As Canções que Você Fez pra Mim

80 anos da filha da Dona Lecy

Quinta, 12 de setembro de 2024

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Dona Lecy de Assunção Brandão era servente de escola. Ela morou com a filha em três escolas no Rio de Janeiro que existem até hoje: Escola Equador, em Vila Isabel, na rua Vinte e Oito de Setembro. Depois, na Pavuna, na Escola Arthur Azevedo, na avenida Sargento de Milícias. A última a Escola Nicarágua, na avenida Santa Cruz em Realengo, próximo da praça que tem a Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Elas moraram em escolas porque não tínhamos condição de pagar aluguel. Sem esquecer e respeitando tudo o que Dona Lecy ensinou: “Com licença, por favor, muito obrigada”. A filha da Dona Lecy, Leci (com i) Brandão nasceu em 12 de setembro de 1944, no bairro de Madureira. Pois bem. Tempos depois, esses ensinamentos foram transformados pela filha em letra do samba “As coisas que mamãe me ensinou”: “Bom dia, boa tarde, com licença, por favor, tudo isso é resultado das coisas que mamãe me ensinou”.


E Dona Lecy ensinou muita coisa. Era ela que levava a filha a um centro de umbanda de Dona Zefinha perto da estação de trem da Central do Brasil. Leci ficava perto dos ogãs que tocavam os atabaques e, ouvindo, aprendeu a tocar. Um dia alguém faltou e Leci disse: “Deixa que eu toca”. Começou então tocar tambor na umbanda. Depois iam ao terreiro de Dona Francinina na Pavuna. Lá, conheceu o candomblé. Leci conta que conheceu o candomblé porque Dona Francinina teve que mudar a nação da casa dela. Precisava “fazer obrigação maior”. No entanto, Dona Lecy e Leci acabaram se afastando do terreiro porque foram morar na Escola Nicarágua, em Realengo.

E, finalmente, a casa do Seu Rei das Ervas. A filha via a mamãe todo fim de semana saindo com uma bolsinha, uma sacola e umas flores na mão e dizendo “eu vou ali em São Gonçalo”. Ela perguntava: “Não tem um lugarzinho mais perto pra senhora ir?”. Nessa época, a família já estava morando em Vila Isabel, já não estava mais em Realengo. Da terra de Noel Rosa à Mangueira de Cartola, foi um pulo. Dona Lecy levava a filha também na Estação Primeira de Mangueira.

A música sempre esteve presente no lar dos Brandão. No colégio que Leci cantava, fazia cadernos com letras das músicas que ouvia no rádio. Nessa toada, começou sua carreira fonográfica no início da década de 1970, tornando-se a primeira mulher a participar da disputadíssima ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira. Em 2010, candidatou-se ao cargo de deputada estadual por São Paulo, tendo sido eleita. Leci é a segunda deputada negra da História da Assembleia Legislativa de São Paulo (atualmente, exerce seu quarto mandato). Como parlamentar, Leci Brandão se dedica à promoção da igualdade racial, ao respeito às religiões de matriz africana, à educação e à cultura popular brasileira.

Em 2024, Leci Brandão completa 80 de vida e 50 anos de carreira artística. Ao longo de sua trajetória, gravou 25 álbuns, entre eles três compactos e 2 DVDs. Mas o destino apronta das suas...

Mas aí é que a história apronta das suas. No dia 26 de julho de 2019, na madrugada, Dona Lecy de Assumpção Brandão morre, aos 96 anos de, com problemas cardiorrespiratórios: 
“Quando o bicho está pegando é melhor não se expor/ Pra Aflição faço uma prece pra Deus Pai Nosso Senhor/ Pra um forte resfriado/ Só Limão com cobertor/ Tudo isso é resultado das coisas que mamãe me ensinou”, diz trecho de “As coisas que mamãe me ensinou”.

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