Supersônicas

A caravana de Chico Buarque passa pelo Vivo Rio. Corra para ver!

por Tárik de Souza

sexta, 05 de janeiro de 2018

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Sumidade da MPB, desaparecido das TVs e pouco programado nas rádios devotadas ao comercialismo barato, não é toda hora que se pode ver Chico Buarque num palco. Em janeiros pontuais anteriores, ele acionou temporadas cariocas nos anos de 1988 (“Francisco”), 1994 (“Paratodos”), 1999 (“As cidades”), 2007 (“As cidades”) e 2012 (“Chico”). Agora é a vez de “Caravanas”, que estreou dia 13 de dezembro em Belo Horizonte, MG, e iniciou sua estadia no Vivo Rio, no Aterro do Flamengo, na noite de quinta-feira, dia 4. Mais apinhado que o costume, sem espaço entre as cadeiras e mesas, no inescapável caixote de concreto instalado ao lado do MAM, Chico exibiu-se com desenvoltura acima do habitual, emoldurado por móbiles do diáfano cenário de Hélio Eichbauer, iluminado com sutileza por Maneco Quinderé. O maestro e violonista Luiz Claudio Ramos faz a direção musical à frente de um grupo de músicos fiéis, integrado por Chico Batera (percussão), Jorge Helder (baixo), Bia Paes Leme (teclado e vocais), Marcelo Bernardes (sopros), João Rebouças (piano) e o único recém chegado, Jurim Moreira (bateria). Chico abriu os trabalhos evocando, no atual contexto político (“deixa meu povo passar/ meu povo pede licença pra na batucada desacatar”), a Carmen Miranda de “Minha embaixada chegou” (Assis Valente, 1934). Emendou no périplo saltimbanco de “Mambembe”, seguido pelo mordaz “Partido alto” (“na barriga da miséria/ nasci batuqueiro”), censurado na época da ditadura, que ele ralentou num rap final, escandindo a letra.  

A costura minuciosa do roteiro alinhavou “Iolanda”, do cubano Pablo Milanês (versão de Chico) e o bolero “Casualmente”, sua parceria em espanhol com o baixista Jorge Helder, uma das nove canções do novo disco, também intitulado “Caravanas”. Todas foram inseridas com habilidade no set list, como “Desaforos”, encadeada com as diatribes anteriores do samba “Injuriado”. Ou “Tua cantiga”, alfinetada como machista pelos haters das redes sociais, num desempenho pungente banhado por palmas em desagravo, em seguida à também comovente “Todo sentimento” (ambas parcerias com o pianista Cristóvão Bastos), que não por acaso fala de um “tempo da delicadeza”, deixado para trás. A recente “Blues pra Bia”, de letra provocante (“até posso virar menina/ pra ela me namorar”), também ganhou aplausos extras antes da igualmente bluesy “A história de Lilly Braun” (parceria com Edu Lobo). A música título, “As caravanas”, a respeito do apartheid da pobreza carioca em contraste com a zona sul abastada, desaguou em “Estação derradeira”, outro diagnóstico da pirambeira social da cidade favelada, que já não é mais possível romantizar. Chico também revisitou com brilhantismo de intérprete suas rigorosas parcerias com o apolíneo melodista Tom Jobim (“Sabiá”, “Retrato em branco e preto”), homenageou Wilson das Neves, seu baterista por décadas, morto em 2017, cantando a parceria com ele, “Grande Hotel”, a bordo de um chapéu panamá, ao estilo do sambista, e no fecho formal do show, voltou ao “Minha embaixada chegou”. Salpicado de gritos “Fora Temer” e “Lu-lá”, o intervalo do bis, na estréia, preparou para a seqüência fuzilante: “Geni e o Zepelim”, “Futuros amantes” e “Paratodos”. A temporada carioca, até 28 de janeiro (sempre de quinta à domingo), segue, de 1 a 4 de fevereiro. Após o carnaval, o show embarca para o Tom Brasil, em São Paulo, em estadias também ampliadas, de 1 de março a 22 de abril, duas semanas extras em cada cidade. Outras capitais serão anunciadas em breve. 

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Os músicos que acompanham o cantor são seus fieis companheiros de palco: o maestro, arranjador e violonista Luiz Claudio Ramos, João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (contrabaixo), Marcelo Bernardes (flauta e sopros) e Jurim Moreira (bateria), substituindo Wilson das Neves.

A equipe que atua nos bastidores é composta por Vinícius França (produção geral), Maneco Quinderé (iluminação), Marcelo Pies (figurinos) e Ricardo Tenente Clementino (direção técnica). A cenografia leva novamente a assinatura de Helio Eichbauer, que esteve nas duas últimas turnês e para a atual concebeu uma escultura suspensa, descrita por ele como “uma esfera armilar que flutua no espaço azul como algum sistema planetário”. Além disso, oito cordas coloridas desenham no horizonte sequências e ondas marítimas e sonoras, alternando as linhas sinuosas de cristas e vales. “O cenário de Eichbauer e a luz de Maneco Quinderé são fundamentais na construção da embaixada de Chico”, saudou a crítica.



Fonte da imagem: https://goo.gl/ch3PDL, https://goo.gl/npN7jC, https://goo.gl/HPTXYP 

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