Escambo Sonoro

São Paulo • Brasil - César Camargo Mariano (1977)

quinta, 29 de setembro de 2022

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Feito com extremo bom gosto, o super animado Metrópole dá início ao disco. O baixo de Wilson Gomes (baixista de Elis Regina em "Falso Brilhante") conduz e faz transformar o tema em uma paisagem lânguida e amena. O retorno ao tema principal reconduz a energia do início da música.

A introdução do segundo tema mostra a literatura erudita de César Camargo Mariano, um dos maiores pianistas do Brasil e do mundo. O uso do pedal de sustentação nos remete aos estudos de Chopin. Seu desenvolvimento é igualmente interessante ao do primeiro tema, principalmente em relação aos timbres escolhidos. A Estação do Norte é parada garantida em "São Paulo - Brasil".

A Fábrica criada por César tem um quê de Watermelon Man declarado. O Herbie Hancock brasileiro elabora um ostinato rítmico que se mantém ao longo da música onde os outros instrumentos, aos poucos, se sobrepõem. As mudanças de compasso são feitas de maneira sutil junto ao ostinato, ora aparecendo, ora sumindo até o encerramento da música.

Um dos temas mais soturnos do disco, Poluição se desenvolve de maneira tranquila e com diferentes efeitos sonoros. As cordas se apresentam pela primeira vez dando um charme especial ao som. Atenção à convenção que encerra o tema, os acordes são bem diferentes do que até então ouvíamos durante a música.

Pela primeira vez, ouvimos um violão com cordas de aço e uma voz dobrando a melodia executada pelo instrumento. Os acentos e a polirritmia produzida são, no mínimo, instigantes. Ecos são usados como parte integrante do tema, o que dá uma característica sem igual ao som, assim como todos os Imigrantes conhecidos por nós.

Novamente, o violão aparece, mas dessa vez acompanhado de uma viola de dez cordas. Juntos, os instrumentos criam uma atmosfera campesina nos levando de Metrô por diferentes paisagens que vão de Almir Sater a David Gilmour, passando por vocais do "Clube da Esquina". Tudo isso sem parar em nenhuma estação!

A bossa-nova Litoral é bastante curiosa, principalmente pela mudança repentina de atmosfera. O riff transformador, que faz lembrar algum rock progressivo da mesma época, é intercalado com a levada brazuca do início da música, surpreendendo o ouvinte por várias vezes. Os créditos aqui vão para Dudu Portes (baterista do "Fino da Bossa").

Em Futebol de Bar, César parece estar super à vontade e apresenta todo seu repertório pianístico de uma só vez: condução impecável, frases expressivas, levadas à bossa-nova e técnica erudita. César parece estar envolvido por duas grandes paixões brasileiras quando executa o tema.

De maneira geral, as mudanças repentinas chamam muita  atenção ao longo do disco. Sem avisar ou sem uma condução que provoque nossa escuta, os temas assumem direções variadas e levam o ouvinte a lugares inesperados e igualmente surpreendentes. 


Ficha Técnica:
César Camargo Mariano: Teclados, Voz, Percussão 
Natan Marques: Guitarra, Violão, Voz 
Crispim Del Cistia: Guitarra, Violão, Teclados, Voz 
Wilson Gomes: Baixo 
Dudu Portes: Bateria, Percussão 
Coordenação Musical e Arranjos: César Camargo Mariano


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