Tema do Mês

Bibi Ferreira - O Rouxinol do Brasil

por Caio Andrade

terça, 07 de junho de 2022

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Em junho de 2022, celebramos o centenário de Abigail Izquierdo Ferreira, consagrada na cena artística como a nossa inesquecível Bibi Ferreira. Além de uma grande diva do teatro, se destacou também como cantora, compositora, diretora e apresentadora, dando, assim, nome ao tema do IMMuB este mês, que irá homenagear a sua trajetória e relembrar alguns outros nomes que brilharam não só nos palcos ou telinhas como também no mundo da música.

Bibi em “Bibi Ferreira canta repertório Sinatra”, no Teatro Renaissance, 2014 — Crédito: Wilian Aguiar

O(s) Voo(s) de um Rouxinol

Bibi possui uma história de vida bastante interessante desde o nascimento, podemos dizer. A data exata de quando a artista veio ao mundo ainda é um mistério, tanto em dia quanto em mês e ano. A maioria das fontes cita a data como 1º de junho de 1922; contudo, há fontes que relatam como dia 4, dia 10, como mês de julho e até de 1921.

Filha de outra lenda do teatro, Procópio Ferreira, Bibi fez sua estreia nos palcos com apenas 20 dias de idade. Isso porque a madrinha, a também atriz Abigail Maia, não encontrou a boneca que usaria em cena durante a peça “Manhãs de Sol”, de Oduvaldo Vianna. Quem precisa de uma boneca quando se tem uma criança de verdade? Esse parecia ser só o início de uma carreira longeva e bastante premiada que se iniciaria profissionalmente em 1941.

No Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, é dito que, por maior que tenha sido a ligação da artista com o teatro, ela também tinha forte vocação para a música. Na verdade, Bibi se mostrou muito completa e versátil ao longo dos anos, tendo sido destaque em todas as frentes que atuou, tanto nos palcos, quanto com a voz, quanto no backstage dirigindo espetáculos.

Nos anos 1950 gravou seus primeiros discos e nos anos 1960 e 1970 alguns dos espetáculos que estreou viraram álbuns, como é o caso de “Minha Querida Lady” (1964), “Alô, Dolly!” (1966) e “Gota D’Água” (1977).  Desse último, inclusive, saíram as canções de maior destaque na voz de Bibi: “Gota D’Água” e “Basta Um Dia”. Esse provavelmente foi um período áureo na carreira da artista: “Brasileiro, Profissão: Esperança”, inicialmente com Maria Bethânia e Ítalo Rossi, foi um dos grandes destaques dirigidos por Bibi. O espetáculo, que contava com músicas de Antônio Maria e Dolores Duran, virou um LP alguns anos depois, em 1974, estrelado por Clara Nunes e Paulo Gracindo, e virou um dos maiores sucessos do Canecão. Anos mais tarde, ainda contaria com uma terceira versão, dessa vez estrelada pela própria Bibi ao lado de Gracindo Jr., filho de Paulo Gracindo.

Já reconhecida há vários anos, o auge da carreira veio em 1983 interpretando a vida e a obra de Édith Piaf (1915-1963) em “Piaf”, com registro em LP. Com um sucesso arrebatador tanto de crítica quanto de público, a artista arrancou elogios e prêmios naquele ano se firmando como um nome de pujança até na cena internacional. Ela ainda gravaria um disco dedicado à obra da cantora, com “Bibi Canta Piaf” (2004).

Ativa até o fim da vida, faleceu de causas naturais em 2019 cerca de um ano após o anúncio da sua aposentadoria. Ela chegou a ver ainda o show “Bibi - Uma Vida em Musical”, que estreou no ano anterior, e emocionou o público de surpresa ao aparecer na plateia cantando uma canção de Piaf. O espetáculo volta a cartaz esse mês, em comemoração ao centenário da artista.  

Bibi Ferreira em Brasil 79, de 1979 — Foto: Acervo TV Globo

Outros 'Cantatores'

Além de Bibi, milhares de outros artistas também se dividiram e destacaram no universo da música além do teatro ou TV. Dentre esses nomes, podemos citar:

Dercy Gonçalves (1905 - 2008): centenária, irreverente, bem-humorada e multifacetada. Dercy foi um dos ícones do teatro de improviso no Brasil e ficou marcada por não ter nenhum pudor de se expressar como bem entendia. Muito ligada ao teatro e à TV, cantou em alguns filmes  e gravou também algumas canções, tendo feito sucesso com “A Perereca da Vizinha”.

Hebe Camargo (1929 - 2012): mesmo sendo um dos maiores mitos da televisão, considerada a “Rainha da TV Brasileira”, Hebe foi não só uma exímia comunicadora, humorista e atriz, como também cantora de rádio. Começou a carreira cantando no fim dos anos 1940 e gravou diversos discos até o fim da vida, o último deles em 2010 com “Mulher”.

Moacyr Franco (1936): artista versátil, emprestou seu talento para os palcos e telinhas e também para o mundo da música. Com um repertório bastante eclético, se destacou tanto como cantor e compositor e passeou por ritmos como baladas, marchinhas, sambas-canções e sertanejo. Dentre seus principais destaques como intérprete, temos a marcha “Me dá um Dinheiro Aí” e a balada “Balada Nº 7”; como compositor, “Ainda Ontem Chorei de Saudade”, grande sucesso de João Mineiro e Marciano.

Zezé Motta (1945): um dos nomes mais respeitados da teledramaturgia nacional, atuou com bastante sucesso também na cena musical. Gravou seus primeiros discos nos anos 1970 e o primeiro solo em 1978, “Zezé Motta”, com canções de nomes como Chico Buarque, Luiz Melodia, Caetano Veloso e Rita Lee.

Chico Anysio (1931 - 2012): multifacetado, de roteirista à dublador, foi um dos maiores nomes do humor no país. Na música, se destacou como compositor, tendo sido autor de canções bastante conhecidas como “A Fia de Chico Brito” e “Rio Antigo”. Fez sucesso também com o grupo Baiano e os Novos Caetanos ao lado de Arnaud Rodrigues e Renato Piau, em uma sátira aos Novos Baianos e Caetano Veloso.

Tony Tornado (1930): atualmente com 92 anos, possui uma carreira consolidada de ator e também como cantor. O artista, inspirado em James Brown, introduziu a soul music e o funk na música brasileira. Seu maior sucesso é “BR-3”, vencedor do V Festival Internacional da Canção (V-FIC) ao lado do Trio Ternura.

Norma Bengell (1935 - 2013): além de uma grande atriz e sex-symbol nacional dos anos 1950 até 1970, Norma teve grande atuação no mundo musical também, tendo lançado 2 LPs e gravado alguns 78 RPM. No segundo disco, “Norma Canta Mulheres”, interpretou apenas grandes cantoras e compositoras da MPB, de Chiquinha Gonzaga à Sueli Costa, tendo, inclusive, sido autora de uma das faixas. Os arranjos ficaram a cargo de Rosinha de Valença e Célia Vaz.

E não para por aí. Na nova geração, temos vários nomes de destaque também. Alexandre Nero, o famoso Comendador da novela "Império" da Rede Globo é um exemplo, ao lado de outras 'cantatrizes' que já lançaram alguns álbuns como Lucy Alves, Jéssica Ellen, Letícia Sabatella, Linn da Quebrada e Liniker.

Trazer Bibi neste tema do mês é reconhecer e reverenciar uma das maiores artistas que o país já viu. O que mais te chama atenção na carreira dela? Viva Bibi ontem, hoje e sempre!

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