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A trupe de Chico Chico extasiou o Circo Voador

quarta, 17 de novembro de 2021

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Chico Chico e sua trupe receberam um público que ansiava matar a saudade da noite carioca, mas que ainda demonstrava sinais de preocupação com a infinda pandemia. Numa noite de muita alegria e reencontros no Circo Voador, além do ingresso, só entrou quem tinha comprovante de vacinação em mãos. Enormes placas espelhadas relembravam aos esquecidos de usar máscara e manter o distanciamento. Me espantou a capacidade da produção de fazer um cenário tão bonito, com (aparentemente) tão pouco, assinado por Fabio de Souza. Uma grande árvore de papelão enfeitava o centro do palco e a iluminação de Santhiago dava o toque mágico.

O anfitrião do picadeiro, DJ Lencinho, apresentou o show e chamou Chico para abrir a noite com ‘Ribanceira’, single voz e violão de seu novo disco “Pomares”. Uma canção cristalina, linda mistura enérgica de Beatles com viola caipira e mpb. Quebrada a expectativa pelo início do show, a banda entrou com tudo na grooveada ‘Templos’, também do disco novo. Música de aspectos modernos nos timbres e harmonias, com ótimos trechos rítmicos de maracatu na bateria de Cezinha e na percussão de Thiago da Serrinha. O show seguiu aumentando a pressão com ‘A cidade’ do disco “Chico Chico & João Mantuano” também de 2021. Aliás, que pressão! Primeiro momento de arrepio coletivo, com essa canção de uma latinidade dançante, um afoxé com a força visceral de um mangue-beat, mas de outro Chico. ‘Largo do Machado’, também da parceria com João Mantuano, manteve a casa animada e cantando em coro: “Eu leio a bula, eu to remediado!”. Chico estava em estado de graça, pleno de felicidade, e demonstrou uma intimidade com o palco de artistas experientes. O show seguiu com um dos muitos singles lançados esse ano, ‘Quando a sorte’. Uma bonita balada que abaixou um pouco da serotonina dos presentes, acompanhada pelo piano impecável de Pedro Fonseca, que segundo Chico é o “tradutor e montador do show”. 

Fotos @michellecastilho 

Na sequência foram cinco músicas do recém lançado “Pomares”; a esperançosa música título e ‘Demanda’ acalmaram e prepararam os presentes para a emocionante ‘Mãe’, composta em homenagem as suas duas mães, Cássia Eller e Maria Eugênia, que fez dueto com o filho no estúdio. Quem participou da faixa no show foi o violonista, produtor e parceiro de longa data da família, Rodrigo Garcia, que também foi parceiro de Cássia. A banda sai de cena e entra Sal Pessoa diretamente de Vitória da Conquista - Bahia para cantar ‘O tempo nunca mais firmou’. A canção é uma jóia rara com influência da música nordestina e suas raízes mais profundas. Só a soma dos timbres de Sal e Chico já é digna do valor do ingresso. E por falar em soma de timbres, ‘Estrela matutina’ contou com o coro de Marcos Mesmo (também produtor de Sal), Pedro Fonseca, e das magníficas Daíra e Juliana Linhares. Pra quem não conhece os trabalho dessas duas, fica a recomendação.

Chegando na metade do show, a banda retornou e os presentes cantaram com fervor ‘Árvore’, um reggae espiritualizado nos tambores e agogôs com a participação de Fran, dono de uma linda voz e parceiro de Chico no álbum “Onde?”, lançado em 2020. Os artistas convidados não pararam de subir e descer ao palco, e em ‘Maria de Lourdes’ do mestre Sérgio Sampaio não foi diferente. Pedro Franco, exímio bandolinista, arrancou muitos aplausos e arrepios em seus solos, nesta e em 'Ninguém', também do disco “Onde?” e a última com o vocal de Fran. Foi em ‘Amarelo amargo’ que o percussionista Thiago da Serrinha pegou na zabumba, Kiko Horta entrou com a sanfona e a poeira subiu no baile, com direito a pot-purri no baião, entre elas ‘Coroné Antonio Bento’. A energia e o ritmo do baile se mantiveram a mesma em ‘Chega’. ‘Abacateiro Real’ deixou as influências nordestinas de lado e trouxe um arranjo para banda, diferente do álbum de estúdio.

O fim do show vem chegando com a super potente 'Queixo ou queixa’, parceria com o talentoso Mantuano, que não participou pela primeira vez de um projeto de Chico nos últimos 7 anos. ‘Sol de maio’ é uma canção leve, de levada pop e influência afro, que não deixou a peteca cair e a galera dançou. A décima nona e última música foi ‘Motor’, numa vibe meio acústico mtv, meio Beatles, meio Belchior. Depois daquele charminho básico, voltam para mais duas músicas de bis: ‘Medo’, single de 2018 e ‘Procissão’, clássico de Gilberto Gil que Chico regravou com Fran ano passado. Todos os convidados voltaram ao palco para fechar a noite em alto astral, repleta de novos e velhos talentos, consagrada pelo animadíssimo Chico Chico. Efeitos psicodélico, maracatu, latinidade, pop meloso, baião, ou o que quiserem tocar, a banda formada por Pedro Fonseca (teclados), Caio Barreto (guitarra e violão), Thiago da Serrinha (percussão), Cezinha (bateria) e Miguel Dias (baixo) dá conta. Num show com tantos convidados, a produção foi impecável. Até o roadie João ganhou palmas em uma das entradas e alguns ínfimos erros técnicos não comprometeram o espetáculo. Pros cariocas sedentos de festa, foi um bom show, com ótimos músicos e convidados, banda afinadíssima. Bom frisar o quão importante é ver jovens artistas tão talentosos ocuparem um dos palcos mais importantes do país nessa retomada cautelosa dos eventos culturais. 


Texto: Bernardo Leão | músico e produtor musical


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