“Conectar”, o segundo disco do cantor e compositor paulista Wem (Independente/Distribuição Pomello) pode inaugurar uma tendência cada vez mais freqüente. A criação coletiva, compartilhada com o público arrebanhado na internet.
Tudo começou num vídeo caseiro postado por ele no You Tube, em setembro do ano passado, convidando quem quisesse a participar da produção. Com cerca de 20 canções escritas por ele, sozinho ou com os parceiros Chico Salem e Amanda Basani, desde o primeiro álbum, “Começo” (2010), ele postou vídeos caseiros na base de voz e violão com as candidatas para que o público das redes sociais opinasse sobre as que deveriam ser escaladas no CD.
Simples “likes” ou até observações técnicas como a de Paulo Tatit do Palavra Cantada (“a supressão de um acorde da primeira parte deu mais dramaticidade a “Lola”’) foram levadas em conta neste mutirão de interatividade que chegou a reunir 2600 inscritos e facilitou a colheita de verba, via crowdfunding, para a materialização do disco, gravado e mixado no estúdio 12 Dólares, em São Paulo, sob a produção do solista, que tocou o violão e Fábio Pinczowiski, também guitarrista do disco.
Guilherme Kastrup ficou com a bateria, Ricardo Prado, baixo, pianos, teclados, sanfona. Dadi Carvalho (produção, piano e baixo) e Bruno Buarque endossam a saltitante faixa de abertura “Se eu te encontrar”, de refrão grudento.
Marcelo Jeneci canta, toca piano e sintetizador na canção espraiada, “Antes”. Já “O amor te pegou” homenageia o icônico disco “Tábua de esmeraldas”, de Jorge Ben.
A roqueira “Máquina humana” (“é tanta coisa que eu faço/ que parece magia/ é tanta coisa que eu sinto/ que vem do além/ tem hora que a conexão parece que pifa”), segundo o autor, “um punk falsificado”, remete a “Cérebro eletrônico” de Gilberto Gil.
A faixa título funciona como uma espécie de antídoto manifesto para tanta tecno-fissura virtual: “um abraço, um amasso é melhor que essa tela fria/ vai na minha/ isso é alta tecnologia humana/ se enrosca na rede real do amor a dois”.