Cultura

Documentário aborda a ancestralidade e a tecnologia dos “Tambores da Diáspora”

segunda, 14 de março de 2022

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Nascido no Morro do Querosene, em São Paulo, o cineasta e artista de múltiplas linguagens João Nascimento celebra seu território de origem como uma grande referência dentro de sua trajetória após dirigir e lançar, em 2021, duas importantes obras na cena cinematográfica, intituladas “Danças Negras” e a websérie “Escola do Samba”. Agora, sob a perspectiva dos tambores, sua mais recente produção, “Tambores da Diáspora”, tem por motivação a necessidade de contar histórias que são invisibilizadas no ambiente das artes eurocentradas, além de documentar narrativas que valorizam devidamente a cultura negra no Brasil, contribuindo para o processo de descolonização cultural. Para Nascimento, o audiovisual tem sido uma ferramenta que cada vez mais serve como meio de registro de suas pesquisas no campo das artes negras que já conta com duas décadas de projetos potentes retratando histórias que instigam o despertar de reflexões sobre o modo de vida social, político, artístico e cultural da diáspora africana. 

“Eu cresci aos pés dos tambores, nas rodas de capoeira, aos sons dos batuques, nos toques para os ibejis nas festas de Caruru que acontecem há 38 anos no quintal de minha casa. Então, o filme “Tambores da Diáspora” nasceu da curiosidade de compreender e aprofundar esse conhecimento sobre esse vasto universo percussivo” , afirma Nascimento. 

O filme traz depoimentos e narrativas de grandes nomes das batucadas como Silvanny Sivuca, Beth Beli, Dinho Nascimento, Simone Sou, Dinho Gonçalves, Pedro Bandera, Marcos Suzano e Paulo Dias, que, por meio de tomadas espontâneas ilustram performances, identidades, pensamentos e reflexões que atravessam o racismo cultural, a espiritualidade e a ancestralidade. Além disso, fica evidente ao longo do filme que existe uma organização de composições e arranjos fundamentados nas células rítmicas executadas pelos tambores, que passam a ser interpretadas e incorporadas por outros instrumentos e escolas musicais. 

“Diante de uma sociedade colonialista e fundamentalista, que em tempos não distantes possui um histórico de confiscar atabaques em espaços sagrados de matrizes africanas, bem como ainda hoje persegue terreiros de culto aos orixás, o tambor torna-se símbolo de resistência negra e brasileira, objeto artístico-político central deste documentário que possui relevância em difundir e valorizar o instrumento e sua versatilidade musical, abordando a complexidade de toques, técnicas e narrativas que dizem respeito ao ambiente sociológico da "comunidade dos tambores", diz Nascimento. 

O documentário começou a ser rodado em 2012, em parceria com o percussionista Pixú Flores, no mesmo período em que a dupla produziu o disco “Afro2 Laboratório de Ritmos Afro-brasileiros”. Muitos dos personagens presentes no filme foram artistas que participaram do disco e foram entrevistados em película como um registro. Em 2020, ao olhar para esse acervo, Nascimento entendeu que tinha material para um longa. No mesmo ano veio o aporte da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo para dar continuidade às gravações e à finalização do filme. 

“Em uma sociedade arraigada de valores racistas e escravocratas, que na disputa do imaginário cultural brasileiro valoriza restritivamente as culturas hegemônicas de matrizes européias, a imagem dos tambores e seus tocadores são associadas a valores carregados de preconceitos, estereótipos e desqualificações técnicas e intelectuais. “Tambores da Diáspora” é um filme que se propõe a investigar a erudição implicada no instrumento e sua comunidade, perpassando pelos fundamentos e seus desdobramentos contemporâneos. O documentário busca romper com clichês, evidenciando a importância do pensamento percussivo vinculado à diversidade de produções artísticas consagradas no ambiente da música, a sua relação com a dança, com o corpo e com a tecnologia”, finaliza Nascimento. 

Assista ao trailer:


Sobre os personagens entrevistados 

O filme é narrado por depoimentos e performances de artistas oriundos do vasto universo dos tambores, músicos experientes e consagrados no ambiente da percussão, que advém de territórios estéticos diversos, porém com abordagens complementares, contribuindo para uma trama que perpassa a visão antropológica, a técnica dos instrumentos, os ritmos, os processos artísticos criativos, a religião do candomblé e as movimentações políticas. Na escolha dos personagens percebe-se a notoriedade no tema, a experiência, a trajetória, a função profissional e a importância da representatividade em grupos percussivos e comunidades. 

A participação de Hélio Nogueira, ogã e luthier de atabaques, por exemplo, entrelaça a visão ancestral dos mestres Dinho Nascimento e Dinho Gonçalves, percussionistas consagrados mundialmente que dialogam com a geração de Silvany Sivuca e seus tambores digitais, sem abandonar as questões políticas enfatizadas em falas de Fernando Alabê, fundador do bloco Ilú Inã, e Beth Belli, fundadora do Bloco Ilú Obá de Min. Vale ressaltar também a participação de Paulo Dias, pesquisador e fundador da Associação Cachuera, de Marcos Suzano, percussionista que desenvolveu uma técnica própria de pandeiro, e o virtuosismo de Simone Sou com sua percuteria. O percussionista Pedro Bandera amplia a discussão trazendo sua bagagem cubana, que interage com o corpo tambor de Aluá Nascimento, criando intersecção com o dançarino Enoque Santos sobre a relação da percussão e a dança negra. 


Sobre o diretor João Nascimento 

Artista multi-linguagens, cineasta, pesquisador de cultura negra na diáspora, formado nas festas de caruru, nos batuques, sambas de roda e nas movimentações de capoeira no quintal de sua casa no Morro do Querosene. Graduado em Produção Musical pela Universidade Anhembi Morumbi, é diretor-fundador do Instituto Nação e coordenador do Ponto de Cultura Afrobase. Realizou a direção, roteiro e trilha sonora do longa-metragem “Danças Negras”; direção, roteiro e trilha sonora do longa-metragem, “Tambores da Diáspora”; e direção da websérie “Escola do Samba” produzida em 2021 pela Kalakuta

Filmes. Integrante da Frente 3 de Fevereiro desde 2004, realizou a cocriação do filme média-metragem “Zumbi Somos Nós”. Diretor-fundador da Cia Treme Terra e professor de percussão desde 1999. Já atuou como percussionista em diversos países, como Alemanha, Estados Unidos, França, Cuba, Bolívia, Bulgária, Noruega, Suécia e Inglaterra, entre outros. 

Serviço 
Cine Marquise 
Av. Paulista, 2073 - Bela Vista, São Paulo - SP, 01311-300 
Telefone: (11) 3289-7275 
Data: 23/3 (quarta-feira) 
Horário: 19h30 
Ingressos: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia) 
Duração: 75minutos 
Faixa etária: livre
Ingresso: https://www.ingresso.com/filme/tambores-da-diaspora?city=sao-paulo&partnership=cinemarquise#!#data=20220323 


Ficha Técnica Diáspora 
Direção: João Nascimento 
Produção: Kalakuta Filmes 
Artistas entrevistados: Aluá Nascimento, Beth Belli, Décio Gioielli, Dinho Gonçalves, Dinho Nascimento, Enoque Santos, Hélio Nogueira, Fernando Alabê, João Nascimento, Marcos Suzano, Paulo Dias, Pedro Bandera, Silvanny Sivuca e Simone Sou 
Produção executiva: Fernanda Rodrigues 
Edição e Montagem: Jéssica Modono 
Produção: PedroHenrique 
Coordenação financeira: Alexandre Alves 
Câmeras: Beto Mendonça, Jeannine Ferreira, João Nascimento, Fernanda Rodrigues e Millena Heluana 
Captação de áudio: Pedro Henrique e Beto Mendonça 
Transcrição: Pedro Henrique 
Legenda e tradução: HD Cideo-Cinematográfica Ltda. 
Pesquisa: João Nascimento e Pixú Flores 
Organização de áudio: Pedro Henrique e João Nascimento 
Trilha original e roteiro: João Nascimento 
Mixagem Stereo e 5.1: Pedro Noizyman (EstúdioJLS) 
Participações de artistas: Erick Jay, PixúFlores, Mestra Dofona, Mestre Othelo, Manoel Trindade, Pedro Henrique e Wallas Pena. 


Sobre a Produtora Kalakuta Filmes 

A Kalakuta é uma empresa cultural especializada em produções cinematográficas e fonográficas, possuindo em seu histórico diversos trabalhos relacionados à produção de filmes, vídeos institucionais, clipes musicais e conteúdos publicitários. Em 2019 foi contemplada no Edital SP Cine Distribuição de filme, realizando em 2021 o lançamento do longa “Danças Negras” em salas de cinema de mais de 10 Estados do Brasil. Em 2021 também lançou a websérie “Escola do Samba,” projeto selecionado em 2019 no edital ProAC festivais de Arte. Em 2021 produziu o documentário “Tambores da Diáspora”, filme

selecionado no 2º Festival Cinema Negro em Ação do Rio Grande do Sul, sendo exibido na Cinemateca Paulo Amorim em Porto Alegre. O filme, que contou com patrocínio do edital PROAC da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, foi selecionado no edital PROAC 2021 categoria “Licenciamento” (sem exclusividade) para longa-metragens.  

Site: www.kakutafilmes.com.br 

Canal youtube: https://www.youtube.com/c/kalakutaproduções

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