Supersônicas

Elza Soares se reinventa mais uma vez em “Deus é mulher”

terça, 29 de maio de 2018

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A indomável Elza Soares conseguiu de novo. Cantora que injetou sambalanço e inovações no gênero primal, em paralelo com a ascensão da bossa nova, na passagem dos 1950 para os anos 60, a carioca nunca parou de se reinventar.

Virou o milênio com uma obra prima (“Do cóccix até o pescoço”, 2002), dirigida por Zé Miguel Wisnik, associado a vanguarda paulistana. E moldou outro míssil arrasador, “A mulher do fim do mundo” (2015), ligada aos novos revolucionários paulistas, que mais uma vez sobem com ela ao pódio, no fulminante “Deus é mulher” (Deck), gravado no RedBull Studios (SP) e Tambor (RJ) entre 18 de dezembro de 2017 e 20 de fevereiro de 2018.

Submetido a uma meticulosa escolha de timbres e texturas - como o anterior, produzido pelo baterista Guilherme Kastrup, junto com o núcleo do Passo Torto (Rômulo Fróes, Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos), o disco é ainda mais engajado, embora em algumas faixas menos sombrio.

Como “Clareza”, de Campos, “Língua solta”, de Fróes e Alice Coutinho, a mesma dupla autoral do expresso (na sonoridade) e explícito (na letra), “Eu quero comer você”, adornado por flauta, saxes barítono, tenor, alto e soprano, de Henrique Albino: “eu quero dar pra você/ mas não quero dizer/ você precisa saber ler/ a linha da minha mão/ a minha indecisão”.

Também transbordante é “Banho”, de Tulipa Ruiz, calcada em batidas eletrônicas e apartes de clarone (Maria Beraldo), mais percussão e coro do grupo de mulheres Ilu Obá de Min: “acordo maré/ durmo cachoeira/(...) misturo sólidos com meus líquidos/ eu não obedeço porque sou molhada”. Outro libertário toque feminino sobre a questão sexual é “Um olho aberto” (“cada um inventa a natureza que melhor lhe caia”), da percussionista Mariá Portugal. Um resquício de samba cadencia o sarcástico “Hienas na TV” (Dinucci/ Clima), com percussões de Os Capoeira e o Quarteto de Cordas Os Caipira: “digo sim pra quem diz não e pra quem quiser ouvir/ eu digo não”.

O mesmo Dinucci (em parceria com Edgar, o versador da faixa) advoga pelo ensino da cultura afro brasileiras nas escolas em “Exu nas escolas” (“Não é Xou da Xuxa”) e propõe tomar de volta a alcunha roubada do Deus iorubano. “Credo”, de Douglas Germano, também aborda a religiosidade: “eu não quero o medo/ me dando sermão”. E, embora o título saia da aguda “Deus há de ser” (“Deus é mãe/ de todas as ciências femininas), do carioca Pedro Luís, é de Germano o manifesto identitário do disco, “O que se cala”, agulhado pelo naipe de sopros do Bixiga 70: “Mil nações moldaram a minha cara/ uso minha voz pra dizer o que se cala/ o meu país é o meu lugar de fala”.

O lançamento do disco, que além das plataformas digitais, também tem edições em CD, vinil e cassete, será dias 31 de maio, 1, 2 e 3 de junho, no SESC Vila Mariana, em São Paulo.


SERVIÇO:
Sesca Vila Mariana - SP
Dias: 31 de maio (quinta) às 18h //  1 e 2 de junho (sexta e sábado) às 21h // 3 de junho (domingo) às 18h.
PARA COMPRAR O INGRESSO CLIQUE AQUI!


Fonte da imagem: Divulgação (Foto de Daryan Dornelles)


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