MPB de A a Z

Billy Blanco, um olho nas cordas e outro nas ruas

sexta, 15 de novembro de 2019

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Diz um samba memorável do grande mestre da música brasileira que teria feito 95 anos neste 2019, ano em que o Brasil chafurda tristemente num poço de vaidades e de arrogâncias:  "A vaidade é assim: põe o homem no alto e retira a escada/Fica por perto, esperando sentada/Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão".

Com sua batida de violão própria, melodia delicada, e letras que flertavam com a crônica de costumes, Billy Blanco (William Blanco de Abrunhosa Trindade, Belém do Pará, 1924) foi considerado por estudiosos o precursor da bossa nova (claro que não foi sozinho; nesta linha de raciocínio, contemporâneos seus como o Geraldo Pereira de “Bolinha de papel” deram contribuições também marcantes).

Billy Blanco compôs e marcou presença na MPB por seis décadas. Desde a segunda metade do século passado que ele vem municiando intérpretes com sambas deliciosos, criados sozinhos ou em parceria com pesos pesados como Baden Powell e Tom Jobim. Também gravou discos cantando, e o último foi poucos anos antes de nos deixar, em 2011. 

A escrita de Billy era cheia de personagens comuns do imaginário carioca, como o bon vivant que era o típico “falso malandro de Copacabana”, que “o mais que consegue é um vintão por semana/que a mana do peito jamais lhe negou” (“Mocinho bonito”, gravação histórica de Doris Monteiro); o chamado à atenção pelo respeito nos “Estatutos da gafieira”, que o caricaturista do samba Jorge Veiga eternizou; ou o boçalão que “não fala com pobre, não dá mão a preto nem carrega embrulho”, de “A banca do distinto”, uma obra prima.

Nesse caminho livre de compor com um olho nas cordas e outro nas ruas, retratando a paisagem urbana e os personagens do dia a dia – estilo no qual Noel Rosa foi mestre soberano – Billy Blanco nadou de braçadas, com impressionante desenvoltura. Arquiteto de formação, com pós-graduação ampliada na engenharia da vida, gravou, além de tantos sucessos, o seu nome na galeira dos grandes do nosso cancioneiro.

Eterno Billy.

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