A flauta expandida e vanguardista de Cássia Carrascoza

Primeira flautista da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, desde 1999, que ocupou o mesmo posto na Orquestra Jazz Sinfônica, entre 2000 e 2014, Cássia Carrascoza integra a Camerata Aberta da EMESP desde 2010. Bacharel em flauta pela ECA-USP, ela estudou na Academia Franz Liszt, de Budapeste, Hungria, e no Conservatório Sweelinck de Amsterdã, Holanda, e lança o álbum “Tempo transversal – Flauta expandida” (Selo SESC).

Fonte da Imagem: Medium | Cássia Carrascoza (Foto: Alexandre Nunis)

O título do disco ecoa influencias de Elis Regina (o LP “Transversal do tempo”, “que reflete muitas questões intrínsecas ao fazer musical”) e Hermeto Pascoal no conceito “flauta expandida”, incorporando timbres e ruídos, como o bruxo já fazia em seu disco com o "Quarteto Novo", em 1967, “retomando o Villa-Lobos de ‘Assobio a jato para flauta e violoncelo’, de 1950”.

Quatro das sete faixas são dedicadas à música eletro acústica mista, que associa a performance da intérprete aos sons gerados eletronicamente. Só uma delas, “Khorwa- Myalwa (Samsara, os infernos)”, levou Cássia a uma imersão de dez dias no Ircam, de Paris “à procura de sonoridades particulares (algumas quase inaudíveis) na flauta baixo e na melhor maneira de amplifica-las”. Em “Topografia I” (Alexandre Lunsqui), por mais de sete minutos, a flauta baixo da solista esculpe através dos sons as paisagens formadas pelas montanhas do sul de Minas Gerais. Em “Mineral” (outra de Lunsqui), camadas texturais em decomposição vão revelando traços melódicos como se uma rocha fosse descascada entre deslizes tonais e sons agulhados e percussivos. Sons eletrônicos e silêncios contaminam o projeto narrativo de “Pedra d’água” (Sergio Kafejian), enquanto “Bestiário II: Salamandra para flauta e sons eletrônicos” (Rodolfo Coelho de Souza) a flauta encena o anfíbio ser, que na mitologia grega se originava do fogo, em seu embate com os flamejantes sons sintetizados.