Supersônicas

Paulo Neto desfia seu “Rosário de balas” refinadas

por Tárik de Souza

quinta, 11 de janeiro de 2018

Compartilhar:

Pernambucano de Condado, próximo do Recife, Paulo Neto, rebusca suas raízes após um álbum de estreia repleto de composições alheias (“Dois animais na selva suja da rua”, de 2014, juntava Belchior, Odair José e Taiguara). Não por acaso, ele dedica Rosário de balas (YBMusic/ Circus), inteiramente autoral com algumas parcerias, ao avô, Paulo Silveira (“in memoriam”), “caminhoneiro, poeta e cordelista”. E abre alas num xote quase didático: “ô de casa, tô entrando/ dá licença de chegar/ cheio de saudade no peito/ e trazendo notícias de lá/ coloque a farinha na mesa/ e aquele café pra coar”. O coco “Menino de ninguém” (“na beira de velhas estradas/ pela canção/ o sonho o libertará”) também soa autobiográfico.

Produzido por Rodrigo Campos (violão de aço, cavaco, guitarra) com direção artística de Celso Sim, o disco escala músicos do primeiro escalão da cena paulista contemporânea, como Marcelo Cabral (baixo), Thiago França (sopros), Dustan Gallas (teclados, guitarra), Dante Ozzetti (violão), Lulinha Alencar (acordeon), e ainda tem Zélia Duncan em dueto vocal com ele, no agalopado “Temos todos o mesmo tudo a perder”. O giro estético do disco é diversificado. Do maracatu “Auto da maravilha” à canção sensual “Casa caiada”, o brega sentimental “O que faltou” e o samba “Pra ver o sol raiar”, cevado por cuíca e cavaquinho. “O que vai ser da gente agora?/ Alguém me diga ou responda, minha senhora!”, questiona “Ressabiado”, com apoio de coro: “nossa alegria é cobrada/ pagando pela desgraça/ o nosso povo já não sabe o que fazer”. Acompanhado apenas por rabeca (Thomas Rohrer) e guitarra (Rafa Barreto), a faixa título encerra o disco, crivado de vinhetas à capela, no fio da navalha esperançosa: “as armas são fortes/ mas o amor vence”. 


Comentários

Divulgue seu lançamento