Um papo com o Cazes

Os 30 anos do método Escola Moderna do Cavaquinho

terça, 03 de julho de 2018

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Existem fatos que colocam em perspectiva todo um período, um tempo de esforço que, como passou lentamente, dia após dia, precisa desse fato para mostrá-lo numa totalidade. É o caso da formatura nesse semestre do primeiro Bacharel em Cavaquinho na Escola de Música da UFRJ, o ótimo Pedro Cantalice, que me fez lembrar da passagem dos 30 anos de lançamento do método "Escola Moderna do Cavaquinho". Vamos aos fatos.

Comecei a tocar cavaquinho influenciado pelo sucesso dos Novos Baianos e depois de alguma experiência no bloco de Carnaval que tínhamos numa praia perto de Mangaratiba, fui tocar em 1976, com 17 anos de idade no Conjunto Coisas Nossas. Tudo de ouvido e sem nenhuma orientação. Gostava de solar e tentava tirar do disco as músicas de Waldir Azevedo e Paulinho da Viola. Em dezembro de 1979 fui tocar na Camerata Carioca e ali, em contato com Joel Nascimento tive um desenvolvimento técnico, com uma acentuada melhoria de sonoridade e acabamento. Também estudei ritmo e som para poder ler os arranjos do grupo. A partir de 1982 quando casei, incorporei a atividade de dar aulas de cavaquinho e violão para ajudar no orçamento, naqueles anos de economia quebrada no país. Para as aulas de cavaquinho fui selecionando exercícios que colegas me passavam, tirados de métodos de violão, guitarra, bandolim e violino e que tinham dado resultado comigo.

Três anos depois fui convidado a dar aulas na recém-criada Escola Brasileira de Música, que tinha uma linha editorial e me encomendou um método de cavaquinho. Escrevi o trabalho entre maio e agosto de 1986 e o enviei para a avaliação do diretor da Escola. Numa reunião em setembro, ele me disse que eu tinha escrito algo muito sofisticado, que a turma do cavaquinho não lia música e que eu teria que simplificar o método. Ainda tentei argumentar que os cavaquinistas em geral não liam música, mas que iriam ler dali a um tempo. Não adiantou. Sai de lá com a "boneca" do livro debaixo do braço e pensando no que fazer com aquele trabalho. Não conhecia ninguém na área editorial e nunca tinha pensado em escrever um livro. Agora estava pronto, eu tinha me esforçado e queria lançá-lo dignamente.

Alguns dias depois li a notícia da festa de lançamento do "Dicionário de Acordes Cifrados" do Almir Chediak, que eu conhecia por ser vizinho de horário nas aulas de teoria do Ian Guest. Procurei o Almir inicialmente para que ele me pusesse em contato com a editora que tinha lançado seu livro, mas ele me surpreendeu após passar a vista em meu trabalho. Contou-me que estava abrindo uma editora, que ia fazer songbooks e que se eu topasse, o meu livro seria o segundo lançamento da Lumiar, depois dos 2 volumes do livro dele: "Harmonia e Improvisação". Topei na hora, mesmo sabendo que teria que esperar.

Assim, entre outubro de 1986 e junho de 1988, o "Escola Moderna do Cavaquinho" foi revisado à exaustão pelo Almir e por mim, ganhando a forma que tem até hoje. Gravei meu primeiro Lp no início de 1987, mas deixei para lança-lo junto com o livro no ano seguinte, de maneira a obter mais espaço na imprensa, o que de fato ocorreu. 

Finalmente, em junho daquele 1988, dois messes depois de eu ter sido pai de gêmeos, lançamos livro e Lp no Mistura Fina de Ipanema com a presença de muitos músicos. Em poucos meses a Lumiar colocou no mercado 3 edições do Escola Moderna e nos anos seguintes se consolidou como a mais importante editora de livros de música do país.  

O sucesso do livro gerou muitos convites para dar aulas em cursos livres, oficinas, festivais de inverno e verão. Em 2005, no Ano do Brasil na França, dei aulas num fim de semana na Casa do Brasil da Universidade de Paris, onde 11 alunos dos mais diversos países, inclusive um de Madagascar, me esperavam com o "Escola Moderna do Cavaquinho" em mãos. 

Nesse ano de 2018, trinta anos depois, vendo o primeiro bacharel em cavaquinho se formar e tendo o livro chegado na 15º edição, mesmo com tantas cópias xerox e pdfs grátis na rede, anuncio com muita satisfação a coleção "Música Nova para Cavaquinho", contando com 12 Estudos para cavaquinho solo, 1 Suíte-estudo, 10 choros e 2 valsas. Uma espécie de continuação do "Escola Moderna do Cavaquinho". Tenho trabalhado animadamente no projeto que vai incluir livro de partituras, CD e coleção de clipes didáticos. "Escola Moderna do Cavaquinho" segue dando frutos.


Fonte da imagem: Fotografia de Marilia Figueiredo


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