“Cutuca meu peito incutucável” aprofunda a imersão nordestina de Túlio Borges

Projetado no cenário da MPB, em 2010, com um disco de concepção refinada, “Eu venho vagando no ar”, Túlio Borges, de Brasília, teve sua singularidade reconhecida. O álbum seguinte, “Batente de pau de casarão”, “fruto da admiração pelos cantadores e poetas nordestinos”, foi dedicado à cidade pernambucana de São José do Egito, terra de seu pai. No novo álbum, “Cutuca meu peito incutucável” (Independente), ele aprofunda a imersão nordestina, numa trilogia que finalizará este ano.

Ressurge escoltado por parceiros, que fizeram letras para suas músicas, como Climério Ferreira (“Vem não”, de quem selecionou também a pungente “Cantiga”, parceria dele com Clésio Ferreira) e Ana Reis (“Concreto, amor e canção”, que divide os vocais da faixa). No caso do agudo xote, “Ela levantou os braços e eu morri de amores”, com Afonso Gadelha, inverte-se a equação. A letra provocadora é de Túlio: "ah, que vontade me deu/ de dar um beijo bem dado/ no teu sovaco raspado/ desodorado e gostoso”. Com Jessier Quirino, ele escreveu o encrespado “Enxerida no contexto” (“Oh, menina me responda/ ligeiro sem engoiar/ se eu, de fósforo aceso/ tua pólvora encostar”). O coco saltita, pincelado por incisiva flauta de Carlos Malta, com declamação de Túlio de trecho do poema “Maria, pano de chão”, cuja impactante ilustração de Tina Berning cintila na outra face do encarte. Lavrado no universo da paixão, o disco tem ainda outra de Borges e Quirino, “Contracachimbo da paz”, com desenho do acordeon de Junior Ferreira e o xaxado “Grandes olhos”, de Aldo Justo e Alexandre Marino, integrantes do grupo brasiliense Liga Tripa. Bordado pelo bandolim de Victor Angeleas, o xote “Curvas”, de Zeto contextualiza: “Esse rio que passa no meu coração/ navega pra minha vontade/ uma viola junto da mão”.