De sangue, suor e lágrimas, a música viva de Arthur Verocai

Nome que chama a atenção pela ampla colaboração na música não só brasileira como do mundo, o músico, maestro e multi-instrumentista Arthur Verocai teve um reconhecimento tardio pelo público, tendo sua obra resgatada somente após os anos 2000, e permanece onde sempre esteve, entranhado por linhas sonoras e produções há mais de 50 anos!

Nascido no Rio de Janeiro em 1945, Arthur Cortês Verocai iniciou seus estudos de violão popular em 1962 com Roberto Menescal e piano com Vilma Graça, meio frutífero da música nacional que o levou a compor a trilha sonora para a peça infantil ‘Os Ciganos da Floresta’ no ano seguinte, e participando do movimento ‘Músicanossa’, que reuniu nomes como Milton Nascimento, Roberto Menescal e Marcos Valle em 1968, começando a compor seus primeiros arranjos e contribuindo então para os mais diversos trabalhos da música nacional.

Filho de um amante da música, a lista de obras no qual participa Arthur é extensa, que em meio a composições e arranjos deu o pontapé em uma carreira influenciada por ritmos como o jazz, funk, soul e bossa nova, sempre gostando de trabalhar atrás dos palcos

Enquanto trabalhou para a Continental, assinando a produção de diversos trabalhos, produziu e arranjou dois discos da cantora Célia, e foi quando a gravadora o convidou para gravar seu primeiro disco solo.

Então, em 1972 o disco homônimo ‘Arthur Verocai’ é lançado. Feito com a condição de ser criado com total liberdade do músico, o LP que reúne 10 faixas contém uma atmosfera própria, com quase todas as letras escritas pelo poeta paulista Vitor Martins, e que nos leva a mais diversos horizontes a serem explorados, da melancolia ao revival, do mundano ao hermético, traços de obras que marcaram a década.

Como um idealista, Verocai pouco se preocupou com vendas ou sucesso, pois seu real intuito era fazer música, e como o próprio relata, "Esse disco é um pouco gritado, reflexo da nossa juventude. Tanto os arranjos quanto as letras expressam tudo o que estava guardado na gente e que queríamos gritar. Tudo tem um significado.", contendo críticas abstratas que pela falta de compreensão passaram pela censura.

Sendo um trabalho fora dos padrões do mercado fonográfico da época, que teve preferência em projetar somente artistas de rápida aderência do público, o disco de Verocai foi recolhido, dado que arranjadores em geral no país ocupa uma posição menos destacada do que cantores e compositores, motivo pelo qual o seu disco se tornou peça rara nas coleções de vinis.

Mesmo sendo pouco repercutido, seu disco de estreia reuniu participações de Oberdan, Toninho Horta, Paulinho Tapajós, Célia, entre outros, nomes em constante movimento na música nacional.

Apesar de esquecido, Verocai seguiu no caminho da música, assinando diversas produções e passando a levar jingles como seu ofício.

Foi então que ao fim dos anos 2000, época que o produtor e conhecido de Verocai, Alexandre Kassin, teve noção da raridade do álbum quando de uma visita a uma loja de discos no Japão que a gravadora norte-americana Ubiquity entrou em contato com Verocai para relançar seu disco.

A raridade do LP e sua reedição foram os principais motores que proporcionaram a redescoberta dessa jóia esquecida da música brasileira, que passou a ser difundido principalmente dentro da cena hip hop norte-americano a partir de DJs e colecionadores de discos, não levando muito tempo para Arthur Verocai ser convidado para uma apresentação ao vivo nos Estados Unidos.

O novo olhar sobre seu trabalho, que passou a ser cultuado 40 anos após seu lançamento, mostra a atemporalidade de Arthur Verocai, que teve seu nome e obra resgatados, ganhando o prestígio que sempre lhe coube, e ao explorar em sua trajetória a riqueza melódica e harmônica, se mostra como sinônimo de liberdade criativa, marcando a música brasileira como um maestro da experimentação musical!

REFERÊNCIAS

https://www.bbc.com/portuguese/geral-45228749
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa638036/arthur-verocai
https://artebrasileiros.com.br/cultura/o-acerto-de-contas-de-arthur-verocai/