Música

Silvio e Orestes no Café Nice

Capítulo 2 da série especial 110 anos de SILVIO CALDAS

segunda, 14 de maio de 2018

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Celebrado, no último dia 7, os 125 anos de Orestes Barbosa, não poderíamos deixar de mencionar as suas parceiras de sucesso ao lado do nosso artista do mês Silvio Caldas. A história é longa e merece ser bem contada! Para isso, iremos render ao menos este capítulo e mais dois para elaborar a trajetória dos dois astros.

Orestes Barbosa se orgulhava de ter vindo ao mundo na Zona Norte, num chalé da rua Pereira Nunes, naquela época conhecida como Aldeia Campista, hoje bairro de Vila Isabel. Mas foi no badalado Café Nice, no Centro da Cidade, que nasceram suas paródias mais emblemáticas e seus poemas que futuramente, por observação do amigo Antonio Nássara, se tornariam canções relíquias da música popular brasileira. Localização privilegiada na avenida Rio Branco (Centro), de frente para ele estava o Teatro Trianon e o Palace Hotel; estava a alguns passos do estúdio da Odeon e do teatro Phenix; tinha na vizinhança próxima o Cinema Eldorado, Ponto Chic, Rádio Club, O Globo, Galeria Cruzeiro, Hotel Avenida; em poucos minutos se chegava à Lapa, Praça Tiradentes e à Cinelândia. O Nice abria suas portas cedo, às 7h da manhã, fervilhava a tarde para encerrar as atividades à 1h da manhã. Contam que Orestes Barbosa chegava cedo, era figura notável do Café, conversava com todos desprovido de presunção e arrogâncias. Sua mesa vivia cheia. Com ele batia ponto na mesa uma turma fiel formada, dentre muito outros, por Francisco Alves, Nássara, Alberto Ribeiro, Christovam de Alencar, Rubens Soares e ele, o nosso Silvio Caldas.


Formaram-se os grupos no Café Avenida onde se reúnem as estrelas e os satélites da música popular.
(Orestes Barbosa, "Rádio", em A Hora, p. 4, 12/07/1933)


Num desses encontros, Silvio se ofereceu para herdeiro da voz de Francisco Alves. Mas pra contar esse caso é preciso voltar ao ano de 1934, quando chegava ao ar, através da rádio Cajuti, o Programa Francisco Alves. Para os organizadores, Francisco Alves não poderia ser a única voz e, a fim de cativar os ouvintes, decidiram por incluir alguém com personalidade vocal e no repertório. A essa altura, Silvio Caldas estava por experimentar uma nova forma de interpretar, tendo gravado no ano anterior a valsa "Mimi", classificando-se como cantor tanto de sambas quanto de canções românticas. Seu nome se impõe como o "número 2" do Programa pela originalidade da interpretação e pela qualidade do repertório, onde se misturam sambas de Ary Barroso e serenatas de Cândido das Neves e Uriel Lourival, além de marchas, samba-canções e até tangos e fox-trots. Como naquele tempo não havia contrato, todos sabem que seus compromissos profissionais são de risco. Assim sendo, tudo acertado com a equipe do Programa Francisco Alves, Silvio Caldas abandona o projeto após receber a proposta de viajar para a Europa com a companhia teatral do empresário Jardel Jércolis. Precisando de gente nova logo de imediato, o jovem Orlando Silva, na época, ainda na luta em busca de uma oportunidade de ser ouvido, conquista a simpatia de Francisco Alves. Uma resposta e tanto ao cantor fujão.

Em julho de 1934, o Programa Francisco Alves encerrou atividades após desafeto entre Francisco Alves e Orestes Barbosa, atingindo-o profundamente. Ora, vejam só este comentário de Orestes para Avante!: "O Entusiasmo acabou. A música brasileira para mim está perdida. Estou desencantado. Para mim, fracassei...". Apesar disso, sua carreira de poeta da canção não se encerrou nesse momento. Foi aí, então, que Silvio Caldas, de imediato, habilita-se a herdeiro da voz em 'Soluços', aceitando o desafio de suceder Francisco Alves. Silvio Caldas possui personalidade boêmia. Entre os cantores profissionais, quando o assunto é samba, ele é uma sumidade, um dos poucos que conhece de perto, tendo convivido, desde garoto, entre os ases da Mangueira e do Tuiuti, o que explica suas interpretações seguras e espontâneas.

A convivência com Orestes trouxe para ele o benefício da cultura literária, aprendendo a declamar os versos com sentimento, antes de buscar a melhor melodia. Em janeiro de 1935, a parceria entre os dois totaliza cinco canções. O samba 'Sem você', as valsas 'Soluços' e 'Vestidos de Lágrimas' e outras duas valsas gravadas pelo próprio autor: 'Santa dos meus amores' e 'Serenata'. Na realidade, os bons afetos entre eles são anteriores, na primeira parceria com o samba 'Sem Você', registrado por Aurora Miranda, em 1934. A amizade entre eles se estreita, mas a comunhão artística promete ser curta.



Este é o segundo de 5 artigos sobre a vida e carreira de Silvio Caldas, o seresteiro do Brasil, falecido há 20 anos e que neste mês de maio celebra 110 anos de vida, de música, de afamadas canções. No próximo capítulo, traremos em detalhes suas parcerias de maior sucesso ao lado de Orestes Barbosa, entre elas 'Arranha Céu' e 'Quase que eu disse'. Enquanto isso, não perca um capítulo destes incríveis fatos notáveis!

Clique nos links abaixo e navegue por esta série especial:

Capítulo 1 - Silvio Caldas, o Caboclinho Querido!
Capítulo 2 - Silvio e Orestes no Café Nice (lendo agora)
Capítulo 3 - O melhor da parceria entre Silvio Caldas e Orestes Barbosa
Capítulo 4 - De 'Chão de Estrelas' à turnê (em breve)
Capítulo 5 - Músicas Imortais (em breve)

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