Além da Frequência

Nara Leão, uma mulher de revolução

quarta, 19 de janeiro de 2022

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Musicista que revolucionou a música brasileira, Nara Leão (1942 - 1989) é sinônimo de revolução por onde passou, cantou, e encantou. Hoje a cantora completaria 80 anos, e sua interação pelos mais diferentes movimentos musicais do país foi responsável por trazer à tona a manifestação popular para os ouvidos dos brasileiros! 

Nascida em Vitória em 1942 e crescendo no Rio de Janeiro, a artista logo iniciou no caminho da música, quando ganhou seu primeiro violão aos 10 anos de idade, relação esta que não demorou para apresentar seus frutos.

As reconhecidas reuniões de jovens artistas então começam a acontecer no apartamento de Nara em Copacabana aos seus 14 anos, que acompanhada de nomes como de Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Tom Jobim e João Gilberto, pode presenciar músicas que mais tarde viriam a se tornar um marco de um movimento que ali se iniciava. Assim, diante da praia de Copacabana a Bossa Nova foi criando forma, o encanto pela vivência do meio musical soou como um chamado para a jovem artista que a partir disso iniciou sua trajetória.

Foto Reprodução/Imagem da Internet

Apesar de sua timidez, sua presença nos palcos foi inevitável, Nara quebrou padrões impostos às mulheres, esteve onde quis, e, após seu primeiro show em 1959, foi conquistando o público por onde passou, aqui a Bossa Nova aqui era o grande sucesso no país e no mundo!

Nara se relacionou com Ronaldo Bôscoli, artista diretamente ligado a todo o movimento da Bossa Nova, e o término levou a artista a explorar outras manifestações populares que existiam dentro do Rio de Janeiro, começando assim seu diálogo com a música do morro, onde pode ter uma experiência com nomes como Cartola, Zé Keti, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola e outros artistas periféricos.

A artista então se mostrou como ponte, pois aproximou dois universos que até então não se relacionavam, já que a Bossa Nova se teve como um ritmo da elite, e em nada retratou a experiência vivida no morro. Esse contato com as questões sociais que a cercava foi o espaço que despertou sua consciência política, e não mais esta queria ser definida apenas por um ritmo, Nara se via múltipla em sua voz, não se dividia, era uma.

Toda essa movimentação cultural era reflexo de um Brasil, que até o início dos anos de 1960, era próspero, até que, a ruptura democrática do golpe militar de 1964 colocou em cheque toda a liberdade de manifestação que aqui existia.

Subversiva em alto grau, foi no contexto da ditadura militar que Nara apresentou o espetáculo chamado “Opinião”, que acompanhada dos músicos Zé Keti e João do Vale (mais tarde Maria Bethânia foi indicada para substituir Nara Leão), intercalavam canções que revelaram a problemática social do país de forma direta, em um evidente protesto contra o regime ditatorial.

Nara Leão, Zé Keti e João do Vale (à dir.) durante ensaio do show "Opinião" / Reprodução

Em meio a um canto de liberdade, os ideais de Nara de forma natural a levou ao movimento artístico que existia por volta de 1966, um caminho que proporcionou o encontro com Chico Buarque, resultando na premiada canção “A banda”, que os consagrou internacionalmente após vencer o Festival de Música Popular Brasileira, rendendo uma parceria de diversas apresentações. A esse ponto Nara iniciou seu namoro com o cineasta do Cinema Novo, Cacá Diegues.

Nara seguiu como uma transeunte dos movimentos musicais brasileiros, e não teria como ser diferente com ao gravar algumas canções da Jovem Guarda e do Tropicalismo, o que foi alvo de críticas pelo impasse das manifestações em um momento decisivo de embate em razão da ditadura que se prolongava no país.

Ainda que não participasse de forma direta, o forte apelo político-social da Tropicália foi de encontro com Nara, que participou do disco “Panis Et Circencis” ao cantar “Lindonéia”.

Ao lado de seu companheiro Cacá Diegues, Nara se muda para Paris em 1970, momento em que tem sua primeira filha, Isabel, e onde não deixou de gravar e interagir com a arte que a rodeava. Dois anos após, retornam ao Brasil, que é quando Nara tem seu segundo filho.

Pelos anos que se passaram, Nara voltou a se apresentar, interagindo com diferentes atmosferas sonoras, como sua turnê ao lado de Dominguinhos em 1978, outros trabalhos retomando sua parceria com Chico Buarque, além de apoiar o início de carreira de Fagner!

No decorrer de sua carreira, Nara somou mais de 20 discos que refletiu cada momento vivido ao longo de sua carreira, com o mesmo canto manso para transmitir todo o encanto que encontrava na música, e, sua breve passagem foi capaz de promover uma sensível mudança por onde passou.

As várias faces de um só trabalho de Nara Leão romperam preconceitos na música e no comportamento, seja ao abrir caminhos para as mulheres de sua geração dentro da música em um meio tão machista, ou na questão política pelo seu forte embate e visão para as pessoas, as vidas.

Sua obra é sobre resgate, que enalteceu a cultura brasileira ao trazer para frente de seu trabalho a riqueza da expressão popular do país, interagindo com os mais diversos campos da manifestação popular, pelos seus grandes olhos que mirou para o mundo.

Nara Leão é atual, múltipla e única!


“Sua voz, quando ela canta, 
me lembra um pássaro
mas não um pássaro cantando,
lembra um pássaro voando” 
Ferreira Gullar


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