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15 capas antológicas de discos brasileiros

sábado, 13 de junho de 2020

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Lá pelos anos 40 e 50, quando surgiram os Long-Plays, as gravadoras fonográficas perceberam o que hoje já nos parece óbvio desde sempre: a publicidade é a alma do negócio - mesmo na arte. E que maneira melhor de chamar a atenção dos consumidores para um disco do que criando uma capa chamativa, instigante e original? 

Com isso, criou-se uma longa tradição do design na confecção caprichada das capas dos álbuns da música brasileira. Uma tradição que atravessou diversas transformações da indústria discográfica, passando dos Long-Plays para os CDs e hoje com o streaming

Reunimos aqui uma lista com 15 capas que fizeram história na memória musical e são até hoje consideradas emblemáticas. Confira logo abaixo! 

1- Chega de Saudade (1959)

O disco inaugural da Bossa Nova tem também uma capa muito marcante, criada pelo artista gráfico César Vilela sobre fotografia de Francisco Pereira. Diferente da alegria efusiva e glamourosa estampada nos sorrisos dos ídolos radiofônicos da época, João Gilberto aparece sério, meio melancólico, de suéter e uma pose muito diferente do ideal de masculinidade da época. A genialidade da capa é justamente revelar a novidade que João também apresentava em sua música: serena, sofisticada e sobretudo diferente do que vinha sendo feito até então.

 


2 - Tropicália ou Panis et Circencis (1967)

A capa do disco-manifesto do movimento tropicalista, lançado em 1968, rende muitos estudos até hoje. Acadêmicos de todos os cantos do mundo se debruçam sobre possíveis mensagens ocultas escondidas nesse trabalho feito pelo designer Rubens Gerchman sobre foto de Oliver Perroy. Mas, de acordo com as testemunhas, o conceito da capa foi construído seguindo a intuição dos artistas e do fotógrafo, que realizou a sessão em sua casa, uma verdadeira mansão de arquitetura colonial em São Paulo. 

Além de uma clara referência ao “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, há os elementos centrais do movimento musical criado pelos baianos: a estética pop, a referência à brasilidade (nas cores verde e amarelo predominantes) e, claro, uma boa dose de deboche e irreverência. Atenção aos detalhes pitorescos: o penico de Rogério Duprat que virou xícara de chá e a maleta de Tom Zé, fingindo ser um retirante recém-chegado do Nordeste. 



3 - Roberto Carlos (1971) 

O álbum lançado por Roberto Carlos em 1971, que revelou músicas como “Detalhes” e “Amada amante”, foi responsável por consagra-lo definitivamente como o grande cantor romântico do Brasil, após o fim de sua fase inicial na Jovem Guarda. O disco ganhou também uma capa memorável. 

Além de inaugurar a tradição do Rei em estampar em seus discos apenas o seu rosto (sem título ou seu nome impresso), esse é o único que dispensa a fotografia e aposta em uma ilustração. Uma façanha que ele não repetiu até hoje em sua discografia. 

Além disso, a capa carimbou essa fase iluminada da carreira de Roberto. Basta olhar pra ela que já começamos a escutar: “Não adianta nem tentar me esquecer…” 



4 - Clube da Esquina (1972) 

O antológico disco lançado por Milton Nascimento e Lô Borges com diversos outros integrantes da turma de Minas Gerais em 1972 tem uma das capas mais celebradas até hoje na música brasileira. Trata-se de uma fotografia feita por Carlos da Silva Assunção Filho, o Cafi, que encontrou dois meninos anônimos sentados na beira de uma estrada em Minas Gerais. A foto contém elementos muito representativos da sonoridade do disco: a  terra, as cores verde e amarelo, que representam o Brasil, a aura lírica de Minas Gerais... Além disso, muitos especularam que os dois meninos simbolizavam os próprios Milton Nascimento e Lô Borges.

Quarenta anos depois do lançamento do disco, o jornal Estado de Minas encontrou os dois garotos retratados na foto, conhecidos como Tonho e Cacau. Nenhum deles sabia que estampavam uma das capas mais famosas da MPB. 



5 - Secos & Molhados (1973) 

Celebrada mundialmente, a capa do meteórico disco de estreia dos Secos & Molhados é incomparável em termos de ousadia e poder de impacto. Depois dela, talvez ninguém tenha conseguido fazer algo tão surpreendente quanto o fotógrafo Antonio Carlos Rodrigues, que dispôs os integrantes servidos de bandeja em uma mesa repleta de - claro - secos e molhados. É transgressora, enigmática, deliciosamente camp e de um humor desconcertante. 

E, além de tudo, guardou por muito tempo um mistério: o “quarto integrante”. Isso porque além de Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad, havia ao fundo uma quarta cabeça - mais discreta e meio contrariada. Fim do mistério: trata-se de Marcelo Frias, baterista que antes do disco chegar às lojas desistiu de ser membro oficial da banda para se tornar apenas músico convidado nos shows. 



6 - Pérola Negra (1973) 

Inovação gráfica, lirismo, brasilidade e negritude são alguns dos elementos que ganharam destaque com a arte de Rubens Maia feita para o disco de estreia de Luiz Melodia. A capa retrata o cantor em uma banheira, envolto por centenas de grãos de feijão. A impressão que temos é de que ele é, de fato, uma “pérola negra”.



7 - Índia (1973) 

Em 1973, a eterna “musa da Tropicália” resolveu transgredir mais uma vez. No disco “Índia”, no qual regravou guarânia homônima que fora sucesso nas vozes de Cascatinha e Inhana, a cantora resolveu se fantasiar de… índia!

Na foto feita por Antônio Guerreiro que estampou a capa, um close frontal na tanga despudoradamente vermelha de Gal. Na contracapa, uma foto de corpo inteiro, com os seios da baiana à mostra. Resultado: a ditadura do regime militar proibiu a circulação de tamanha ousadia e a Philips foi obrigada a vender o disco envolto por um invólucro azul opaco, o que só aumentou o fascínio do público em torno desse disco antológico. 



8 - Nervos de Aço (1973) 

A capa do designer Elifas Andreato feita para este celebrado disco de Paulinho da Viola é um de seus melhores trabalhos. O traço forte e a dramaticidade que marcam a assinatura do artista gráfico sobressaem nessa ilustração que mostra o sambista aos prantos sob o luar. 

Nada mais apropriado para um álbum que leva o nome de uma canção tão sentida de Lupicínio Rodrigues (e para os tempos sombrios que o Brasil vivia então): “Eu só sinto é que quando a vejo/ Me dá um desejo de morte ou de dor”. 



9 - A Tábua de Esmeralda (1974) 

A “Tábua de Esmeralda” é o texto escrito pelo químico Hermes Trismegisto, que deu origem à Alquimia. Interessado nesse assunto, Jorge Ben Jor lançou esse disco antológico, com diversas canções que passam por essa temática, como “Os alquimistas estão chegando” e “Errare Humanun Est”. 

A capa feita por Aldo Luiz, que causa impacto e curiosidade logo à primeira olhada, reúne elementos presentes na tumba de Nicolas Flamel, alquimista que estudou uma suposta fórmula da pedra filosofal. Certamente, uma das capas mais fascinantes da discografia de Jorge Ben



10 - Alucinação (1976) 

Um retrato mítico, com o cantor personificando uma espécie de Che Guevara. Foi essa a ideia que teve o produtor musical Marco Mazzola para o disco que Belchior gravou para a Philips em 1972, “Alucinação”

A ideia foi concretizada com maestria pelo fotógrafo Januário Garcia, que trabalhou na solarização de uma foto do cantor cantando de olhos fechados, com uma veia saltando do pescoço, num grito contido. O título, cor de sangue, aparece como se tivesse sido jogado e esparramado sobre a capa. 

Deu tão certo que a imagem é associada ao cantor até hoje. Existe a língua para os Rollings Stones e existe essa capa para Belchior



11 - Verde Que Te Quero Rosa (1977) 

Outra capa que não precisou de nenhum elemento além de uma fotografia genial. Neste caso, feita por Ivan Klinger, que registrou Cartola com um cigarro na mão enquanto tomava um cafezinho - uma cena típica dos subúrbios cariocas.

A genialidade do clique está no verde e rosa do pires, cores da Estação Primeira de Mangueira, uma das maiores paixões de Cartola e que dá nome ao disco e à música homônima que abre o álbum. 



12  - Esperança (1979)

Para ilustrar a capa de seu glorioso disco de 1979, Clara Nunes foi com o fotógrafo Wilton Montenegro até o bairro de Santo Cristo, no Rio de Janeiro. Ao chegar ao local, a cantora, então no auge da popularidade, foi recebida com euforia pelas crianças que moravam no bairro e, emocionada, se abaixou para cumprimentá-las. Ao ver a foto desse momento que a emocionou, Clara decidiu que essa teria que ser a capa do disco e pediu que não fosse feita nenhuma correção. 

Na hora de escolher o nome do álbum, ela não hesitou: olhou para aquela fotografia e decidiu: “Esperança”



13 - Pedaços (1979)

“Pedaços” consagrou Simone no gosto popular com a canção “Começar de novo”, símbolo da emancipação feminina que eclodiu naquele momento e do qual a cantora se tornou importante representante. A capa tem tudo a ver com esse momento. Com fotografia de Fernando Carvalho, Simone aparece nua, abraçando a si mesma, com o olhar sério, pronta para recomeçar. 

Além disso, a lânguida sensualidade da foto antecipou o que se tornaria febre na virada dos anos 1970 e 1980: capas de cantoras em poses provocantes, quase sempre com os ombros desnudos. Uma imagem antológica!



14 - Cabeça Dinossauro (1986) 

Idealizada por Sérgio Britto, um dos membros dos Titãs, a capa de “Cabeça Dinossauro” se tornou um símbolo da banda. Até hoje estampa camisetas ou a pele de fãs mais audaciosos que quiseram tatuar sua paixão pelo conjunto. 

Mas se engana quem pensa que esse desenho foi pensado especificamente para esse trabalho. Trata-se, na verdade, de um esboço antigo e pouco conhecido de Leonardo da Vinci (1452-1519) e se chama “A expressão de um homem urrando”. Bem apropriado para um álbum que revelou músicas como “Polícia”, “Estado violência” e “Bichos escrotos”. 



15 - Eu Não Sou Santo (1990) 

Sambista irreverente, que cantou a violência urbana e a vida nos morros carioca, Bezerra da Silva fez uma capa histórica para o álbum “Eu não sou santo”. Fotografado pelo mesmo Wilton Montenegro que clicou Clara Nunes com as crianças, Bezerra aparece como um Jesus Cristo negro da favela, crucificado com duas armas de fogo na mão. Um retrato chocante e ousado, recriado anos depois por Marcelo D2 no álbum “Marcelo D2 Canta: Bezerra da Silva”, de 2012. 


Texto por: Tito Guedes

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