Supersônicas

“Todos nós”, o manifesto múltiplo de Carlos Careqa

sexta, 11 de maio de 2018

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Personagem à parte na MPB, pós-vanguarda paulistana, o catarinense Carlos de Souza, o Carlos Careqa, que dirigiu o selo Thanx God Records, de Arrigo Barnabé, segue sua movimentada carreira solo. Desde “Os homens são todos iguais” (1993), o auto explicativo “Não sou filho de ninguém” (2004), e o sarcástico “Pelo público” (2006), ele já lançou tributos ao bardo dissonante americano Tom Waits (“À espera do Tom”, 2008, “Por um pouco de veneno – Um tributo a Tom Waits”, 2015), arranhou o idioma ítalo-brasuca em “Facciamo l’amore” (2016) e soltou o provocador “Palavrão – Música infantil para adultos” (2014).

O novo disco, “Todos nós” (Barbearia Espiritual Discos) trafega por diversos estilos, como a compassada “Um canção de auto ajuda” (“ternura assim pra melhorar teu astral/ meu santo é de barro, empresta o ardor”) e a densa “Mãe não é tudo” (“mas é o começo de tudo/ antes da palavra cantada/ antes do cinema mudo”), parceria com Chico Cesar. Fernanda Takai, do Pato Fu canta um trecho em inglês da bizarra “Karma wall”: “eu sonhei que estava no Japão/ aprendendo uma canção pra cantar no carnaval/ era assim: mamãe eu quero mamar/ e o resto eu esqueci”.

Foto da capa do álbum "Todos Nós"

Dedicada a Itamar Assumpção, a final “Morrer ainda vai ser um bom negócio” enfia o estilete na ferida desta era egocêntrica: “O sucesso a qualquer preço, pago o que posso/ o fracasso me subiu à cabeça, isso eu troço/ tenho mais o que fazer do que posar pra fotografia/ minha cama já arrumei, a fama eu recusei, disse a minha tia”. Ela fecha um percurso de surpresas pop/rock, lapidadas essencialmente com Marcio Nigro (violões, teclados, baixo), Thiago Big Rabello (bateria) e Luiz Guello (percussão). Como “64 (Sessenta e quatro)”, de leve sotaque folk (“o ovo nasceu antes/ e dele o caipira/ fraco e quebrável/ pequeno e solúvel”), o dialético “Da bolacha ao farelo” (“enquanto você faz mil acordes/ pra explicar sua canção/ a minha única intenção/ é repousar meu coração”) e o manifesto “Todos nós”, adornado por violino (Luiz Amato) e viola (Fábio Tagliaferri): “Penso cá com o meu colchão/ quanto maior a cama, maior a solidão (...) fiz da minha tripa um coração”.

Careqa alinhava os conceitos do disco no encarte: “O fim e o começo da canção. Muitos eus dentro de todas as canções que já compus. Chegar até aqui tem sido uma prova de longevidade da canção que há em mim. Canções espicaçadas. Pedaços de canções no meio de uma canção inteira. Meia música. Refrões sobrepostos. Motivos melódicos indicando uma música inteira. (...) Mas a canção me fez refém por uma vida inteira. Me casei com a música. A musa de todas as horas. Difícil analisar o próprio trabalho assim de chofre, mas quero deixar rastros pelo caminho percorrido. Alguém vai escutar”. Somos todos ouvidos. 



Fonte da imagem: Divulgação (Fotografia de Edson Kumasaka)

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