Tema do Mês

90 anos de Cauby: O ídolo do Rádio

PARTE 1

quarta, 10 de fevereiro de 2021

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Cauby Peixoto, nascido há 90 anos, em 10 de fevereiro de 1931, em Niterói, foi um dos maiores cantores do Brasil. Com um vozeirão potente, típico da Era do Rádio, conseguiu atravessar os mais diversos momentos musicais do Brasil - em parte por sua capacidade de reinvenção e sua versatilidade impressionante, sem jamais perder a identidade que lhe era tão própria. 

Cauby durante apresentação no Auditória da Rádio Nacional em 1956 (Foto: Reprodução/Arquivo Nacional)

Ele começou a carreira ainda nos anos 1950, apresentando-se em programas de calouros da rádio e em boates noturnas do Rio de Janeiro. Seu primeiro disco saiu em 1951, um compacto que contava com as músicas “Saia branca”, de Geraldo Medeiros, e “Ai, que carestia!”, de Victor Simon e Liz Monteiro. Mas o primeiro grande sucesso foi “Blue Gardênia”, que dá nome também ao seu LP de estreia, lançado em 1955. A música era uma versão de Antônio Carlos para o sucesso de Lester Lee e Bob Russell. 


Um ano depois, no LP “Você, a música e Cauby”, lançou aquele que seria o maior sucesso do ano de 1956 e de toda a sua carreira: “Conceição”, composição de Jair Amorim e Dunga que conta a história de uma mulher que descia o morro para subir na vida e, anos depois, acabava se arrependendo: Só eu sei/ Que tentando a subida desceu/ E agora daria um milhão/ Para ser outra vez Conceição


Nessa época, Cauby já era um ídolo do Rádio, capa de inúmeras revistas, alvo constante de fofocas e perseguido por fãs que só faltavam lhe arrancar os cabelos. Esse alvoroço em torno do artista era, em parte, fruto das estratégias de marketing de seu empresário Di Veras, que ajudou a moldar a personalidade artística de Cauby. Espécie de Carlos Imperial da Era do Rádio, ele aconselhava o jovem artista a se vestir, como se portar no palco e ajudava na escolha do repertório. Dizem, inclusive, que muitas das fãs que arrancavam pedaços das roupas de Cauby na rua eram na verdade contratadas por Di Veras

Foi pelas mãos do empresário, inclusive, que ele iniciou uma temporada em solo americano no período de 1955 a 1959. Entre idas e vindas, gravou poucas coisas, fez algumas apresentações (com o pseudônimo Ron Coby), mas encontrou artistas como Bing Crosby, Marylin Monroe, Jane Mansfield e Marlene Dietrich. Nesse intercâmbio cultural, absorveu elementos da cultura norte-americana que iriam se refletir em seu trabalho até o fim, como o glamour de Hollywood, a estética exuberante da Broadway, além do repertório de standards imortalizados por nomes como Nat King Cole e Frank Sinatra. 

Cauby Peixoto e Nat King Cole, seu ídolo, nos anos 1950 (Foto: Reprodução/Arquivo Nacional)

Nessa época, a distância com o Brasil não impediu que ele gravasse coisas importantes por aqui. Em 1957, lançou o primeiro rock´roll nacional, antes de Celly Campello, Sérgio Murillo ou da turma da Jovem Guarda. Trata-se de “Rock´n´roll em Copacabana”, de Miguel Gustavo. Não se tornou exatamente um clássico, mas entrou pra história e comprovou a versatilidade interpretativa de Cauby, que ia do rock ao jazz e ao bolero com a mesma competência. 

Quando voltou definitivamente para o Brasil, em 1959, já se iniciava o período da Bossa Nova e, pouco depois, com os festivais da canção, da MPB e da “música de protesto”. Com isso, artistas do estilo de Cauby passaram a ser tachados por muitos como “cafonas”. Com a música brasileira fervilhando em polêmicas e novidades estéticas, seu estilo pessoal acabou soando para muitos como “ultrapassado”, apesar de ter continuado a gravar coisas importantes ao longo dos anos 1960, como “Ninguém é de ninguém” e “Ave Maria dos namorados”. 


Nessa época, chegou a se arriscar em outros gêneros e em novos compositores, mas foi mesmo nas casas noturnas que ele permaneceu brilhando. Em 1963, ao lado dos irmãos, abriu a antológica boate Drink, no Leme. 

A partir de 1970, apesar de ter ganhado o Festival de San Remo na Itália com a canção “Zíngara” (versão de Nazareno de Brito), viveu um certo ostracismo, esquecido pela mídia e pela crítica musical. A injustiça, porém, não se prolongou por muito tempo. 

Pouco a pouco, se aproximava o seu período de renascimento. Em 1979, ele já poderia escutar ao fundo, diante de um letreiro colorido, os gritos de “Cauby! Cauby!”...

Texto por: Tito Guedes


Este é a primeira parte de uma série de dois artigos sobre os 90 anos de Cauby Peixoto, celebrados em fevereiro de 2021. Fique por dentro: 

PARTE 1: O ídolo do Rádio (lendo agora) 


*Agradecimentos a Lucas Correa pelo envio das imagens que compuseram esta matéria. 

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