Cultura

Como Diz Leila Diniz - 50 anos de Saudade da "Garota do Pasquim"

por Caio Andrade

quinta, 15 de dezembro de 2022

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Em 2022, completa 50 anos de saudade da atriz Leila Diniz, uma mulher à frente de seu tempo que desafiou um Brasil moralista e conservador sob regime ditatorial. Leila chocou a sociedade da época em diversos momentos por ir contra as convenções da “família de bem” da época, fazendo o que tinha vontade sem se importar com o conservadorismo. Falar que estava tudo bem em “amar uma pessoa e ir para a cama com outra” ou deixar a barriga de fora quando ia à praia grávida foram só algumas dessas atitudes transgressoras de uma artista que partiu talvez no auge da carreira. 

Nascida em 1945, ela faleceu tragicamente em um acidente de avião em 1972, meses depois de completar apenas 27 anos. Por isso, como em nosso país nada fica isolado da música, vamos relembrar um pouco mais quem era a “Garota do Pasquim” através de canções.

Leila Diniz, grávida de seis meses, posando com a barriga de fora no mar de Paquetá, Rio de Janeiro. As gestantes nessa época usavam uma bata para cobrir a barriga quando iam à praia, o que causou revolta e perseguição da atriz, que chegou a perder oportunidades de emprego por causa desse "escândalo". Foto: Joel Maia (1971).

Com Erasmo Carlos, em “Coqueiro Verde” (Roberto e Erasmo Carlos, 1970) ela já era citada nos versos antológicos: “como diz Leila Diniz/homem tem que ser durão”. Nesse mesmo ano, Dóris Monteiro gravaria a canção “Garota do Pasquim” (Angelo Antônio e Carlos), que traz ao longo dos versos o espírito ousado de Leila dizendo que “da bossa nova ela já foi tema/na Banda de Ipanema toca tamborim” e “só sai da praia quando o sol se queima/e seu biquinininho é seu tira-teima”.

Essas canções parecem mostrar, assim como nos dias atuais, que mesmo diante de uma onda de conservadorismo, existem pessoas que aplaudem de pé essas atitudes tão “desafiadoras” – e que hoje em dia seriam encaradas como totalmente naturais.

Não tardou para as homenagens póstumas surgirem assim que Leila nos deixou. No mesmo ano do acidente de avião, Cláudya gravou “Memória Livre de Leila” (Taiguara, 1972), belíssima canção feita por um artista que também sofreu com a perseguição da ditadura. A música de Taiguara já anuncia no título quem era Leila Diniz com seu espírito libertário, mas que para alguns era visto como uma figura maligna: 

Essa menina livre que Deus chamou
Essa mulher de sol que se deu e amou
Essa viola amiga que harmonizou guerra e liberdade
Essa bruxa solta pela cidade
Não vai partir, não vai morrer…

Uma das mais belas homenagens, no entanto, viria 15 anos depois com Martinho da Vila em “Leila Diniz” (Martinho da Vila e Nei Lopes, 1987). A letra não só fala da saudade deixada por Leila como também critica a sociedade da época que tanto a julgou. Ele chega a fazer um jogo de palavras dizendo que a artista “era a estátua nacional da liberdade/ditando a lei do ventre livre no país”, fazendo uma alusão de um dos episódios marcantes na vida da artista ao processo de libertação dos escravizados no século anterior. Quanta poesia!

O ponto em comum em todas essas canções é reforçarem o legado de Leila Diniz como sendo essa figura livre e que desbravou os falsos moralistas de plantão de um país que não parece ter mudado tanto nesse sentido. Concordamos que ainda hoje precisamos de várias outras Leilas por aqui, não é?

E você, conhecia essas canções? Deixe nos comentários.  



Caio Andrade é graduado de História da Arte na Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) e Assistente de Pesquisa e Comunicação no Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) desde 2020. Grande apaixonado por samba, pesquisa sobre o gênero há mais de uma década, além de tocar em rodas e serestas no Rio de Janeiro.

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