Entrevista

Entrevista Exclusiva: 75 anos do Queijinho de Minas do Brasil

por Caio Andrade

quarta, 29 de junho de 2022

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“Não tenho frustrações, absolutamente. Tenho saudade.”

Em 30 de junho de 1947, nascia Martha Vieira Figueiredo Cunha, consagrada como Martinha a partir dos anos 1960 e apelidada carinhosamente por Roberto Carlos como “Queijinho de Minas”.

Tendo como maior sucesso a canção “Eu Daria a Minha Vida”, a cantora, compositora e pianista possui centenas de composições e mais de uma dezena de álbuns lançados, com discografia iniciada em 1967 com “Eu Te Amo Mesmo Assim”, sendo uma das representantes femininas da Jovem Guarda.

Foto de Marcelo Castello Branco

A artista concedeu uma entrevista exclusiva para o IMMuB este mês e nos contou um pouco sobre sua vida pessoal, musical e até se há planos para o futuro. Leia abaixo.


IMMuB: Muita gente conhece a Martinha cantora e compositora, mas e a Martinha do dia-a-dia, como ela está hoje e o que gosta de fazer:

Martinha: Logicamente não poderia jamais ser a mesma Martinha, graças a Deus. Vivi muito, aprendi muito, então é melhor estar bem mais madura. Na minha vida particular tenho netos, tenho meus filhos filhos, gosto muito de estar com eles, nós moramos mamãe e eu, não cuido dela porque não tenho tempo, eu trabalho mesmo [risos], faço show e etc. Nós temos aqui moças muito dedicadas que cuidam dela, ela é uma pessoa muito forte, muito bonita, muito bem resolvida, não é uma senhora velhinha que não tem suas opiniões formadas. É muito fácil conversar com ela, até melhor que comigo.

O que eu gosto: de viver a minha vida, de compor, de cantar em casa também, de fazer meus shows, eu faço aquilo que eu gosto, foi o que eu escolhi pra minha vida, foi a profissão que escolhi pra mim. Antes de me tornar cantora, eu era pianista clássica. Eu sou de Belo Horizonte, estudava no Conservatório Mineiro de Música, então sou guiada pela música. Ainda toco meu piano, é isso que eu gosto de fazer.


IMMuB: Como é sua relação com outros artistas da sua época? Muitos amigos?

Martinha: Nos vemos pouco, mas eu tenho uma aproximação muito bonita com a Wanderléa, a gente se fala muito, conversa muito, ela é uma mulher muito inteligente, muito vivida, e eu gosto demais dela. É um exemplo de mulher - e é da minha época, claro.

Outra que fui muito amiga e tenho muita saudade é a Vanusa. A gente se via muito, ela vinha muito na minha casa, passava dias comigo porque ela também era muito sozinha apesar de ter a família. A gente não tem muito tempo na nossa vida de hoje para estar juntos, mas se conversa, conta coisas.

Sou muito amiga também da Lilian, que fez a dupla Leno e Lilian, uma amiga, uma gracinha, ela é encanto. A gente também se conversa muito, temos muito assunto, ela fez parte da minha vida e ainda faz. Então, é muito gostoso eu ter conseguido até hoje essas pessoas que eu amo profundamente.

Wanderléa e Martinha no show "Minha História", 2019. Foto: Marcelo Castello Branco / Divulgação

IMMuB: Pelos títulos e letras das suas músicas, você se mostrou uma cantora e compositora bastante passional. De onde vinha a inspiração desses relacionamentos nas canções?

Martinha: É, as minhas músicas 90% foram verdadeiras as letras. Eu falava da minha vida, e falo ainda. Já comecei a fazer um monte de música, fiz um pouquinho, um pouquinho mais, mas todas elas traduzindo minha vida particular, que não é mais particular, né? Então é o que eu gosto de escrever: sobre a minha vida, que é muito rica, tenho coisas bonitas pra contar, períodos difíceis, e falo também desses períodos nas minhas músicas. Amo fazer isso, muito. É uma terapia falar da minha vida pra mim. 


IMMuB: Em 1988, você lançou seus 2 últimos álbuns. Há algum motivo específico para esse hiato de mais de 30 anos sem lançamentos? Há algum projeto em mente?

Martinha: Não há, por enquanto não, só se for uma compilação de coisas antigas que eu poderia até regravar. Mas, exatamente isso, um projeto, de coisas novas, isso não, até agora. Mas não sei, de repente aparece alguma coisa, alguma pessoa, um homem de gravadora que possa fazer, mas eu não tenho nada, acho que não faria não.

Capa de um dos últimos álbuns lançados por Martinha, em 1988.


IMMuB: Em que lugar você se enxerga na memória musical brasileira?

Martinha: É um pouco difícil eu te responder isso, meu querido, porque eu acho que fiquei no meu lugar mesmo. Esse lugar veio pra mim como um presente, uma das coisas mais bonitas que eu já vivi na minha vida foi encontrar esse lugar. Cada um de nós tem o seu lugar na vida, né? E eu encontrei esse lugar na memória musical brasileira, consegui chegar nesse momento, nesse lugar, sou muito feliz por isso, batalhei muito, minha mãe também, ela que trabalhava comigo, e consegui graças a Deus. Não tenho frustrações, absolutamente. Tenho saudade.

Consegui mostrar quem era eu, quem sou eu, ainda que muito jovem, e consigo ainda. Sou a mesma pessoa, com uma maturidade muito grande, mas sou a mesma mulher, a mesma pessoa, tenho o mesmo coração, a mesma forma de ser, muito aberta, não gosto de me segurar na vida.


A equipe de pesquisa e comunicação do Instituto da Memória Musical Brasileira agradece imensamente o carinho e a disponibilidade da artista em nos atender.


Feliz aniversário, Martinha. Vida longa!




Caio Andrade é graduando de História da Arte na Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) e Assistente de Pesquisa e Comunicação no Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) desde 2020Grande apaixonado por samba, pesquisa sobre o gênero há mais de uma década, além de tocar em rodas e serestas no Rio de Janeiro.

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