Flores em Vida

100 anos de Nelson Sargento em sinfonia imortal

terça, 25 de julho de 2023

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Sambista celebraria 99 anos no dia 25 de julho e a contagem regressiva para seus 100 anos começa com lançamento de single, shows, exposição e publicação de e-book de partituras

Um dos baluartes da Velha Guarda da Mangueira, o cantor, compositor, ator, pesquisador e artista plástico, Nelson Sargento, faleceu em 2021, aos 96 anos, por complicações da COVID-19. Entretanto, o "filósofo do samba", autor de músicas como "Agoniza Mas Não Morre" e "Falso Amor Sincero", continua com a obra em produção: seu parceiro musical mais constante, o cantor e compositor, Agenor de Oliveira, prepara disco com obras inéditas da dupla e o pontapé inicial é o lançamento do single "Valsa para Eternidade", no dia 25 de julho, terça-feira, data de nascimento de um dos principais nomes da cultura carioca e nacional.

Crédito: Camilo Bousquat Árabe

"Todas essas gravações começaram um pouco antes do início da pandemia, que chegou e exigiu todo cuidado. Foi um processo delicado e fizemos todos os nossos esforços para aproveitar a voz do Nelson em algumas faixas e manter suas concepções artísticas e musicais", conta Agenor, que recorda: "Nos conhecemos em um aniversário do Guilherme de Brito e, logo depois, ele me mandou uma primeira por fax. Nelson sempre projetou seu centenário em vida, mas acabou indo antes do combinado, infelizmente. Assim, nossa ideia é um conjunto de ações e homenagens em torno dos seus 100 anos. Queremos mostrar a amplitude e profundidade que Nelson traz em suas obras", completa Agenor, com um baú com cerca de 40 músicas inéditas da dupla. Entre elas, "Valsa para Eternidade", que chega como single às plataformas digitais em uma interpretação luxuosa da cantora e atriz Soraya Ravenle, também produtora musical da faixa: 

"A história dessa Valsa vem sobre o desejo de dar flores em vida ao Nelson. Nos conhecemos graças ao convite do grupo Galo Preto para fazer um projeto sobre a obra do outro Nelson, Cavaquinho. Que experiência fantástica que foi! Além do compositor, pintor, artista referência do samba brasileiro, eu estava ao lado de um homem sábio, alegre, carismático, amoroso e contador de causos", recorda Soraya. A valsa teve arranjo do renomado multi-instrumentista Marcelo Caldi, que desenhou a música em tom intimista, com acordeon e piano, ambos executados pelo próprio Caldi.

Shows e E-book de partituras

Durante a pandemia, no ano de 2021, Nelson fez sua última apresentação musical ao lado de Agenor e do violonista Paulão 7 Cordas, em show realizado no tradicional Teatro Rival, no Rio de Janeiro, em formato de transmissão ao vivo (Assista aqui). Agora, o mesmo palco recebe, no dia 10 de agosto, espetáculo em tributo ao mangueirense: dessa vez, além dos amigos Agenor e Paulão, o show conta com as participações das cantoras Áurea Martins e Leila Maria e do bandolinista Tiago de Souza (Mais informações e ingressos aqui).

Crédito: Camilo Bousquat Árabe

"A principal característica do Nelson é a originalidade e a variedade de assuntos que ele aborda. Sempre muito inteligente. O público que vai assistir ao espetáculo pode esperar essa visita às variações de assuntos e temáticas, explorando também as melodias maravilhosas que ele criava. Um show simples, que parece fácil, mas que, na verdade, não é", explica Paulão 7 Cordas.


E tem mais: espetáculos gratuitos acontecem no Centro da Música Carioca Artur da Távola, no bairro da Tijuca, também no Rio de Janeiro. Os shows trazem Lazir Sinval, Mingo Silva e Ronaldo Mattos e as participações de Zé Luiz do Império, no dia 28, e de Áurea Martins, no dia 29 de julho. Com direção musical do violonista Luiz Filipe de Lima, as apresentações integram o projeto "Samba! Agoniza Mas Não Morre", que, por sua vez, é coordenado por Ronaldo e Lívia Mattos, respectivamente, filho e nora de Nelson, e contempla também o lançamento de um e-book de partituras com músicas dos primeiros LPs de Nelson. O conteúdo será disponibilizado gratuitamente na terça-feira de aniversário, dia 25, através do site. Realizado pela Conexão Social, o projeto foi contemplado pelo programa de Fomento à Cultura da Prefeitura do Rio de Janeiro - FOCA e ganhou merecido espaço de destaque no caderno "Tijuca + Zona Norte", do jornal O Globo.

Encanto da Paisagem - 100 anos Nelson Sargento

Há uma história na trajetória de Nelson que é, no mínimo, curiosa: na década de 1960, surgiu o conjunto Cinco Crioulos, grupo que acompanhava Paulinho da Viola formado por Mauro Duarte, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho e Elton Medeiros, lideranças das principais escolas de samba do Rio de Janeiro no período. Buscavam mais um integrante. O telefone tocou em Mangueira e o recado foi dado. Porém, Nelson achou que o convite era para pintar as paredes do teatro onde seria o ensaio e, por isso, acabou não indo aos encontros por duas vezes. Somente na terceira descobriu que, na verdade, o chamado dos colegas era para integrar o grupo com seu violão, instrumento que, aliás, não possuía e precisou de 50 cruzeiros emprestados para comprar.


A história que pode ser engraçada abre campo para revelar outro lado potente de Nelson: trata-se de sua produção como pintor e artista plástico, onde ocupa lugar importante dentro do campo da Arte Naify, técnica de artistas autodidatas que desenvolvem linguagem original e expressiva. “Esse era um grande desejo dele e estávamos organizando todo este acervo e suas produções. São aproximadamente 40 quadros, pintados por Nelson nos últimos anos de vida, conteúdos multimídia, instrumentos, roupas, entre outros, que certamente constituem um acervo fabuloso em termos de resgate de memória", relata Agenor, que conduz a preparação da exposição “Encanto da Paisagem - 100 anos Nelson Sargento”, com previsão para acontecer no segundo semestre de 2023, em parceria com a UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro. 

Seja em uma valsa para eternidade, numa sinfonia imortal ou em um encanto da paisagem, Nelson Sargento segue vivo entre nós, nos guiando, ensinando e resistindo. Afinal, o samba agoniza, mas não morre.

Crédito: Camilo Bousquat Árabe

Sobre Camilo Árabe

O produtor, jornalista e músico Camilo Árabe é um dos fundadores do Coletivo Sindicato do Samba, movimento que desenvolve projetos e ações de valorização de mestres e mestras da cultura popular. Acompanhou Nelson Sargento em temporada de shows em 2017 e 2018 e, ao lado de Agenor de Oliveira e Elfi Kurten, participa de ações em homenagem ao Nelson, como a exposição “Nelson Sargento 100 anos - Encanto da Paisagem” e o show “Nelson Sargento 9.9 - Sinfonia Imortal”. Escreve mensalmente no portal IMMUB.


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