Almanaque do Rock Brasileiro

Fullgás: Uma gata chamada Marina

quarta, 29 de junho de 2022

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Marina Lima ou Marina, como você preferir, é aquele caso de artista que não se sabe bem onde pode ser enquadrado. Muita gente garante que ela é MPB, porém outras pessoas dizem que ela é rock, mas eu tenho uma opinião um pouco mais complexa.

Ela foi responsável pela identidade da MPB nos anos 80. A gata foi responsável por transitar entre os estilos com sucesso. Mas isso não é uma grande surpresa, pois enquanto os expoentes da Música Popular já chegavam na casa dos quarenta anos na década de 80, Marina ainda estava no auge de seus vinte e poucos anos. E de certa forma, querendo ou não, talvez possa ter sido uma ponte para outros expoentes, enfim, mergulharem no estilo que virou o jogo e a indústria.

"Fullgás" não é o álbum mais roqueiro, mas com certeza é o que marca essa ruptura com a MPB mais tradicional e a ida para um som mais contemporâneo. O tanque estava cheio e Marina tinha muita lenha para queimar.


Prólogo

Antes de 1982, Marina já apresentava uma carreira consolidada e bem MPB, com músicas atemporais, que nos remetem a uma nostalgia, para alguns, e saudade do que não viveu, para outros. Para tirar a prova, ouça as músicas “Transas de amor”, “Só você” (não é um cover do Fábio Jr), “Charme do Mundo” e “É a vida que diz”.

Todas essas canções parecem que já nasceram para tocar no rádio, Shopping, Restaurante ou qualquer local social, são músicas que soam bem, por isso, fazem parte da música popular, embora umas mais bem sucedidas que outras.

Porém, isso se perde um pouco no álbum “Desta vida, desta arte” de 1982, quando o rock começa a entrar sutilmente em seu repertório, em especial na regravação de “Noite e dia”, de Júlio Barroso.

Mas esse começo seria um sinal para abandonar a “música ambiente” feita até então e alçar outros voos. A resposta é sim e não!


Fullgás: Uma mudança mais nem tanto

Este trabalho não foi o mais roqueiro da carreira de Marina, nem uma mudança de direção muito brusca. A diferença é que se “Charme do Mundo” poderia tocar em restaurantes chiques e locais da alta sociedade, a faixa título "Fullgás", poderia tocar nas academias e até mesmo em um ou outro baile da periferia, dependendo do DJ.

Mas essa canção tem algo de especial. Em 1984, haviam os movimentos pelas 'Diretas Já', muitos artistas se posicionavam a respeito cantando sobre o assunto e a música título tinha tudo para ser, sim, um hino deste momento.

Eu não vou destrinchar a letra, mas veja “Você me abre seus braços/E a gente faz um país”, já pode ser um grande sinal, assim como a letra como um todo é muito bem construída e fala mais sobre o tema como se fosse uma canção de amor. No entanto, isso tudo é apenas uma questão de interpretação e vamos lembrar que ainda existia a censura, nada poderia ser tão às claras.

Por falar em interpretação, uma que chama a atenção é de “Mesmo que seja eu", gravada originalmente por Erasmo Carlos, que ganhou um novo sentido nesta versão, sendo até mesmo empoderada.

Ouvir aquela gata cantando “Me Chama”, fez muita gente pensar em quem seria o desalmado que a deixaria esperando. 

Brincadeiras à parte, talvez a música de Lobão seja um complemento de “Noite e dia”, ambas eram executadas juntas no disco ao vivo “Todas”. E uma música perdida que vale muito a pena é “Mais uma vez” de Lulu Santos e Nelson Motta, uma canção intensa que de certa forma se relaciona com a faixa título “Fullgás”, musicalmente falando.

E o encerramento com “Nosso Estilo” só prova a aderência da “Musa da MPB” pelo rock, mais especificamente pela New Wave.

Fullgás” não mata o som ambiente e agradável de Marina, consegue renová-lo. 

Esse é um álbum para ser ouvido no carro, na festa, e onde mais se desejar.

Esse não é o disco mais roqueiro, mas é um salto para a fase mais popular da carreira de Marina.


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