Colunista Convidado

Os vários Jacobs do bandolim de Hamilton de Holanda

quarta, 10 de outubro de 2018

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Em seu centenário de nascimento, o carioca Jacob Pick Bittencourt (1918-1969), o Jacob do Bandolim, ganha estupenda homenagem de seu conterrâneo Hamilton de Holanda (Vasconcelos Neto), nascido em 1976, e outro gênio do mesmo instrumento. É a caixa de quatro CDs “Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim” (Deck).

Criado em Brasília, onde formou com o irmão Fernando Cesar, ao violão de 7 Cordas, o duo Dois de Ouro, Hamilton floresceu no ambiente do choro local, e além de cursar composição na UNB, estudou interpretação com Joel Nascimento, o Joel do Bandolim, discípulo afiado de Jacob. Escolado por uma bolsa de um ano de estudos em Paris, Hamilton, como afirma o mestre cavaquinista Henrique Cazes no texto do encarte da caixa, “aos 20 anos já era um solista maduro, e com os bandolins de 10 cordas construídos para ele por Tércio Ribeiro, sintetizou seu som”. Sua discografia e atividade de palco copiosa não tem se limitado ao choro. Abordou as obras de Chico Buarque (“Samba de Chico”, 2016), Milton Nascimento (“Casa de Bituca”, 2017), Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal (“Gismonti Pascoal”, 2011), este em duo com o pianista André Mehmari, seu parceiro também em “Contínua amizade” (2007). O violonista Marco Pereira dividiu com ele “Luz das cordas” (2000), o bandolinista americano Mike Marshall, “Novas palavras” (2006), e, ao lado do cantor Diogo Nogueira, ele perpetrou o autoral “Bossa negra” (2014). 

O quarteto de CDs alterna temas e formações instrumentais. Em “Jacob 10zz” pontifica o agilíssimo trio formado pelo bandolim de 10 de Hamilton, o baixo do gaúcho Guto Wirtti e a percussão do carioca Thiago da Serrinha. Do rendilhado de “Pérolas” aos breques e retomadas de “Remelexo”, a eloquência de “Alvorada”, o agalopado de “Forró de gala” e os auto explicativos temas “Remelexo”, “Nostalgia”, “Saracoteando”, “Mágoas” o disco permite ao trio exercitar todo tipo de diálogo. É bola de pé em pé, sem deixar cair, com direito a uma releitura da homenagem do filho de Jacob, o jornalista e compositor Sérgio Bittencourt, ao pai (“Naquela mesa”) e uma composição de Hamilton, que exalta o bairro onde o homenageado mantinha seu bunker cultural (“Serenata Jacarepaguá”). Centrado na percussão propositiva de Thiago da Serrinha e Luiz Augusto, “Jacob Black” - que além de Hamilton, tem o violão de Rafael dos Anjos - aposta numa leitura mais afro de composições do celebrado. São os casos da cenográfica “O bandolim na escola”, aberta por estridente cuíca, das valsas “Feia (Pertinho do céu)” e “De coração a coração”, picotadas pela percussão, e dos irresistíveis dribles de “A ginga do Mané”, “Bola preta” e “Biruta”. São delicados os contrapontos de violão e bandolim de “Primas e bordões” e “Sereno”. A faixa título, “Jacob Black”, outra de Hamilton, embrenha-se nos contraritmos. 

“Jacob bossa” abre muito espaço para improvisos e dissonâncias como promete o título e logo a primeira faixa, “Gostosinho”, e mais adiante, o diálogo jazzificado de “Diabinho maluco”. O trio central desta vez é formado por Hamilton, Guto Wirtti e Marcelo Caldi, que amplia o leque de timbres, revezando-se ao piano e acordeon. Outros destaques: a solerte “Tatibitati”, a aveludada “Carícia”, com intromissão do trompete de Aquiles Moraes, e a lírica “Evocação de Jacob”, do raro citarista de choro Avena de Castro. Há ainda a derramada canção “Jamais”, com letra de Luiz Bittencourt na voz do próprio Hamilton, desvelada para o grande público por Elizeth Cardoso no célebre show que realizou com Jacob, Zimbo Trio e o Época de Ouro, no teatro João Caetano em 1968. O quarto CD, “Jacob baby”, traz epiteliais solos de Hamilton ao bandolim, cavaquinho e o instrumento grego bozouki, que acentuam o estilo “caixinha de música” direcionado (embora sem limitações) a uma platéia infantil. Das escandidas “Doce de coco” e “Noites cariocas” a um “Vôo da mosca” em câmara lenta, e a espanholada “Santa Morena”, a música do compositor mais regravada nos últimos tempos. É estimulante acompanhar as quatro versões de “Assanhado” que Hamilton espalhou pela caixa, cada uma adaptada ao clima do disco em que está inserida. (Tárik de Souza)


Fonte da Imagem: foto divulgação.


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