Supersônicas

“Vinha da ida”, de Lívia Mattos

por Tárik de Souza

terça, 19 de dezembro de 2017

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Conhecida como “a sanfoneira de Chico César” por sua exuberância no palco nos shows do paraibano, a baiana Lívia Mattos surpreende na estréia bem urdida, a partir do título,Vinha da ida (Natura Musical). Não por acaso. Seu trabalho autoral já havia circulado em festivais como Akorden Wien, na Áustria, Accordions Around the World, em Nova Iorque, como solista convidada da Orquestra Sinfônica da Bahia e participante selecionada pelo programa OneBeat, nos EUA.

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Não é disco de sanfoneira nordestina, já se nota no modulado xote “Deixa passar” (“tem que ter paciência de pescador/ quando o que bole/ bole no tacho do coração”). Sua utilização virtuose do instrumento vadeia entre marcha rancho (“Sob o céu sobre o chão”, com citação de “Alguém me avisou”, de D. Ivone Lara e “Sabia pouco do sal”, com violoncelo de Filipe Massumi, piano e voz de Zé Manoel) e o valseio circense (“Melodia-a-dia”). E pode visitar até o carimbó/lambada, como em “Mais eu”, parceria com o guitarrista Jurandir Santana, que fez a direção das faixas com músicos da Bahia. Ou derramar-se em lirismo, na homenagem à avó, “Os olhos de Tereza”, com endosso de outro acordeon virtuose, o paulista Toninho Ferragutti. Em “Amarear” (“peço pro mundo dar uma volta/ e parar bem pertinho do mar”), ela retorna ao xote, em companhia vocal de Chico Cesar, marcação de tuba, bombardino e percussão incrementada por duas zabumbas, cajon, afoxé, queixada, surdo virado, pandeiro, darbuka, cuíca e SPD30. A picotada “Vinha da ida”, pavimentada pelos atabaques rum, pi e lê, do candomblé baiano, atesta o pulso poético da novata: “Quero meus nós/ deixo a ferida aberta/ sem curativo/ tranca por dentro a boca/ bate sem voz”. 


Fonte da Imagem: https://goo.gl/3DVrW2 

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