Música

Blecaute: 100 anos do General da Banda

TEMA DO MÊS de DEZEMBRO!

sexta, 06 de dezembro de 2019

Compartilhar:

Chegou o general da banda, he he
Chegou o general da banda, he a...

Era com esse grito de guerra, vestindo a pele do personagem, que Blecaute abria, ano após ano, a folia carioca, desfilando pela Cinelândia logo nos primeiros dias do Carnaval. E vinha com sua fantasia tradicional: uma farda cheia de alamares e dragonas, como um regente de bandinhas do interior, como mandavam os versos do grande sucesso de sua carreira, General da banda, alcunha pela qual acabou ficando conhecido. 


Além de personagem folclórico do Carnaval carioca entre os anos 40 e 80, Blecaute foi, antes de tudo, um excelente cantor e compositor da música popular brasileira, especializado em sambas e marchinhas. Com a empolgação característica, o ritmo inconfundível e a potência de sua voz, ele entrou para o primeiro time de intérpretes de música carnavalesca, sagrando-se ao lado de nomes como Emilinha, Marlene, Jorge Veiga, Jorge Goulart e outros que tiveram a  sorte de cantar na Rádio Nacional no auge do prestígio e do sucesso. 

Nascido no dia 19 de novembro de 1919, mas só registrado no cartório em 5 de dezembro, comemora-se em dezembro de 2019 o seu centenário. Uma boa ocasião para relembrar uma figura tão importante para nossa música, mas tristemente pouco falada. 

Nascido no Espírito Santo do Pinhal, em São Paulo, Blecaute não teve uma infância fácil. Aos seis anos, ficou órfão de pai e mãe e foi morar em São Paulo. Lá, trabalhou, dentre outras coisas, como engraxate e entregador de jornais. Interessado pela música desde cedo, já com 14 anos realizou sua primeira apresentação, cantando na Rádio Tupi.

Mas sua carreira artística só começou pra valer anos depois, em 1941, quando passou a atuar na Rádio Difusora. Nessa época, adotou o nome artístico Black-out, por sugestão de Capitão Furtado, cantor e compositor famoso à época. Em inglês, o nome significa “preto por fora”, e logo foi abrasileirado pela imprensa para Blecaute

A consagração popular veio em 1949, quando gravou aquele que seria o grande êxito de sua carreira, justamente o samba General da banda (de Tancredo Silva, Sátiro de Melo e José Alcides), ao qual fez questão de ficar intimamente ligado até o fim da vida. 


Do feliz encontro com os compositores Armando Cavalcanti e Klécius Caldas, surgiram outros grandes sucessos da carreira de Blecaute. Músicas que se tornaram clássicos do repertório popular nacional e não passam despercebidas nos blocos de Carnaval até hoje. São exemplos Papai Adão, uma deliciosa sátira de costumes, Maria Candelária, que debocha da “liberdade” do serviço público, Piada de salão, tão pitoresca quanto irresistível, e Maria Escandalosa, aquela que “é mentirosa, mas é gostosa”, regravada por Ney Matogrosso em 1992 para a trilha sonora da novela “Deus Nos Acuda”.


Apesar de ter se consagrado como intérprete, Blecaute foi também um compositor ocasional, mas muito fértil. É de sua autoria, por exemplo, um dos grandes clássicos natalinos do cancioneiro brasileiro: Natal das crianças, que recebe centenas de regravações até hoje.

Além disso, compôs também a música Iansã para o Carnaval de 1973, A mulher do palhaço (com Jair Silva e Jadir Ambrósio), A sogra vem aí (com Haroldo Lobo e Milton de Oliveira), Cabral no Carnaval, Feliz Ano Novo, Lágrimas e muitas outras.


Apesar de sua incontestável importância para a música brasileira, Blecaute não recebeu o merecido reconhecimento por sua obra em vida, nem por parte da indústria fonográfica, e nem pela crítica musical. Pobre e quase sem poder fazer shows por causa de seus problemas de saúde, morreu em 9 fevereiro de 1983, pouco antes do Carnaval daquele ano. Não conseguiu realizar seu último grande sonho: gravar um LP relembrando seus maiores sucessos.

Talvez já seja tarde para realizar esse desejo, mas é sempre tempo de construir e reconstruir nossa memória musical, adicionando a ela elementos que por injustiça acabaram ficando de fora em algumas ocasiões. É tempo de ouvir e celebrar Blecaute, sabendo que ele ainda vive nos blocos de Carnaval, nas ruas do Rio, nos discos e na memória dos privilegiados que o conheceram. E quando o Carnaval chegar é bom prestar bastante atenção, porque pode ser que a gente escute lá no fundo, em algum canto, em alguma fita de confete, Blecaute pronunciar aquela sua frase célebre, profética, certeira: “Eu não gosto de Carnaval. Eu sou o Carnaval!”.

Ô abre alas que o General da Banda quer passar. O palco é todo seu, mestre! 


Texto por: Tito Guedes

Comentários

Divulgue seu lançamento