Supersônicas

Duo Gisbranco em “Pássaros” dá asas sonoras aos poemas de Chico Cesar

por Tárik de Souza

quarta, 17 de janeiro de 2018

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Formado pelas pianistas Bianca (filha de Egberto) Gismonti e Claudia Castelo Branco, o Duo Gisbranco se reinventa no terceiro álbum, “Pássaros” (Mills). São 15 poemas do compositor paraibano Chico Cesar musicados pelas duas, que não se apresentam apenas a frente dos respectivos teclados. Também cantam.

Em solos, como o de Claudia, na delicada “Quase mar” ( “o amor é um rio danado/ difícil de atravessar a nado”) ou Bianca, na ecoante “Cachoeira” (“de onde vem, São Francisco, essas moças/ rosadas de rio/ sobrancelhas grossas”) com emissões superpostas. Na maior parte das faixas as duas vozes se entrelaçam, tal como os pianos, a exemplo da contra ritmada “Arco íris” ("onde o pensamento bebe/ onde a folha brinca de trapézio”), calcada nos couros percussivos, ou no baião “Heroína nordestina” (“é uma brasileira franzina/ com pinta de cangaceira/ de guerrilheira menina”). Bianca empresta apenas a voz a “Sente falta a casa”, enquanto Claudia, ocupa-se do piano e vocal - ambas alicerçadas pelo violoncelo de Jaques Morelembaum. Ele é apenas um dos convidados do disco, que tem o próprio co-autor geral, Chico Cesar, na encadeada esgrima de palavras e imagens,  “Vejouço” (“corro que é muito ligeiro quem ainda ontem/ quem ainda estaca/ durmo que está de vigília quem ainda ontem/ quem ainda sonho”), na onomatopaica “Turuna” e na bossa coloquial “Aqui no rio”, ao lado de Eugenio Dale. Monica Salmaso pontifica na cálida “Solua”, escoltada pelas vozes e piano (a quatro mãos) do Gisbranco, mais o cello alicerce de Morelembaum. André Mehmari sola o piano para o canto do Duo em “Fio de sisal”, Sérgio Santos tece o vocal de “Pássaros” e “Borbotoando”, enquanto a portuguesa Maria João injeta estranhamento vocal em “Bibi e a bicicleta” (“As figuras do quadro observam a pianista/ como se ela fosse um ser vindo de outro mundo/ como se ela fosse atravessar o quadro e a parede”), num disco pautado pelo lirismo e a ruptura, que levou seis anos para ser lapidado.


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