Música

"Cara de palhaço, pinta de palhaço": o Dia Nacional do Palhaço na MPB

por Caio Andrade

sábado, 10 de dezembro de 2022

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Você sabia que dia 10 de dezembro é comemorado o Dia Nacional do Palhaço?

A data começou a ser festejada no país em 1981 pela Abracadabra Eventos, em São Paulo, e por isso, vamos relembrar nesse dia os palhaços e as diversas palhaçadas em forma de canção ao longo da MPB.


Palhaço (Milton Amaral/Roberto Cunha)

Palhaço, não chore
Pois tua vida é mesmo assim
Impõe teu riso fingido
Que o teu romance não tem fim

Gravada por Odete Amaral, a Voz Tropical, em 1936, lembra bastante aquelas letras de Nelson Cavaquinho que tratam da dualidade da vida de um palhaço: fazer os outros felizes mesmo quando está completamente infeliz. A canção comenta como o palhaço deve manter-se fingindo alegria e ignorar a tristeza ou o tédio. Seria tipo o ócio eterno de um palhaço, reafirmado com versos como "tu nascestes para ser palhaço/palhaço tu hás de acabar". A figura do nariz vermelho apareceria em outras gravações de Odete como em “Pranto de Palhaço” e “Canta Palhaço”.



Palhaço (Nelson Cavaquinho/Osvaldo Martins/Washington Fernandes)

Sei que é doloroso um palhaço
Se afastar do palco por alguém
Volta, que a platéia te reclama
Sei que choras palhaço
Por alguém que não te ama

Uma das grandes canções de Nelson Cavaquinho com aquela assinatura de sofreguidão e desilusão amorosa. Foi lançada inicialmente por Dalva de Oliveira em 1951 numa versão mais lenta e regravada por vários outros artistas em ritmo de samba posteriormente, como Thelma Soares (em um excelente disco dedicado à obra do poeta), Clara Nunes, Jards Macalé e o próprio Nelson. Assim como na música anterior, trata da vida de um palhaço que precisa saber atravessar a sua dor para manter o público com um sorriso no rosto.



Palhaçada (Luiz Reis/Haroldo Barbosa)

Cara de palhaço, pinta de palhaço
Foi esse o meu amargo fim
Cara de gaiato, pinta de gaiato
Foi o que eu arranjei pra mim

Sucesso de 1961, teve incontáveis regravações naquele ano, dentre as quais: Elizeth Cardoso, Ivon Curi, Dóris Monteiro, Isaurinha Garcia e Miltinho, talvez um dos mais famosos. Diferente da música anterior, a canção traz agora uma versão não-literal do que é ser “feito de palhaço”, com o eu-lírico da música usando a expressão para demonstrar como foi feito de bobo por um amor. E ainda admite que se ela quiser voltar, ele vai manter a mesma tônica…quem nunca, não é mesmo?


Quero Alegria (Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito)

Eu já sei porque choras palhaço
Eu já sei que alguém não lhe quer
Enxugar o seu pranto
O que não falta nesse mundo é mulher

Quase 25 anos depois da primeira gravação de “Palhaço”, a temática do palhaço ganharia uma espécie de resposta na obra de Nelson Cavaquinho com “Quero Alegria”, composta em parceria com Guilherme de Brito. A canção, regravada por nomes como Emílio Santiago e Beth Carvalho, parece atualizar e refletir sobre o sofrimento daquele palhaço, terminando com “quero sorrir/quero alegria/não quero ouvir os teus ais”. Será que Nelson agora era mais otimista com a vida?



Sonhos de um Palhaço (Antônio Marcos/Sérgio Sá)

Vejam só
Que história boba eu tenho pra contar
Quem é que vai querer me acreditar
Eu sou palhaço sem querer

Muito bem interpretada por Vanusa em 1974, no álbum que sucedia o estrondoso disco de “Manhãs de Setembro”, a música novamente trata de uma felicidade apenas superficial na vida de um palhaço. Seria uma metáfora para nós que temos que fazer até o que não gostamos com um sorriso fingido no rosto (reforçado por versos como “o mundo sempre foi/um circo sem igual”)?



E você, lembra de mais palhaçadas na MPB? Deixe nos comentários. 



Caio Andrade é graduando de História da Arte na Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) e Assistente de Pesquisa e Comunicação no Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) desde 2020. Grande apaixonado por samba, pesquisa sobre o gênero há mais de uma década, além de tocar em rodas e serestas no Rio de Janeiro.

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