Colunista Convidado

A louvação ao samba paulista de Marco Mattoli

quinta, 10 de janeiro de 2019

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“Disseram que não existia/ que não merecia respeito/ que não havia proveito/ nesse tal samba paulista/ então preparei uma lista...” Com percussão acentuada pelo instrumento que deu nome artístico ao mestre local, Oswaldinho da Cuíca, Marco Mattoli abre a faixa manifesto de seu disco “Samba do Marcos” (YBMusic). “O nome da lista” é quase um daqueles antigos catálogos telefônicos, no melhor sentido, enumerando bambas da paulicéia, rebatidos pelo refrão incisivo: “Pode chamar!” Alguns deles, além do supra citado Oswaldinho: Geraldo Filme, Zeca da Casa Verde, Toniquinho Batuqueiro, Carlão de Peruche, Madrinha Eunice, Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini, Eduardo Gudin, Carlinhos Vergueiro, Quinteto em Branco e Preto, Pé Rachado, Pato N´Água, Henricão, Inocêncio Nolasco, Nenê da Vila Matilde, Germano Mathias, Talismã, Dona Maria Ester do Bumbo, Renato Dias, T. Kaçula, Fabiana Cozza, Kiko Dinucci, Douglas Germano...”Estes são só alguns daqueles que eu conheço”, ressalva Mattoli. Ele não menciona Blecaute (Espírito Santo do Pinhal), Pedro Caetano (Bananal), talvez por terem feito carreira no Rio e Antonio Pecci Filho, o Toquinho (SP), talvez pela imediata associação com o parceiro poeta Vinicius de Moraes – aquele, que muito tempo atrás, chamou São Paulo de túmulo do samba. Ou não.

“Samba não vem do berço, como filho de coroné/ samba é cortado no couro e rabiscado no pé”, prega Mattoli, co-autor da obra prima com Rodrigo Leão. Propulsor do samba rock paulistano (também conhecido por suingue) a partir de seu Mattoli e Os Guanabaras, em 1990, Marco fundou em 1999 o subseqüente Clube do Balanço, cujo associado Jesus Sanchez produziu este primeiro solo do líder. Roberta Gomes, também do Clube, divide com Marco, os vocais e autoria da matreira “Gravidade” (“eu não sei viver no limite da razão/ mas sei tirar o pé do chão/ vou além da imaginação”) e de “Maldita” (com o rapper mineiro Flávio Renegado) um samba canção dolente perfumado pelo clarinete de Luca Raele. A castiça dupla de pesquisadores/compositores Renato Dias e T. Kaçula (do bloco carnavalesco Kolombolo Dia Piratininga, que empresta palmas á faixa de abertura) assina com Marco, “Viola”, de entonação rural com pique catireiro, encordoado pela viola caipira do craque Miltinho Edilberto. Renato Dias também é co-autor, com Ully Costa (e Marco) do samba rock “Ainda tem”, que encerra o disco em clima jorgebenjoriano. Mas tem mais: o perspicaz “Você diz que me engana”, única faixa de outro autor, Pelico; o violino lírico de Ricardo Hertz, no gingado “Juras” e o vocal de Carlinhos Vergueiro, na homenagem “Quando vi Geraldo Filme”, parceria de Marco e o gaúcho do samba rock Luis Vagner. É aquele que mereceu a ode “Luis Vagner guitarreiro”, de Jorge Ben Jor, que fecha o círculo estético primoroso deste disco, de instrumental minimalista e uma densidade que desborda suas sucintas nove faixas. (Tárik de Souza)


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