Colunista Convidado

As caravanas de Chico Buarque desfilam em DVD

segunda, 26 de novembro de 2018

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Nesta era de imagens abundantes e fragmentadas pelas redes sociais, ganha valor especial um DVD (também em edição CD) com princípio meio e fim, como “Caravanas ao vivo” (Biscoito Fino). Gravado sob direção de Joana Mazzucchelli, no Tom Brasil, de São Paulo, nos dias 13 e 14 de abril de 2018, ele documenta o mais recente projeto de Chico Buarque – um dos maiores compositores do país em todos os tempos - vencedor recente de dois Grammys Latinos, de “melhor álbum de MPB” e “melhor canção em língua portuguesa”, pela composição que originou o título. Embora não esteja entre os artistas que utilizam o palco como expressão dramatúrgica, como sua gêmea (de signo) Maria Bethânia, com quem já dividiu o falecido Canecão, Chico foi ganhando cancha e manha para domar o público a bordo de seu carisma minimalista. No show, reveza-se nos violões, pauzinhos rítmicos e até assume a postura de crooner, de gestos comedidos. Não por acaso, abre o espetáculo pedindo “licença pra desacatar”, como enuncia o antigo clássico do repertório de Carmen Miranda, de 1934, “Minha embaixada chegou” (Assis Valente), que ele emenda com o próprio “Mambembe”, oportuna ode à resiliência do artista em tempos adversos. E o desafiador “Partido alto”, censurado na ditadura, que ele remontou sob a forma de rap, enfatizando o bordão: “bota a mãe no meio”.

O roteiro das 31 canções busca afinidades entre boleros como “Yolanda”, do cubano Pablo Milanês, e seu próprio “Casualmente”, escrito com o baixista Jorge Helder; as diatribes “Desaforos” (contra os atuais haters da web) e “Injuriado” (suposta resposta a críticas feitas a ele pelo político FHC, no passado). Casam-se também os temáticos “A volta do malandro” e “Homenagem ao malandro”, originários do mesmo núcleo musical. E mais, os blues “Outros sonhos” (aberto por Chico assoviando ao violão), “Blues pra Bia” (do provocador “até posso virar menina/ pra ela me namorar”), sucedidos pelos mais jazzísticos “A história de Lily Braun” e “A bela e a fera”, ambas com Edu Lobo, um dos parceiros que ele exalta, dizendo ter feito letras para as músicas que gostaria de ter composto. Na mesma clave, elogia tanto o neto Chico Brown, parceiro na valsa contraritmada “Massarandupió”, “praia onde passavam férias na Bahia”, quanto seu ex-baterista, Wilson das Neves (1936-2017), parceiro em “Grande hotel”, a quem é dedicado o show, e merece dele uma caracterização de malandro e alguns passos de samba. Também é incensado nas poucas palavras do roteiro o heráldico Tom Jobim, o “maestro soberano” do final “Paratodos”, com quem compôs o denso “Retrato em branco e preto” e o solar “Sabiá” - a despeito de canção de exílio, quem sabe, renovável. 

Junto com temas do repertório novo, como o truncado “Futebol” (seria reflexo do que acontece hoje nos nossos gramados, sob a ótica atenta do craque do Politheama?) e clássicos atemporais como “Futuros amantes”, “Gota d’água”, “As vitrines”, “Todo sentimento” (música de Cristóvao Bastos, como “Tua cantiga”) algumas pérolas obscuras ganham novo lustro e oportunidade de brilhar. Como a bela e dissonante valsa “Dueto”, que ele gravou com Nara Leão, em 1980.  Quem dialoga com ele no show é a tecladista Bia Paes Leme, que integra a banda formada por João Rebouças (piano), Jorge Helder (baixo), Chico Batera (percussão), Marcelo Bernardes (sopros), Jurim Moreira (bateria), sob a direção do maestro Luiz Claudio Ramos. Ele é o solista de violão, em “A moça do sonho”, outra com Edu, da letra instigante, “um lugar deve existir/ uma espécie de bazar/ onde os sonhos extraviados vão parar/ entre escadas que fogem dos pés/ e relógios que andam pra trás”. Em sintonia fina com a atual atmosfera do país, desfilam também “As caravanas”, “Estação derradeira” e a hiperbólica “Geni e o Zepelim”. Como lancetou o jornalista e escritor Arthur Dapieve no texto de apresentação, não há dicotomia entre os dois Chico Buarques.

“Suas canções ‘de amor’ são políticas porque, sobretudo em tempos violentos, amar também é atuar politicamente. E suas canções ‘de política’ são amorosas, porque, sobretudo em tempos sombrios, a empatia social é uma formidável forma de amor”


Encaminhado por: Assessoria de Imprensa Biscoito Fino
Fonte das imagens: foto Biscoito Fino



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