Entrevista

Entrevista Exclusiva: Antonio Adolfo conversa com o IMMuB sobre Chiquinha Gonzaga

por Caio Andrade

segunda, 10 de outubro de 2022

Compartilhar:

“Viva Chiquinha Gonzaga!”

Era com esse título que Antônio Adolfo, um dos grandes nomes da música brasileira e autor de sucessos como “Teletema” e “Sá Marina”, lançava seu primeiro álbum em tributo à grande maestrina Chiquinha Gonzaga. Imponente em sua época e com contribuições na música até os dias de hoje, Chiquinha completa seu aniversário de 175 anos em outubro de 2022.

por André Pinnola

Definida por ele mesmo como uma “pianeira”, termo que faz um jogo de palavras para descrever os pioneiros do piano (mas que nas origens possuía um sentido pejorativo), Antônio lançou 2 álbuns em homenagem a ela e nos contou um pouco sobre suas incursões musicais no piano brasileiro, como foi explorar a obra dela e de nomes como Ernesto Nazareth, e também lançar trabalhos ao lado de outros pianistas renomados. Confira:


IMMuB: Você possui dois álbuns-tributo à Chiquinha Gonzaga, um lançado em 1985 e outro em 1997. De onde surgiu a vontade de produzir esses álbuns e o que mudou no intervalo entre um e outro?

Antonio Adolfo: Inspirado nessa incursão pelo mundo musical do grande Ernesto Nazareth, eu resolvi pesquisar o repertório da Chiquinha Gonzaga. Foi meio difícil no início devido a certas barreiras, mas eu consegui através do Paulo Tapajós, que foi da Rádio Nacional e conheceu inclusive a Chiquinha, várias partituras dela, mais de 30, e dali eu escolhi umas dez músicas se não me engano e fui trabalhando em cima delas. Em cada uma eu convidei um grande músico para participar, como Paulo Moura, Sivuca, Raphael Rabello, Dino 7 Cordas, teve o grupo Nó em Pingo D'água, teve o Ubirajara do Bandoneon, e convidei também os cantores Vital Lima e Nilson Chaves que são paraenses. Gravei no estúdio do Arthur Verocai, Estúdio V, e ficou o disco "Viva Chiquinha Gonzaga". Nele eu gravei com piano e usei teclado em alguns efeitos.
Depois, eu fui chamado pra fazer alguns shows só que não poderia contar com esse time todo completo. Então, resolvi chamar um trio com o Mamão na bateria e o Sérgio Barroso no contrabaixo pra fazer um show em homenagem à Chiquinha Gonzaga em São Paulo. Se não me engano, foi o SESC Pinheiros, isso no final dos anos 1980 mais ou menos. Com esse show, eu tive a experiência de fazer um trio que me lembrava muito os trios da época do Beco das Garrafas, bateria, baixo e piano, então foi a inspiração para o disco "Chiquinha com Jazz", porque ficou um disco com mais influência do jazz do Beco das Garrafas e foi lançado esse trabalho no Sesc Centenário em outubro de 1997.


IMMuB: Chama atenção essas duas homenagens à maestrina terem sido lançadas pelo seu selo independente, o Artezanal. Foi uma escolha proposital de sua parte ou foram as grandes gravadoras multinacionais que não abraçaram tais projetos?

Antonio Adolfo: Desde 1977, quando eu lancei o "Feito em Casa", eu venho lançando meus discos sempre de forma autoproduzida, "independente" como falam normalmente. As gravadoras não se interessaram uma vez aí eu vi que era possível lançar de forma independente. Depois vi que os discos tinham retorno também, senão não seria louco de fazer outros. Fiz vários: o "Encontro Musical", o "Viralata", "Continuidade" e depois também "Os Pianeiros". E assim fui seguindo a carreira até hoje, fazendo meus discos de forma independente, e acho até melhor porque tenho total controle sobre o que vende, direitos autorais, gravo o que tenho vontade, essa liberdade não tem preço, né?


IMMuB: Você possui outro trabalho ao lado de pianistas como Aloysio de Alencar Pinto e Carolina Cardoso de Menezes. Como foi o encontro de gerações com esses dois "pianeiros"?

Antonio Adolfo: Sim. Aquele trabalho eu fui convidado pelo pesquisador Jairo Severiano que estava com a ideia de fazer um projeto na FEBRABAN, lá em Brasília, para lançar um disco com "pianeiros". E ele se lembrou talvez do meu disco "Os Pianeiros" e reuniu eu, a grande Carolina Cardoso de Menezes e o grande Aloysio de Alencar Pinto. E fizemos o disco com os pianeiros, às vezes nem compositores tão conhecidos, mas pianeiros daquela época, dos anos 1910, 1920, ele tinha todo esse acesso, partituras, tudo. O Jairo sempre foi um grande pesquisador.
O disco foi gravado assim, cada um pegou uma tarde pra gravar, e assim foi quando tive o enorme prazer de conhecer a Carolina, que eu não conhecia, genial, assim como o Aloysio, que era um também um grande pesquisador de Ernesto Nazareth.


IMMuB: Como você definiria a obra de Chiquinha Gonzaga para quem não a conhece? Em que lugar da memória musical brasileira ela se encontra?

Antonio Adolfo: Eu defino a obra de Chiquinha Gonzaga como uma grande pianeira também, uma grande maestrina, e ela também compunha músicas para as operetas todas daquela época, foi uma mulher de uma força incrível, independente. Foi realmente, além de grande musicista, uma figura feminina de importância incrível. A vida dela é um exemplo de independência e tenho uma admiração muito grande por Chiquinha Gonzaga. 


O Instituto agradece profundamente ao artista pela disponibilidade e também a Moisés Santana, jornalista e assessor de Antonio Adolfo, quem gentilmente nos atendeu sempre que foi preciso.
Terminamos esse bate-papo da maneira que começamos, dizendo: Viva Chiquinha Gonzaga!


Caio Andrade é graduando de História da Arte na Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) e Assistente de Pesquisa e Comunicação no Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) desde 2020. Grande apaixonado por samba, pesquisa sobre o gênero há mais de uma década, além de tocar em rodas e serestas no Rio de Janeiro.

Comentários

Divulgue seu lançamento