Supersônicas

E a banda diz: assim é que se faz!

Projeto Ventura Sinfônico

Quarta, 15 de março de 2017

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O projeto Ventura Sinfônico é uma leitura desenvolvida pela Orquestra Petrobrás Sinfônica (OPES) para o álbum Ventura do Los Hermanos. Dia 11 de fevereiro, fez parte das últimas apresentações do projeto, que segue agora para Porto Alegre e São Paulo.

Quem esteve na Fundição Progresso integrou e sentiu nesta noite grandiosa, o concerto da OPES. Os trinta e seis músicos da orquestra, todos os técnicos, o maestro Felipe Prazeres, os cantores Roberta Campos e Rodrigo Costa e nós - o público - estávamos conectados numa linha de vibração crescente desde o início até o fim.

Podíamos ver nos telões localizados nas laterais do palco a expressão de cada músico, canção após canção, estavam reluzentes sobre a batuta e entusiasmo da (ainda bem) excêntrica performance do jovem maestro e elegância do coro estabelecido numa constante da multidão.

Segundo o produtor da orquestra o público da noite foi em torno de 3.000 pessoas. O músico Daniel Prazeres (viola) após o concerto nos confidenciou que a sensação de estar sendo aclamado durante toda a apresentação é algo indescritível!

Que os fãs dos Los Hermanos são apaixonados já sabíamos o que gerou estranheza foi a profusão harmônica de sons e sensações deste acontecimento, vida longa a OPES e aos seus futuros projetos, ouvimos dizer que novas releituras virão! Aguardem!

                                                                                                                                                                por Catarina Dall'orto 

Conversamos com o maestro Felipe Prazeres sobre as últimas apresentações do Ventura Sinfônico. Ele elucida pontos importantes para o debate sobre a popularização da música clássica, e conta como é essa experiência para a Orquestra. 

Nesse concerto a OPES, orquestra tradicionalmente clássica, apresenta um disco inteiro de MPB. Quais são as impressões que você teve, como maestro, sobre o desenvolvimento desse projeto? 

Felipe: Na verdade já é um viés da Orquestra Petrobrás Sinfônica se tornar mais eclética, e não ficar somente no mundo clássico, que é uma coisa que a gente já faz a muito tempo desde que a orquestra foi criada. O fato de apresentar um álbum dos Los Hermanos, reorquestrar isso, é uma forma da gente aproximar a Orquestra Sinfônica do público jovem, que não tem o costume de ir num concerto. Então nada melhor do que a gente tocar o que eles querem ouvir também, eles se sentem parte disso, se identificarem com o que estão ouvindo. E ao mesmo tempo, automaticamente, sem fazer força, eles vão conhecendo todo o universo de uma orquestra sinfônica, seus naipes, sua diversidade de timbres, a troca. As melodias dos Los Hermanos são bem bonitas, e o nosso arranjador, Marcelo Caldas, teve muito carinho e cuidado, foi bem fiel em preservar as melodias, e distribuir isso na orquestra de uma forma bem democrática, pro público se identificar e poder cantar junto com a gente. 

O Ventura também é um disco que fez e faz muito sucesso...

Felipe: Sim, acho que a escolha também da gente começar essa série álbuns pelo Los Hermanos tem toda uma questão simbólica pela importância do álbum e não só por isso, mas por servir muito a orquestra, fica tudo muito orgânico, é uma mistura muito orgânica que a gente conseguiu fazer e deu certo né? Sem contar que a banda não tem tocado mais junto e tem um público fiel até hoje que de certa forma fica carente de ouvir os grandes sucessos da banda, e a gente tá reeditando isso. O público permanece unido e tem uma característica nos shows que é eles sempre cantarem junto com a banda num grande coral. E a gente fez isso no João Caetano, no ano passado, e eu propus, meio despretensiosamente falando, pras pessoas cantarem, e a resposta foi imediata, eles começaram desde a primeira música a cantar, e junto com os cantores também (tem dois cantores que cantam também metade das músicas e a outra metade só a orquestra toca). Especialmente nas músicas que só a orquestra tocava, acabou sendo a orquestra com um coral. O mais interessante, é que é um coral que em momento nenhum sobrepõe ao volume da orquestra, eles cantavam e ficavam atentos também a todas as nuances, dinâmica, por exemplo, que é uma coisa muito comum na nossa vida de músico de orquestra, a gente ta tocando uma coisa forte e depois vai pra uma coisa que a gente chama de piano, que é uma coisa com um volume um pouco menor e volta, e o público acompanhou isso, e sem combinar, isso que foi muito interessante. Foi uma catarse que aconteceu naquele momento e agora eu fiquei mal acostumado né, porque a gente vai querer que isso aconteça em todas as edições. 

Essa coisa da participação ativa do público durante todo concerto é bem inusitada né?

Felipe: É. Só frisar que assim, num concerto normal, o público não se manifesta, a gente costuma a estar em silêncio. Porém nós como músicos e artistas, sentimos a vibração da plateia, sentimos isso no ar. Mas é diferente dos Los Hermanos, a gente tá fazendo um álbum de MPB, que é cantado, que a letra é tão importante quanto a música, o fato deles cantarem em momento nenhum atrapalha a gente, pelo contrário porque a gente passava uma energia para o público de permissão né, o público cantando empolgava a gente também, então virava uma bela de uma troca, tornando plateia e palco uma coisa só. Isso é o tipo de espetáculo de hoje sabe, a gente quer cada vez mais aproximar o público e tornar aquilo uma coisa só. 

Para você, qual é a importância de popularizar a música clássica no cenário musical contemporâneo? 

Felipe: Eu penso que hoje uma orquestra sinfônica, no mundo que a gente vive hoje de informações tão rápidas, de tecnologia na comunicação, e das pessoas dificilmente se desconectarem, é complicado hoje um jovem sentar numa sala para assistir um concerto, ou deixar de fazer as coisas que está fazendo para contemplar um concerto, até para ler um livro, ou ir ao teatro. Então eu acho que uma orquestra sinfônica, por exemplo, é um organismo que precisa se adaptar, se reinventar. A OPES, não só na serie álbuns agora, de alguns anos pra cá, tem feito algumas ações, como tocar com o Monobloco por exemplo na Fundição Progresso, em pleno carnaval, ter uma série oficial dentro de uma cervejaria, essa é a forma da gente aproximar e fazer ouvir o que querem ouvir. Eu acho que com tudo que a gente tá fazendo, o objetivo principal é desmistificar uma orquestra sinfônica, mostrar que é um organismo que tá aberto a qualquer gênero, a gente não precisa tocar somente música clássica, a gente pode tocar qualquer gênero, e pra isso a gente precisa se reinventar, pra agregar e não dividir. Acho que isso é o nosso mote principal no grupo. 

O IMMuB é um instituto de preservação e memória da música brasileira. Os concertos, grande parte das vezes, tem muita coisa internacional em seus repertórios, qual o valor, para você, e para música brasileira, de realizar um concerto só com peças nacionais? 
Felipe: A gente entra no reconhecimento da riqueza musical que o Brasil proporciona e proporcionou, com grandes compositores, o maior compositor das Américas, que é Villa-Lobos por exemplo, e compositores que vieram depois, como Pixinguinha. O choro, o samba, é muito ritmo e muita riqueza. Obviamente é difícil ignorar os compositores que fizeram parte da história da música, Bach por exemplo, que foi o pai dos compositores, Mozart, Beethoven, ninguém quer comparar se isso é melhor ou pior. A gente tem que manter isso sempre, porque isso é um patrimônio da humanidade, mas tem patrimônios da humanidade que são nacionais também, que são genuinamente brasileiros, e neste ano, a Petrobrás Sinfônica tem, por exemplo, um selo que se chama Villa-Lobs, e vamos tocar Villa-Lobos em todos os concertos. A música brasileira tem que ser preservada e a MPB nem se fala, que é outro patrimônio da humanidade. Esse patrimônio é nosso e ele tem que ser cada vez mais divulgado. Pra gente é muito gratificante poder tocar só música nacional, a gente faz isso com muito orgulho e com muito amor. Mas assim, a gente também vai reeditar Michael Jackson no final do ano. Eu acho que esse lado eclético é importante, porque é muita coisa pra se fazer dentro desse nicho do rock, do pop, dá pra fazer muita coisa. Mas nada melhor que começar com um álbum brasileiro, de uma banda nacional, valorizando o que é nosso. 

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