Dicas do Aquiles

A dignidade de um cantador

terça, 19 de setembro de 2023

Compartilhar:

Vocês não imaginam a minha satisfação ao lhes trazer o álbum Dignidade (Kuarup), o primeiro de João de Ana, cantor e compositor mineiro lá de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, onde nasceu e vive.

João conta que deve ao violeiro Chico Lobo, mineiro como ele, a chance de lançar suas músicas num trabalho com qualidade artística e técnica. Com produção musical de Ricardo Gomes e mixagem e masterização de Alessandro Tavares, tudo conspirou para que João de Ana levasse ao Brasil a sua música, digna de uma terra que precisa de músicos como ele para ser igualitária e plural.

“Canção do Vale” (João de Ana e Gilberto Guimarães): os violões (João de Ana e Ricardo Gomes) ponteiam. Envolta em alma mineira, a voz de João brota do fundo da terra. O Jequitinhonha salta à vista. A pegada é quente. O instrumental tem força, assim como vigorosa é a cantoria. O arranjo se vale do cello (Sérgio Rabello). Junto com o violão, mais o piano de Luadson Constâncio e apoiados pela percussão de Diego Panda, eles fazem do repertório um hino à mineirice de quem canta à vida.

“Minas Canções” (JdeA e Zé Henrique Ruas, in memoriam): o bandolim (Rogério Delayon) aguça a interpretação de João. Os versos, ajuntados à melodia simples, mas bela e realçada por vocais precisos, expõem o gosto pela amizade e um jeito de ser que é tão mineiro quanto o violão (Robertro Delayon) e o café recém-coado que vem à mesa. Eis Minas... quanta dignidade!

“Cantador do Tempo” (JdeA e Gilberto Guimarães): Chico Lobo dá o tom da viola, prima-irmã da cantiga que brota da alma e carece de suas cordas para eternizar-se. A voz de João não tem limites para se expandir e, sem eira nem beira, lança no ar o jeito cantador de ser pedra-azulense. Ao ouvi-lo, afirmo: o cantar de João de Ana é épico!

“Cantador de Luz Cheia” (JdeA e Voltaire Lemos): lá está de volta a viola do Chico Lobo, trazendo com ela a percussão de Diogo Panda. E a lua se abre para ouvir o som que vem arritmo, enquanto o cantador lhe oferece sua voz, e ela, com amor transbordante, ilumina a mineirice de quem para ela veio cantar, o que João faz a plenos pulmões... emociona ouvi-lo.

“Sempre Que Amanhece” (JdeA e Raul Mariano): aqui o couro come total. A quase catarse em que se envolvem a instrumentação e a voz dão à música o tom mais que épico de um álbum épico, cantado epicamente por um mineiro que sabe como ser imponente, sem ser descomedido, nem piegas.

Em “Donana” (JdeA), João de Ana canta ao seu sobrenome artístico. Sua benção, DonAna: seu filho canta à senhora como quem reza. Ouça o que ele tem a dizer, pois tudo o que faz tem a sua feição. Ó DonAna, venha quentar o café pro menino que a traz no sobrenome.


E com “Sonhei Que Estava Em Pedra Azul” (JdeA), João homenageia seu pai, o Sr. Valdivio. E assim patenteia ser, também, João de Valdivio.


Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4



Comentários

Divulgue seu lançamento