Supersônicas

“Relax”, a enciclopédia pop leve e pesada de Kassin

quinta, 19 de abril de 2018

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Além de exímio produtor (Vanessa da Mata, Los Hermanos, Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso), compositor, multinstrumentista, Alexandre Kassin (ex-Acabou la Tequila e + 2 ao lado de Moreno Veloso e Domenico Lancellotti) é um estudioso das várias fases, climas e timbres da história da música pop. Daí, seu novo disco,Relax(LB 344), funciona como uma antologia de épocas e estilos, e ao mesmo tempo um contraponto ao álbum anterior, de seis anos atrás, o onírico “Sonhando devagar”.

De lugares comuns e incomuns. Há desde a auto-explicativa banalidade, “Something stupid” (“Coisinha estúpida”), que alavancou a carreira de Nancy Sinatra com a ajuda do papai Frank, e no Brasil foi sucesso Jovem Guarda, da dupla Leno e Lilian, que ele regravou com Clarice Falcão, até o gingado Lincoln Olivettiano da faixa título, sob agulhadas de sopro típicas do principal envelopador da MPop do B dos anos 80. Um mestre do sincopado e da ginga como João Donato é reverenciado no sugestivo “O anestesista” (“eu quero meu próprio anestesista/ pra por fim nos dias mortos/ pra uma vida de leveza/ um pouco de gasss”). E o ás do soul Brasil, Hyldon, comparece em pessoa e composição na grudenta “Estrada errada”. Um funk dançante a la Chris Montez viaja na autofágica “Digerido”: “o suco gástrico rasga a pele/ dentro de um estomago escuro/ lembrando os dias de feto no útero”. Rola bolero no apocalíptico romance de “Enquanto desaba o mundo” e há desassossegos na valsa contraritmada “Comprimidos demais” (com Alberto Continentino): “dias de domingo/ são tão deprimentes/ tédio e adultério são complementares”. Ainda mais sarcástico, “Seria o Donut”, é outro tema que trata com leveza musical petardos do dia a dia: “quando a porra toda quebra/ não tem jeito que conserte/só fazer tudo direito/ como tinha que ser feito”. Um acidente de avião evitado é tratado no pop rock com corinho “Momento de clareza”. “Estricnina” ("devemos morrer sem dor/ essa é a nossa sina”) propõe eutanásia numa desencontrada batucada sambista. O disco não acaba neste samba e sim em “Taxidermia”, uma dessa baladas letárgicas com coro em que o locutor de AM derrama em cima os versos tão empalhados sugeridos pelo título.   


Fonte da imagem: Luaka Bop | Divulgação

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