Almanaque do Rock Brasileiro

Barão Vermelho: O poder da música

quarta, 26 de janeiro de 2022

Compartilhar:

O Almanaque do Rock chegou

No ano em que o BRock comemora 40 anos - , com muito gás e história para contar -, orgulhosamente apresento para o IMMuB a série “O Almanaque do Rock Brasileiro”. Desde Celly Campello até O Terno, passando por Rita Lee, Blitz, Legião Urbana, Charlie Brown Jr., as Histórias do Rock, seus personagens e sua obra ganham seu cantinho aqui na casa da música brasileira a partir de crônicas, artigos, entrevistas, curiosidades, casos e tudo relacionado ao gênero que começou a ser difundido no país a partir dos anos 50 e, até hoje, é o preferido dos mais jovens aos mais velhos.

O termo “BRock” foi dado pelo jornalista e escritor Arthur Dapiev, em seu livro que conta a história da geração dos anos 80. O Rock produzido nesta década, marcou uma geração e até hoje possui uma legião de fãs, e faz um sucesso tão grande quanto na sua década. Em parceria com o Instituto, mês a mês traremos uma resenha sobre os discos de maior sucesso dos anos 80, além de algumas surpresas. Então já sabem, é pra ficar ligado por aqui.

Tudo isso, para aqueles que são aficionados (e curiosos!) pelo Rock.


Este ano o primeiro álbum do Barão Vermelho completa 40 anos, a estreia do grupo acontece no seu álbum homônimo, sem sucessos imediatos, mas com clássicos atemporais. Lançado em 1982, até hoje nos leva a sérias reflexões como as mudanças do showbiz. Para ser clássico tem que ser um sucesso de vendas? E talvez a mais filosófica: O que define o Sucesso?

Destrinchando o que foi dito acima, hoje em dia será que se teria a paciência de uma grande gravadora (que já não tem mais tanto poder sobre o artista), em esperar o retorno financeiro? Pois esse álbum não vendeu bem, e de acordo com depoimentos de integrantes, e da própria empresária do Barão, Rosa de Almeida, os shows eram bem escassos.

Esse álbum conseguiu ser bem sucedido mesmo sem ter sucessos imediatos. Nele temos músicas como “Todo amor que houver nessa vida” e “Down em mim”, pegando apenas dois clássicos mais fortes. A segunda música ainda entrou para a trilha sonora da novela Final Feliz, da rede Globo. O sucesso do “Barão Vermelho (1982), cresce com o passar dos anos, mesmo sem ter sido tão lembrado na época de seu lançamento. Apesar de todo o esforço da banda para emplacar seu disco.

Mas deixando o comercial de lado, uma verdade é que toda música tem poder, e a música do Barão nos leva para o Rio dos anos 80, talvez mais precisamente a Zona Sul.


Prólogo

Para começar é preciso falar dos cinco personagens principais desta história, aqueles que colocaram o avião no céu para voar. Cazuza (voz), Dé (Baixo), Frejat (guitarra/voz), Guto Goffi (Bateria) e Maurício Barros (Baixo). Na audição deste disco é possível perceber que ele soa de uma forma como se todos os integrantes fossem um só. Uma orquestra, totalmente pirada regida por um maestro sem batuta e sem gestos que era Ezequiel Neves.

A banda tinha, sim, um jeito informal, e isso se dá na forma em que esse disco foi gravado, em dois finais de semana. Isso só mostra o quanto a banda estava pronta para fazer o que era preciso sem muita conversa fiada. Se não fossem uma banda de estrada com ensaios e disciplina, esse álbum talvez nunca tivesse rolado. Segundo o baterista Guto Goffi, isso vem dos ensaios diários que eram a rotina da banda entre 1981 e 1982. “A gente ensaiava muito, ia à praia e ia ao baixo Leblon. Os primeiros dois anos da banda, era praia de manhã, Ipanema, Posto 9, ensaio a tarde no Rio Comprido, Baixo Leblon de Noite.”, contou Guto durante entrevista ao canal Alta Fidelidade.

Com isso, podemos entender o porquê deste disco captar tão bem a alma da zona sul carioca naquele tempo. E é impressionante pensar em uma banda de rock ter uma rotina, mesmo que seja para a curtição. Por isso, o Barão Vermelho é uma banda tão especial, junto com Blitz, Rádio Taxi e Herva Doce, eles talvez tenham aberto as portas do Rock Brasil, no maior polo cultural do nosso país.

Mais que Rock, este disco é uma poesia um retrato do Rio de Janeiro em um momento bem diferente e menos tenso e mais livre. E acima de tudo, esse álbum é a porta de entrada dos anos 80, daquilo que poderia se chamar de Rock.


O poder da música do Barão vermelho

Para aqueles que não tem o costume de ouvir um disco (LP), ou mesmo um CD, faça um exercício: coloque este álbum no Spotify e sinta tudo o que ele tem para oferecer. Não pule músicas, de preferência não volte, ouça-o por inteiro e depois se preferir da forma que desejar.

Quando o álbum começa com “Posando de Star” a batida da bateria é uma convocação e a voz do Cazuza cantando, o que talvez seja o lema dos anos 80, “Pouco importa o que essa gente vai falar mal”, acho que nada define melhor a estética daquela época, e de qualquer geração.

A alegria misturando anos 60 e 80 da primeira música é interrompida por um solo cortante de piano e blues rasgado ao estilo Janis Joplin. “Down em Mim”, é uma música que se sente e não se comenta, tudo nela é marcante: a voz, o baixo, o piano, a bateria, e a guitarra. Eles como um todo foram um só nesta canção.

Mais adiante no disco a canção “Rock’n geral” é um outro exemplo da coesão e entrosamento do grupo para formar uma canção de rock, onde todos os elementos se dão bem e formam uma música que precisa ser descoberta.

“Ponto Fraco” é uma outra visita rápida aos anos 60, onde se é cantado o amor de uma forma rasgada e bem Rock’n Roll. Assim como “Por aí”, é a canção “On the road” do disco e tem em si um pouco deste espírito.

Mas se encaminhando para a parte final do disco, “Todo amor que houver nessa vida” talvez pudesse ser uma música mais bem trabalhada. Aqui ela se iguala muito ao disco, o que não é ruim, mas do ponto de vista crítico talvez ela merecesse algo como em “Down em Mim”, um “UP” que chamasse mais a atenção, pois essa é uma das melhores letras do Cazuza.

“Bilhetinho Azul” completa o espírito “pé na estrada”, o Blues baiano se encarrega bem de fechar o álbum com chave de ouro.


Esse disco não é um álbum perfeito. Em certo ponto soa até um pouco infantil, mas por outro lado é um álbum muito à frente do seu tempo. Ele só poderia ter sido feito por alguém que buscava maturidade como o caso do Barão Vermelho. Talvez a estética dos anos 60 tenha sido atualizada e modernizada com toques de New Wave formando o que seria um pouco do Rock Brasil nos anos 80. Como um todo, esse álbum forma um belo cartão de visitas do que seria não só o Barão Vermelho, mas de toda geração do Rock Brasil. Talvez este seja o mais Punk de todos os discos dessa época, pois ele trazia consigo o espírito “Faça você mesmo”.


Comentários

Divulgue seu lançamento