “Dezessete vezes”, de que participa ao lado da longeva rainha do rádio, Ângela Maria. Dos antigos parceiros, todos já falecidos, Edy gravou o samba “Você é seu melhor amigo” (Miriam Batucada), o inédito baladão “O que será de nós” (Sérgio Sampaio), além de incluir no rockabilly “O crivo” (Waldir Serrão/ Mauricio Almeida), um trecho de uma entrevista de Raul Seixas, em que ele entrega o apelido anterior do solista (“Edy Bofélia”) e ainda diz que ele “está fazendo o maior sucesso, é fresquíssimo, e assume”.
fonte da imagem: https://glo.bo/2A87AAg
Lançada no disco do programa de TV “Chico & Caetano”, em 1986, “Merda”, samba enredo que tematiza a palavra utilizada para desejar sorte nos camarins, tem fala do autor, Caetano Veloso. Numa montagem “in memoriam”, Edy contracena com Emilio Santiago em “Ave Maria do morro”. E conta com as participações do gaúcho Filipe Catto, em “Perdi o medo”, de Odair José, e de Ney Matogrosso, na reedição do xote “Peba na pimenta” (João do Vale/ José Batista/ Adriano Rivera), com um resfolego de “Je t’aime (moi non plus)” homoerótico. Há ainda dois ótimos rocks, “Eu fiz pior”, do paraibano Lula Cortes e “Rock’nroll é fodaço”, do próprio solista, numa réplica a “A bossa nova é foda”, de Caetano. Surpreendente o arranjo que mistura chula e samba de roda no megaclássico “Procissão”, de Gilberto Gil, que poucos sabiam ter a parceria de Edy Star.
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