Bossa Nova: Antes, uma conversa necessária

A música popular brasileira sempre passou por fases de evolução. No final da década dos 20, no princípio do rádio, já começou a definir certos caminhos que seriam marcantes na MPB. Tocar violão ou cantar samba nessa época, não recomendava muito bem. Eram coisas de “tocadores de violão” e “seresteiros”, e a divulgação de músicas era feita somente através do “teatro de revistas” (Recreio, Carlos Gomes, etc.) nas vozes de Francisco Alves, Vicente Celestino, Aracy Côrtes, Sílvio Caldas e outros, o “teatro de revista” lançava os sucessos da época. Com o progresso do Rádio, nasceu uma maneira mais “digna” e “discreta” de um novo intérprete lançar músicas, de um novo compositor.

Nesse tempo, a vitrola e o disco iniciavam uma incrementação em suas vendas e assim, esses dois aliados, o disco e o rádio, começavam a comandar os destinos da nossa Música Popular.

Uma avalanche de novos talentos despontou, proveniente de várias camadas sociais, que contou até com a presença da Sociedade, na figura do cantor Mário Reis que, com sua voz pequena, “dizendo” mais do que cantando, talvez tenha lançado uma “bossa nova” naquela época.

Compositores como o médico Joubert de Carvalho, com suas marchinhas brejeiras, lançava uma nova cantora de nome Carmen Miranda.

Um estudante boêmio chamado Noel Rosa, com sua palavra e seu violão, marcava uma nova fase de evolução da música popular. E com ele apareceu o primeiro conjunto, o Bando de Tangarás, com Almirante, Noel, Braguinha e Henrique Brito.

Muita coisa nova surgia, mas tudo ainda com tonalidades amadoristas.

O próprio Bando da Lua, que aparecia como o primeiro conjunto vocal, não aceitava o “cachet” do Programa Casé (Rádio Sociedade e um programa muito importante na época), quando dizíamos: “Nós somos profissionais”.

Em 1932, César Ladeira inaugura uma nova fase na Rádio Mayrink Veiga e pela primeira vez, dá um cunho verdadeiramente profissional a esse movimento. Contrata a nata da música popular com exclusividade para a Rádio. 

O disco acompanhava essa evolução bem de perto e muitas outras fases decorreram desse movimento.

Ary Barroso, Custódio Mesquita e outros compositores caminhavam para frente com novas harmonias e novos estilos na composição de melodias.

Um homem chamado Radamés Gnatalli, um exímio pianista e arranjador, chegou no Rio Grande do Sul e iniciou o Rio de Janeiro, no final da década dos 30, no Rádio e no disco, uma fase nova na vestimenta da música popular. A esse homem devemos muito mesmo. Criou na orquestração, um estilo inteiramente novo, adaptando para os saxofones e metais as batidas do ritmo do samba, usando para isso, como referência, o baterista Luciano Perrone.

Todas essa fases porém, não tiveram nenhum “título” ou nenhum nome. Era a sequência natural da evolução da nossa música. A primeira que foi “batizada” foi a própria bossa nova.

ALOYSIO DE OLIVEIRA

Nota: "Este depoimento sobre 'Bossa-Nova' não tem nenhuma intensão de ser nformativo didático sobre o assunto. Ele é somente um panorama visto com os meus olhos, contendo fatos vividos por mim e observações exclusivamente minhas. Se fosse feito por outra pessoa que também viveu o assunto, esta poderia citar outros fatos e descrever outros momentos também importantes. Portanto, se alguma coisa aqui deixar de ser mencionada é porque não recorri a informações de outras fontes, e sim, baseei-me somente nas experiências em que tomei parte, nesta fase da música brasileira que foi uma das mais importantes de sua história." Aloysio de Oliveira