Prosa & Samba

Carta Aberta ao Poeta do Povo

segunda, 25 de março de 2024

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Um samba de amor 
Não depende só de inspiração”
Trecho de “Um Samba de Amor”, composição de Arlindo Cruz e Jorge Aragão.

Nas ondas sonoras da Rádio Usp em minha infância, após as palavras do ilustre amigo radialista Moisés da Rocha, a sonoridade profunda do samba tomava conta de casa. Entre o acompanhamento de minha mãe, dona Ruth na beira do fogão e as batucadas que explodiam nas enormes caixas de auto falantes do meu pai. No ar, estava a ressoar os seguintes versos:

Sera trocando olhares...

A sala de casa, virava um salão de festas, era aquele vermelho parquetina nos tacos de madeira onde os tapetes se tornavam nosso par. Minhas irmãs Lilian e Liliane  dançavam e a cada novo sucesso de sua trajetória está festa foi se repetindo.

Com o passar do tempo, tudo foi se mudando, a vida ganhando novos contornos, a minha velha casa se foi, mudamos de um casarão de 11 cômodos  para um quarto e cozinha repleto de esperanças e simplicidade. Mas a festa continuou…

Podemos sorrir, nada mais nos impede” 

Entre os churrascos de família, as viagens para sagração do divino São Benedito em Tietê e as festas de aniversário, essa coisa de pele prosseguiu. No topo das lições, entre Lua e Estrela. Os laia laias viraram parte de nossa rotina.

Os bons tempos de samba das rádios Cidade, Jovem Pan, 105 FM e Transcontinental, as dezenas de caravanas e shows, era o caminho no qual conseguimos nos conectarmos a sua voz de pertinho. Sempre com seus versos ao pé do ouvido! 

O tempo passou…

O menino descalço das ruas do Pq Peruche em São Paulo cresceu e igualmente ao seu estilo único de samba,mesclou,mudou e evoluiu. Me tornei aos poucos um “conquistador de cera". Como toda “borboleta cega” voei por aí, atrás de outros ritmos e de outras músicas, mas sempre fiel à arte popular do nosso chão.

A admiração prosseguiu…

Neste alvará, o enredo do meu samba era entoado ao vivo em duas coletâneas de tirar o fôlego, ave Maria!  Eu já um office boy, ainda não entendia o por que o “elevador é quase um templo” mesmo sendo malandro das ruas, um moleque atrevido, que ainda sofria com as mazelas de uma sociedade que consome e destrói. Me perdia com as repreensões da vida e o abuso de poder, mas sem dizer nada, sem retroceder, seu samba foi a candeia para que eu pudesse, hoje ser a voz de muitos, a louvar este ser maravilhoso. 

Hoje, aos 40 anos sou o interlocutor de muitos que gostariam de estar aqui, prestando está homenagem…sem ponta de dor, com feitio de paixão! Do fundo do meu, de todos e do nosso quintal, nesta 75 primaveras, eu jogo flores em vida através destas palavras e com a certeza de que o vento leve ao teu encontro.

Afinal de contas, entre os rabiscos de um papel de pão e sem esquecer do hoje e sempre lembrando do ontem, mantenho a lucidez através da sua voz. Sendo este que o sonho conduz.

Agradeço por tudo, 
Sr. Jorge Aragão da Cruz.


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