Música

Embrulha pra presente: disco de Bethi Albano é um respiro na pandemia

sábado, 01 de agosto de 2020

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De um mergulho profundo nas raízes da música brasileira e nas dores e belezas presentes na vida da mulher, nasce "Embrulha pra Presente", disco da compositora, cantora, violeira, violonista, Bethi Albano. Já disponível em todas as plataformas digitais, o álbum é marcado por distintas sonoridades, que trazem a sensibilidade de uma trajetória de 66 anos da artista, lapidada por encontros, trocas, ritmos, desejos e amores. 

Através das letras de Bethi, Suely Mesquista, Mathilda Kovak e Marcia Zanelatto, todas compostas na poética das cordas e da voz de Bethi, o álbum faz uma crítica contundente ao machismo, com pitadas de humor e ironia. A abertura com a letra de Mathilda para a música "Nave Maria", já apresenta essa potência feminina e o que esperar desse presente: 

Eu admiro a mulher muçulmana / Sempre à margem da espécie humana / Tanto quanto a americana / Submissa como a mulher que vai à missa / Tão oprimida quanto a mulher ocidental / Não faz diferença / Se é véu / Se é fio dental / Se é moda / Se é crença / É tudo igual.”

Com a direção musical de Eduardo Andrade e a participação de 27 músicos, as nove canções, passeiam pelo baião, balada, jazz, samba, valsa e rock, e com figurinos distintos: ora viola caipira, ora quarteto de cordas, ora arranjos tecidos, trazem para o disco uma aura roça’n roll  – gênero genuinamente brasileiro, batizado por Mathilda e consagrado no tempo da parceria de Bethi com uma das maiores compositoras do Brasil, responsável pelos grandes hits de Secos e Molhados, Luhli.

O encontro com Luhli por volta dos anos 2000, descortinou um novo horizonte para Bethi. Encantada com a sonoridade da viola da parceira e inspirada pela grande violeira Helena Meirelles, ela que antes só compunha com o violão, começou a compor também com a viola. Como ela ressalta, esse grande amor nasceu, porque a viola "é um instrumento brasileiro, muito popular, que está ligado a todo um universo de música de raiz. É poesia em forma de instrumento”. 

Poesia que trouxe para o disco "Todo Céu pra Voar" (2002) – fruto maduro desse grande encontro de sensibilidade e força espiritual com Luhli. São 17 faixas, que celebram a vida e o amor à natureza, emergidas de uma profunda pesquisa em música de raiz brasileira. Como abertura do disco, a faixa "Transpiração" de Alzira Espíndola e Itamar Assumpção, questiona a “inspiração, vem de onde?”

Uma pergunta que é um mistério para a maioria das pessoas, mas que para Bethi parece não precisar ser respondida. Tudo é muito orgânico, fluido. A música sempre esteve presente em sua vida, foi criada numa família de mulheres pianistas e, aos 12 anos, se encontrou no violão e, aos 16, tornou-se professora do instrumento, carreira que segue até hoje.  

Passou por diversos grupos, como Rio Maracatu, Batucantá, As Três Marias, Divino Emaranhado e com suas filhas, Clarice Albano e Rita Albano, criou o Filhas da Mãe. Do grupo com as filhas, trouxe para o Embrulha pra presente, dois baiões com as letras de Suely Mesquista: "Rabo de Foguete" e "Jogo".

Esse é um pequeno retrato dessa artista, integrante do melhor time de compositores populares contemporâneos, violonistas e violeiras do Brasil, que resolveu nesses tempos tão difíceis de pandemia, nos presentear com esse grande disco – com esse convite ao mergulho do autoconhecimento e do universo feminino.  

Encaminhado por: Porangareté

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